DEMOLIÇÕES

Derrubadas no Setor Cana do Reino, em Taguatinga, geram conflito com moradores

Equipes do governo iniciaram a demolição das casas enquanto moradores asseguravam que o terreno era particular

Arthur Ribeiro*
postado em 23/03/2022 14:17 / atualizado em 26/04/2022 18:01
Moradores defendem que a terra é particular e não foi invadida -  (crédito: Arthur Ribeiro)
Moradores defendem que a terra é particular e não foi invadida - (crédito: Arthur Ribeiro)

Equipes da Secretaria de Proteção à Ordem Urbanística (DF Legal), acompanhadas de policiais militares e tratores, demoliram áreas e lotes do condomínio JK Ville — onde moram cerca de 300 famílias —, na área conhecida como Cana do Reino, perto de Vicente Pires e ao lado da BR-001. As famílias moradoras do local, na tentativa de impedir a entrada dos agentes, incendiaram pneus e paus na via e o trânsito foi interditado.

Os residentes da área afirmam que a propriedade é privada e foi comprada, não invadida. No local, os advogados defendiam que os agentes de demolição começaram a derrubada sem apresentar documentos legais para tanto. Por sua vez, o DF Legal informou que está cumprindo uma decisão judicial do juiz Carlos Frederico Maroja de Medeiros, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, que, segundo a nota do órgão, visa combater ocupações irregulares na região.

Raul Júnior, 43, presidente da associação dos moradores do local e que também mora na área, conta que os residentes fizeram tudo de boa fé e não são invasores. “Nós compramos um sonho e estamos vivendo essa realidade. Brasília inteira teve partilhamento ilegal de solo e foi nisso que nós caímos. Isso não é terra pública, é particular, nós compramos. Semana passada já derrubaram sete casas aqui, tudo sem apresentar documentos”, compartilha.

Além disso, Raúl também critica a abordagem policial, que tirou crianças na base da força, usou bombas de efeito moral e gás de pimenta. Para dispersar as pessoas e abrir espaço para a chegada dos tratores, os agentes fizeram uso das ferramentas e assustaram os moradores, que eram vistos chorando e em desespero.

A DF Legal informou em comunicado que a ação na região se dá pelo local ser objeto de grileiros e, nas palavras do juiz de direito que emitiu a decisão judicial, com “a gravíssima denúncia de formação de milícias, uma das formas mais socialmente daninhas de crime organizado”. Segundo levantamento prévio do parcelamento ilegal, a previsão de lucros dos grileiros com a venda dos lotes irregulares é de R$ 62 milhões.

A advogada Lívia Carolina Soares Dias de Medeiros, uma das representantes dos moradores, defendeu os residentes e adicionou outra crítica aos policiais. “Aqui não tem bandido, são só famílias que querem exercer seu direito de moradia. Eles (policiais) chegam violentos e truculentos, mesmo sem apresentar nenhum documento”, diz.

A primeira ação, realizada na semana passada, resultou em sete casas demolidas. Ainda assim, a DF Legal informa que não tem o número exato de edificações que foram removidas, uma vez que a operação ainda está em curso.

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