Mercado

Mulheres esperam mais de um ano por recolocação profissional no DF

Tempo médio de uma mulher na busca por trabalho caiu de 2020 para 2021, mas ainda é superior a 12 meses. Homens esperam 49 semanas, enquanto elas chegam a aguardar 55 semanas por uma oportunidade

Ana Isabel Mansur
postado em 08/03/2022 06:00 / atualizado em 08/03/2022 08:24
 (crédito: Ana Isabel Mansur/CB)
(crédito: Ana Isabel Mansur/CB)

As mulheres desempregadas do Distrito Federal esperam mais de um ano por uma nova oportunidade no mercado de trabalho. O tempo de procura por um emprego no DF caiu, tanto para elas quanto para eles, na comparação entre 2020 e 2021 — mas a queda entre o público feminino foi menor. Estatísticas fechadas no segundo semestre de 2020 mostram que elas procuraram ocupação por 58 semanas. Já os números de 2021 apontam que a busca durou 55 semanas. Enquanto isso, os homens buscaram vagas por 51 semanas em 2020 e por 49 em 2021.

Sidneia Jesus, 25 anos, é uma das mulheres que aguarda há mais de um ano por uma nova oportunidade de trabalho. Antes de ficar desocupada, ela atuava como costureira, mas não consegue arranjar um emprego desde 2020. Moradora de Sobradinho, com os dois filhos, um menino de 6 anos e uma menina de 9 meses, e uma sobrinha, de 14 anos, Sidneia é a única responsável financeira da residência e tem sustentado a família com R$ 400 mensais, que recebe de programas sociais do governo. "Quero qualquer emprego, em qualquer área. Tem sido muito difícil", desabafa.

Os números da conjuntura profissional feminina na capital federal são fruto do Boletim da Mulher no Mercado de Trabalho, divulgado ontem. O documento foi produzido em conjunto pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A apresentação virtual foi aberta pela secretária da Mulher do DF, Ericka Filippelli. Para a gestora, as pesquisas são importantes para a elaboração de políticas públicas, porque são baseadas em evidências. "A autonomia econômica das mulheres é o nosso grande desafio. Por mais que tenhamos conquistado maior participação no mercado de trabalho, ainda temos muitos desafios a serem superados, como a inserção feminina no mercado formal de trabalho e a maior participação de mulheres em espaços de decisão nesse mercado", defendeu a secretária.

Remuneração

Mesmo para as mulheres que conseguiram se recolocar no mercado de trabalho, as condições atuais são desfavoráveis no DF. O rendimento delas caiu em 2021 na comparação com 2020. No ano retrasado, a força feminina recebia mensalmente, em média, R$ 3.783, contra R$ 3.264 no ano seguinte, queda de 13,7%. Os ganhos delas por hora também diminuíram, passando de R$ 23,26 para R$ 19,55 — decréscimo de 16%.

Ironicamente, as mulheres do DF trabalharam uma hora a mais em 2021 do que em 2020: 39 horas semanais, contra 38, no ano retrasado. No mesmo período, os homens da capital federal mantiveram a jornada semanal de 41 horas. A comparação de gênero mostra que a força de trabalho masculina teve diminuição nos ganhos nos dois anos, tanto no valor-hora quanto no rendimento mensal. A queda, porém, foi menor do que a observada entre as mulheres do DF. Em 2021, eles receberam R$ 4,3 mil por mês, contra R$ 4.604 em 2020, diminuição de 6,6%. Há dois anos, o rendimento médio por hora deles era de R$ 26,24, valor que também caiu 6,6% e foi para R$ 24,5.

No segundo semestre do ano passado, as mulheres do DF receberam 79,8% do valor que os homens ganharam por hora da capital do país. Essa taxa era de 82,2% no primeiro semestre de 2021. O número está em queda desde os seis primeiros meses de 2020, e o último resultado é maior do que o observado no primeiro semestre de 2019 (79,2%) e no segundo semestre de 2018 (76,2%).

