JUSTIÇA /

Mãe que matou filho com insulina é condenada a mais de 32 anos; pai é inocente

Luana Afonso do Nascimento, 29 anos, foi condenada por injetar insulina nos filhos propositalmente e causar o óbito de um deles. Ela afirmava que as crianças eram doentes e pedia doações para suposto tratamento

Darcianne Diogo
postado em 07/04/2022 22:08
Nas redes sociais, ela promovia campanhas pedindo dinheiro  -  (crédito: Correio Braziliense)
Nas redes sociais, ela promovia campanhas pedindo dinheiro - (crédito: Correio Braziliense)

Cinco anos depois da descoberta de um caso que horrorizou e comoveu os brasilienses, Luana Afonso do Nascimento, 29 anos, foi condenada pelo Tribunal do Júri a mais de 32 anos de prisão por matar um dos filhos, e atentar contra a vida de outros dois, administrando doses de insulina nas crianças sem prescrição médica. O julgamento no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) começou na manhã de terça-feira e teve um desfecho na quarta-feira. O pai das crianças, Ronildo Eugênio Dias, foi absolvido de todas as acusações e inocentado.

A descoberta do crime ocorreu em junho de 2017, depois que o filho mais novo do casal, com apenas dois meses, deu entrada no Hospital Universitário de Brasília (HUB) com suspeita de hiperinsulinismo congênito — uma disfunção no pâncreas, quando o órgão produz muita insulina, depois de uma convulsão. Na unidade, os pais relataram que outros três filhos — incluindo dois que morreram — tinham a doença, o que levantou a suspeita dos médicos.

Os profissionais de saúde conseguiram reverter o quadro do recém-nascido, mas acionaram a Polícia Civil do Distrito Federal para investigar o caso, porque o resultado dos exames demonstrou incoerências com as informações prestadas pelos pais. Em 19 de julho, câmeras do hospital flagraram a mãe injetando insulina no bebê. Nas imagens, Luana segura o filho no colo e parece aplicar a substância. Na época, o Conselho Tutelar foi acionado e os pais não puderam mais ter acesso à criança.

Vítima

Embora dois filhos de Luana tenham morrido, o processo constatou a morte de uma das crianças pelo uso da insulina, que tem função de reduzir os índice de açúcar no organismo e é administrado no tratamento de casos de diabetes. Como consta na sentença, entre 27 de outubro de 2014 e 11 de novembro de 2015, Luana, "assumindo o risco de matar", submeteu o filho à "administração exógena", e sem prescrição médica, ocasionando um hiperinsulinismo factício, o que levou à vítima a diversas internações e ao óbito. Constatou-se, ainda, que quatro dos seis filhos apresentaram a mesma doença, incluindo uma outra menina, que também morreu.

Além do bebê de dois meses salvo pelas equipes médicas, uma menina, que também recebia as doses, entre 2011 e 2017, foi resgatada. A garota chegou a ser internada e foi afastada dos pais por meio da decisão do Conselho Tutelar. Na denúncia oferecida pelo Ministério Público (MPDFT), consta que o crime foi praticado mediante emprego de meio cruel e por motivo torpe.

Pedidos na internet

Luana promovia campanhas sociais visando a arrecadação de dinheiro para o tratamento da suposta doença que afetava às crianças. Na imprensa e nas redes sociais, ela pedia doações. Em uma das falas, Luana disse: "Sem esse remédio, minha filha pode morrer a qualquer momento. Estou desesperada."

Na época, ela sustentava que as filhos tiveram o tratamento de saúde interrompido por falta de medicamentos cujo fornecimento seria de responsabilidade do Estado e chegou a entrar com uma ação contra o governo.

Absolvido

O pai das crianças, Ronildo, acusado à época, chegou a ficar preso em uma cela especial da Papuda. No julgamento, os advogados de defesa que o representaram, Aldriano Azevedo, Beatriz Xavier da Costa, Carlos Roberto Alves Borges, Jhoyce Hayne Oliveira e Thiago Rodrigues Braga conseguiram provar a inocência do réu.

"A defesa entendeu que Ronildo não participou do crime do qual foi promovido com o pedido da própria acusação do promotor, que ele não participou. Além disso, ele cumpriu três anos de prisão sofrendo represália, humilhações de outros presos. Caso ele fosse condenado, iria pegar mais de 50 anos de cadeia", declararam os advogados.

Ronildo acabou perdendo a guarda dos filhos e o convívio com eles. Agora, após a absolvição, os advogados informaram que pretende lutar pela guarda da família. Quanto à Luana, ela foi representada pela Defensoria Pública no julgamento e condenada a 32 anos e oito meses de reclusão, inicialmente, em regime fechado.

 


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação