ESCOLA EM CASA DF

Professores do DF são orientados a apagar todos os dados de aulas remotas

E-mail enviado pela Secretaria de Educação aos servidores da pasta recomendava que professores excluíssem todos os registros referentes às aulas on-line na pandemia, devido a mudanças em plataforma da Google. Empresa nega que essa seja a orientação adequada

Cristiane Noberto
postado em 08/04/2022 06:00
Pandemia levou estudantes de 686 colégios do Distrito Federal a assistir aulas pela internet -  (crédito: Álvaro Henrique/SEEDF)
Pandemia levou estudantes de 686 colégios do Distrito Federal a assistir aulas pela internet - (crédito: Álvaro Henrique/SEEDF)

Professores e servidores de escolas públicas acusam a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) de autorizar a exclusão de dados relacionados às aulas virtuais ministradas do início a pandemia até o próximo dia 17 de abril. Em relatos ao Correio, eles afirmam que a ordem estaria relacionada a uma determinação da Google que trata de mudanças na forma de armazenamento de dados no sistema da empresa. Contudo, a pasta não teria indicado aos funcionários onde poderiam salvar os arquivos nem o que seria, de fato, excluído.

Por e-mail, enviado em 17 de março, os servidores receberam a informação de que registros com mais de 5GB armazenados no Google Workspace for Education Fundamentals seriam automaticamente bloqueados e excluídos. A plataforma foi escolhida para o Programa Escola em Casa DF, por meio da qual os estudantes da rede pública acompanharam os conteúdos das aulas no período de ensino remoto.

A mensagem da Diretoria de Operações em Tecnologia da Informação e Comunicação (Ditic) afirmava que a medida era necessária devido a mudanças nas diretrizes da plataforma. O texto dava a entender que a exclusão dos dados ocorreria automaticamente, em 30 dias. Confira o conteúdo da mensagem na íntegra:

"Prezados,

Como é de seu conhecimento, atualmente, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal - SEEDF utiliza e-mails com extensão @edu e @estudante para fins educacionais/pedagógicos.

Tais recursos estão no âmbito do Google Workspace for Education Fundamentals, plataforma escolhida para o funcionamento do Programa Escola em Casa DF.

Recentemente a empresa Google anunciou mudanças nas funcionalidades da citada plataforma. Por exemplo, a redução do espaço de armazenamento de documentos.

Diante do exposto, solicitamos que, até o dia 17 de abril, cada usuário(a) remova arquivos da sua caixa de e-mails/Google Drive ao ponto de deixar o armazenamento no limite máximo de 4GB (quatro gigabytes).

As contas de e-mail que excederem o limite de 5GB (cinco gigabyte) serão automaticamente bloqueadas e posteriormente removidas.

Atenciosamente,
Diretoria de Operações em Tecnologia da Informação e Comunicação - DITIC"

Informações sensíveis

Um professor — que pediu para ter a identidade preservada — disse que ficou preocupado com o comunicado. "Nesses e-mails, ficaram armazenadas todas as nossas produções na pandemia. Dezenas e mais dezenas de horas de atividades, vídeos, aulas e tudo o mais. Perceba que não se fala em back-up, registro, download para arquivo, nada. Só mandaram remover", reclamou.

Outro ponto destacado pelo servidor público tem relação com dados sensíveis e passíveis de cobrança por órgãos de controle, como registros que comprovam as aulas ministradas virtualmente, vídeos feitos pelos professores para a tevê e diários de classe em formato Excel, devido à falta de uma ferramenta on-line para cadastro das informações do dia a dia dos estudantes.

Outro docente que topou dar entrevista sob condição de anonimato afirmou que as informações são de "relevância histórica, pedagógica e jurídica" e que não houve "qualquer orientação sobre o que fazer com os dados". 

Recomendações

A SEDF informou que o anúncio da mudança no armazenamento do Google motivou o alerta aos funcionários e que a pasta se deparou com "três grandes desafios: atender à determinação, avaliar a real necessidade de espaço virtual para fins pedagógicos e implementar as melhores soluções". A secretaria ressaltou que a mensagem se tratava de uma "recomendação", para que os servidores "buscassem diminuir os dados nos endereços virtuais para não haver bloqueio (das contas)".

Além disso, orientou que cada usuário organizasse e revisse os próprios arquivos, para buscar a melhor forma de armazenamento, "com prioridade para os aspectos pedagógico e didático". A pasta confirmou que o prazo para a "adequação" é 17 de abril. Leia a nota da secretaria:

"A empresa Google anunciou, em nível mundial, que irá limitar o armazenamento no Google Workspace for Education Fundamentals, plataforma por meio da qual funciona o Programa Escola em Casa DF, implementado no período da pandemia. Diante disso, a Secretaria de Educação tem três grandes desafios: atender à determinação, avaliar a real necessidade de espaço virtual para fins pedagógicos e implementar as melhores soluções.

De acordo com a decisão da Google, as contas que excederem o limite de 5GB serão bloqueadas para envio, recebimento de mensagens e arquivamento de novos materiais. O prazo para esta adequação vai até 17 de abril.

A Secretaria de Educação orienta aos usuários que utilizam e-mails com extensão @edu e @estudante que mantenham, no máximo, 4GB, limite que soma caixa de e-mail e arquivos armazenados no drive. Essa diferença a menor do que o definido pela Google é uma margem de segurança, para evitar que se atinja o nível para bloqueio.

A recomendação da Secretaria é no sentido de que cada usuário organize e reveja seus arquivos para buscar a melhor forma de armazenamento, de acordo com sua realidade, com prioridade para os aspectos pedagógico e didático. Além disso, recomenda-se que sejam removidos do drive, especialmente, os arquivos pessoais, os duplicados e aqueles que já estão salvos por outros meios.

Esta medida inicial é para atender à determinação da Google. Feito isto, a Secretaria de Educação irá avaliar a real necessidade de armazenamento para definir as próximas ações. Mas, primeiro, é essencial que cada usuário contribua por meio da organização de suas caixas de e-mail e drivers.

A plataforma foi disponibilizada gratuitamente pela empresa em caráter ilimitado, para fins pedagógicos, em diversos países, durante o período crítico da pandemia. No Distrito Federal, passou a ser usada em abril de 2020. Foram cadastrados 525.834 estudantes e 40.968 servidores."

Divergência

Consultada pela reportagem, a Google negou que o prazo máximo para a adequação seja 17 de abril. Em nota enviada ao Correio, a empresa respondeu que a mudança de política ocorre a partir de julho. "Os arquivos não serão perdidos, apenas não será possível adicionar novos", destacou a companhia de tecnologia. O texto destaca que a medida afetará apenas contas que atingiram os 5GB de espaço disponíveis.

A empresa também negou ter orientado os responsáveis pelos e-mails a apagar dados. "Exclusão de arquivos de usuários inativos, transferência de arquivos pessoais para contas particulares, limpeza periódica de arquivos que não serão usados, exclusão de duplicidades, avaliação dos arquivos muito grandes e acompanhamento de usuários com intenso uso de espaço são práticas que recomendamos para os administradores de TI (tecnologia da informação) fazerem de forma regular, para otimizar o espaço. É uma 'limpeza de guarda-roupa', em que o usuário só mantém o que realmente é importante e útil", finalizou a Google.

 

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