Desemprego

A quantidade de mulheres economicamente ativas (acima de 14 anos) no DF cresceu 4% entre o segundo semestre de 2020 e o de 2021. O desemprego entre elas caiu 3,1% e o número de mulheres ocupadas subiu 5,9%, no mesmo período. Lucia Garcia, economista do Dieese, destacou o comportamento dos dados e apontou que, embora positivos, os resultados não devem, necessariamente, ser comemorados. "Isso mostra que as mulheres estão ampliando a presença no trabalho autônomo, o que aumenta a quantidade de mulheres na informalidade. Elas estão retomando ao mercado de trabalho, porém em situação de insegurança. Isso emite sinais de alerta", explicou a especialista.

O desemprego entre mulheres do DF passou de 20,7% para 19,4% do segundo semestre de 2020 para os últimos seis meses do ano passado. A taxa masculina caiu de 15,9% para 14,5%. A participação feminina no mercado de trabalho da capital federal subiu de 56,7%, no último semestre de 2020, para 58,8%, em 2021. O índice dos homens cresceu de 71,7% para 73,2%. Segundo Lucia Garcia, o desemprego acompanha o caminho das mulheres na trajetória profissional, principalmente por acumularem as funções domésticas, que recaem sobre elas de maneira desproporcional. "As regularidades estatísticas nos dizem que a participação das mulheres na esfera econômica, é, em geral, diminuída, porque elas executam funções não remuneradas, que ocupam a maior parte do tempo, diminuindo a presença delas no mercado assalariado, tão valorizado na nossa sociedade", pontuou a economista.

Denise Jesus tem 37 anos, mora no Cruzeiro, e está desempregada desde o mês passado, quando foi desligada de uma empresa seguradora, onde trabalhava como atendente. O contrato era por tempo indeterminado. Ela não tem filhos e mora com a mãe e a tia. A mãe também está sem emprego e a tia é aposentada. "Eles mandaram embora muitas pessoas", contou à reportagem na saída da Agência do Trabalhador da Asa Norte. "Vim hoje (ontem) para tirar uma dúvida sobre o seguro-desemprego e ver se tinha alguma vaga", relatou.

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  • Denise Jesus, 37 anos, mora no Cruzeiro, e está desempregada desde o mês passado, quando foi desligada de uma empresa onde trabalhava como atendente. O contrato era indeterminado. Ela não tem filhos e mora com a mãe e a tia. A mãe também está sem emprego e a tia é aposentada.
    Denise Jesus, 37 anos, mora no Cruzeiro, e está desempregada desde o mês passado, quando foi desligada de uma empresa onde trabalhava como atendente. O contrato era indeterminado. Ela não tem filhos e mora com a mãe e a tia. A mãe também está sem emprego e a tia é aposentada. Foto: Ana Isabel Mansur/CB
  • Agência do Trabalhador do Plano Piloto, na Asa Norte. Trabalho. Emprego. Ocupação. Oportunidade. Desemprego
    Agência do Trabalhador do Plano Piloto, na Asa Norte. Trabalho. Emprego. Ocupação. Oportunidade. Desemprego Foto: Ana Isabel Mansur/CB
  • Agência do Trabalhador do Plano Piloto, na Asa Norte. Trabalho. Emprego. Ocupação. Oportunidade. Desemprego
    Agência do Trabalhador do Plano Piloto, na Asa Norte. Trabalho. Emprego. Ocupação. Oportunidade. Desemprego Foto: Ana Isabel Mansur/CB
  • Sidneia Jesus, 25 anos, é uma das mulheres que aguarda há mais de um ano por uma nova oportunidade. Antes de ficar desocupada, ela atuava como costureira, mas não consegue arranjar um emprego desde 2020. A mulher mora em Sobradinho, com os dois filhos, um menino de 6 anos e uma menina de 9 meses, e uma sobrinha, de 14 anos. Sidneia é a única responsável financeira da residência e tem sustentado a família com R$ 400 reais mensais, que recebe de programas sociais do governo
    Sidneia Jesus, 25 anos, é uma das mulheres que aguarda há mais de um ano por uma nova oportunidade. Antes de ficar desocupada, ela atuava como costureira, mas não consegue arranjar um emprego desde 2020. A mulher mora em Sobradinho, com os dois filhos, um menino de 6 anos e uma menina de 9 meses, e uma sobrinha, de 14 anos. Sidneia é a única responsável financeira da residência e tem sustentado a família com R$ 400 reais mensais, que recebe de programas sociais do governo Foto: Ana Isabel Mansur/CB
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    pri-0803-trabalho1 Foto: pri-0803-trabalho1
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