Pandemia

Médicos avaliam uso de máscaras: 'Faça gestão individual de risco'

A partir desta sexta-feira (11/3) a proteção facial não é mais obrigatória em locais abertos ou fechados do Distrito Federal

A partir desta sexta-feira (11/3), o uso de máscaras de proteção contra covid-19 não será mais obrigatório no Distrito Federal, de acordo com decisão do governador Ibaneis Rocha. Mas, será que é o momento certo para a flexibilização? Sobre isso, as opiniões divergem. O Correio ouviu especialistas da área da saúde e, em pelo menos um ponto, eles concordam: cada pessoa deve avaliar situações de risco e ter consciência de quando é necessário usar o equipamento de proteção.

De acordo com a infectologista Ana Helena Germoglio, para deixar de usar a máscara é necessária uma avaliação contínua do percentual de imunização, ou seja, de quantas pessoas estão tomando as doses de vacina disponíveis para cada faixa etária. “Retirar a máscara em todos os ambientes é algo que é desejado por todos, mas, para que isso aconteça com segurança, é importante avaliação contínua do percentual de imunização em adultos e crianças e, além disso, quantidade diária de casos novos, de hospitalização e quantidade de leitos disponíveis”, ressaltou a médica.

Para ela, ainda existem pontos que precisam de atenção quando o assunto são os números atrelados à covid-19 no DF. “Ainda existem dados a serem melhorados, principalmente a vacinação infantil e dose de reforço em adultos”, avaliou a Dra. Ana Helena. Por isso, mesmo com o novo decreto, cada pessoa deve avaliar a própria segurança. “A máscara é um EPI (Equipamento de Proteção Individual), então cada um deve avaliar a situação a que se expõe e utilizar conforme seu risco, independente de liberação política”, pontuou. “A recomendação é, principalmente para pessoas dos grupos de risco: faça gestão individual de risco”, concluiu.

Consciência

Mesmo que não seja mais obrigatório, é necessário que a população tenha consciência. O médico infectologista Leandro Machado aconselha que pessoas com sinais de possível infecção por covid-19 ou aquelas que, mesmo sem sintomas, estiverem em locais fechados e com grande aglomeração, optem por continuar utilizando a máscara. “Se você está em alguma situação que se sente inseguro, fique livre para usar a máscara. O termômetro é esse: você mesmo avalia se é um local ou situação que pode te oferecer um risco”, orientou.

O governador Ibaneis também falou sobre essa ser uma decisão individual. Ele deixa claro que, quem quiser, pode continuar usando a máscara. “É importante ressaltar que quem quiser continuar usando a máscara pode continuar. Não é obrigatória retirada da máscara, mas, sim, deixa de ser obrigatória a utilização. Chegou a hora de tentarmos voltar a ter uma vida normal. Continuem se prevenindo e não deixem de se vacinar!”, afirmou, por meio do Twitter.

“As pessoas não serão julgadas por estarem usando máscara, mesmo que não seja mais obrigatório. A liberdade para não usar, é a mesma para usar”, assegurou o Dr. Leandro. Mesmo assim, alguns locais com alto risco de contaminação continuarão exigindo a utilização da proteção facial. “Por exemplo clínicas e hospitais. A própria Secretaria de Saúde falou que nesses locais o uso da máscara ainda será necessário e acredito que as pessoas vão entender a necessidade de uso nesses ambientes”, opinou o médico.

Esse é o caso da Universidade de Brasília (UnB) e do Aeroporto Internacional de Brasília, que já anunciaram a continuidade da obrigação. Nas salas de embarque do aeroporto e nas dependências da UnB, as pessoas ainda precisam utilizar máscara para permanecerem nesses locais.

É o momento?

Na visão do infectologista Leandro Machado, a decisão do GDF faz sentido, uma vez que a maior parte da população brasiliense está vacinada. “Hoje, nós temos mais de 90% de Brasília com a primeira dose e cerca de 80% com a segunda. São números importantes. Além disso, temos uma variante em circulação que é menos grave”, constatou. “Não está tendo sobrecarga de UTI e pronto socorro e, querendo ou não, as pessoas acabaram se cansando da máscara”, disse o médico.

“Acaba que as pessoas já não se sentiam obrigadas a usar a máscara. Quem se sente confortável com ela vai continuar usando e quem não quer, vai parar de usar. O que precisa é de conscientização”, opinou o infectologista. Para ele, o equipamento vai estar sempre presente na vida da população de agora em diante. “Vai ser igual uma carteira, vamos ficar com ela no bolso e usar quando estivermos em alguma situação que ela seja necessária”, pontuou.

Riscos

Leandro avalia que deixar de utilizar a máscara não deve impactar diretamente o sistema de saúde, mas podem surgir novas variantes. “A não obrigatoriedade do uso de máscara não vai fazer com que os hospitais fiquem mais lotados, que tenham mais internações. O que pode acontecer é ter uma nova variante. Quanto mais pessoas infectadas com o vírus, maior a chance de ter uma nova mutação e que seja mais infecciosa. Esse é o risco”, garantiu.

“Até porque a maioria da população usa máscara de pano e elas não são totalmente eficazes. Elas são lavadas com frequência e isso faz com que os poros do tecido se abram e, assim, diminui a eficácia. Nós temos a falsa sensação de que com a máscara de pano nós estamos bem protegidos e não estamos”, revelou o especialista.

Para ele, antes de existir a vacina ou até o início da campanha de imunização, o uso da máscara, mesmo que a de pano, era indispensável, mas agora a realidade é outra. “Até o início da vacinação, quando não tínhamos muitas pessoas imunizadas com a segunda dose da vacina, fazia sentido a obrigatoriedade da máscara. Ainda não tínhamos resistência e anticorpos suficientes para lutar contra o vírus. Agora que a maioria já está imunizada, o cenário é outro”, alegou o médico. “Em um cenário em que as pessoas estão vacinadas e o vírus é menos infeccioso, faz sentido que o momento de deixar a máscara um pouco mais de lado tenha chegado”, finalizou.

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