Economia

Emprego: quase um terço da população do DF trabalha na informalidade

Apesar da queda das taxas trimestrais de desemprego nos últimos anos, números mostram que quase um terço da população do DF trabalha sem vínculo empregatício atualmente. Pandemia agravou situação de trabalhadores nessa condição

Arthur de Souza
postado em 17/05/2022 05:53 / atualizado em 17/05/2022 05:54
Andrea Gallo adotou trabalho de cuidadora de pets como função principal -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Andrea Gallo adotou trabalho de cuidadora de pets como função principal - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Em meio à escalada de preços no país e à crise gerada pela pandemia da covid-19, milhares de brasilienses não têm alternativa senão recorrer à informalidade para garantir o sustento. Apesar de o Distrito Federal se encontrar na 12ª colocação do país em relação à taxa de desemprego no primeiro trimestre, quase um terço dos moradores da capital do país com mais de 14 anos trabalham de maneira autônoma (leia Definição). 

O resultado de janeiro a março deste ano subiu 1,2% em relação ao mesmo período de 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). Professor de economia do Centro Universitário de Brasília (Ceub), Max Bianchi observa que as necessárias medidas de combate à pandemia levaram ao controle dos casos e, ao mesmo tempo, na redução de vagas em empresas. "Diversos trabalhadores ficaram desempregados e, com a dificuldade de recolocação profissional, essas pessoas precisaram recorrer às atividades informais para se sustentar", afirma.

O economista Riezo Silva considera que a disparada da inflação, cria entraves ao crescimento da economia e para a população em geral, que encontra dificuldades para manter a renda para cobrir despesas básicas. "O impacto desse cenário é a queda da renda real e o crescimento do número de trabalhadores informais. Enquanto o mercado aposta em preços mais caros, juros mais altos e na queda da produção interna bruta, o emprego sem vínculo bate recordes", avalia.

Dados sobre desemprego e informalidade no Distrito Federal
Dados sobre desemprego e informalidade no Distrito Federal (foto: Editoria de Arte/CB)

Moradora de Águas Claras, Andrea Gallo, 26 anos, vive isso no dia a dia. Há quatro anos, ela entrou no ramo de petsitter — cuidadora de animais domésticos —, mas, na pandemia, o que era uma atividade esporádica se tornou principal fonte de renda. "Por não conseguir encontrar emprego desde que se iniciou a crise sanitária, acabei me apegando a esse trabalho. Eu era voluntária havia 12 anos, então, tinha muita facilidade para lidar com bichos", conta.

O trabalho ainda não tem sido suficiente para arcar com as contas, mas a jovem espera se estabilizar nos próximos meses. "Tenho investido em divulgação e cursos para aumentar minha clientela. Também tenho alguém que me ajuda com o marketing on-line e cuida das minhas redes sociais. Para depois, planejo focar em mídias off-line, com panfletos, por exemplo." Andrea acrescenta que, apesar das vantagens — como ser a própria chefe, gerenciar os horários de si mesma e controlar os negócios da maneira que preferir —, a atividade informal não garante amparo em momentos de fragilidade. "Sofro de depressão grave e transtorno de ansiedade generalizada há oito anos. E, quando adoeço, não posso parar, porque, se paro, não recebo e corro o risco de perder meus clientes", lamenta.

Realidade

Esteticista facial e corporal, Juliane Martins, 34, tem experiência na informalidade. Em 2012, ela decidiu trabalhar como autônoma, para garantir que receberia os ganhos integralmente. "Com carteira assinada, o valor é baixo. Apesar de ser fixo, os benefícios não eram grandes. Além disso, posso fazer meus horários e não ter os valores das sessões descontados", compara a moradora do Riacho Fundo 1.

Como outros profissionais que atuam de maneira autônoma, Juliane sofreu os efeitos da pandemia. Até hoje, ela lida com os prejuízos da crise sanitária, pois trabalhava com atendimentos em domicílio. "Antes, eu tinha 30 clientes fixos. Hoje, são seis, no máximo. O dinheiro que ganho não sobra no fim do mês, mas dá para pagar as contas", diz a esteticista, que não pensa em trabalhar de outra maneira e tem investido em especializações. 

Para o economista Riezo Silva, a manutenção do número de pessoas na informalidade em patamares como os atuais revela um mercado mais precário e com menos direitos para os trabalhadores. Apesar disso, ele dá dicas para quem pretende se manter como autônomo: "É preciso criar oportunidades, oferecer serviços, buscar se especializar cada vez mais e não aguardar pela procura dos serviços ou produtos, mas ir atrás dos clientes", sugere.

Definição

O professor Max Bianchi explica que o trabalho informal é entendido como a realização de atividades sem vínculos empregatícios ou registros formais. Nesses casos, o profissional desenvolve atividades autônomas, com serviços por conta própria.

 

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