Ancestralidade

Campanha da OAB/DF celebra o empoderamento de mulheres negras

A OAB/DF celebra a importância das grandes figuras que traduzem o empoderamento das mulheres negras por meio da campanha Saia do transe

Eduardo Fernandes*
Isabela Berrogain
postado em 24/07/2022 07:00
 (crédito: Julia Bandeira)
(crédito: Julia Bandeira)

Relembrando grandes figuras que traduzem o empoderamento das mulheres negras, a campanha antirracista Saia do transe, da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB/DF), será lançada amanhã, no Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Com o intuito de atacar o racismo e o sexismo vividos nos dias de hoje, o projeto traz uma coleção de imagens de Tereza de Benguela, Virgínia Brindis de Salas, Maria Remédios Del Valle e Sara Gomez, além de uma música exclusiva composta e interpretada pela cantora Realleza, voz feminina que representa o rap da Ceilândia.

Lenda Tariana, vice-presidente da OAB/DF, afirma que o envolvimento da instituição nas pautas de racismo e luta pela igualdade não é de hoje. "A criação de uma diretoria, a Diretoria de Igualdade Racial, que surgiu nesta gestão, é a maior prova disso", aponta Lenda. A campanha busca alertar sobre o racismo e sexismo, propondo um despertar geral da sociedade. "As mulheres negras e latinas já contribuem muito com a cultura, com a ciência, com a tecnologia. Cabe agora à sociedade enxergar a verdade e derrubar esses preconceitos. É isso que a gente chama de sair do transe", explica a vice-presidente.

Além de celebrar a importância da data do 25 de julho e homenagear as grandes mulheres negras da história, a campanha surgiu para sair do óbvio. "A gente não queria mais uma campanha pra falar mais do mesmo. Foi aí que percebemos a necessidade de penetrar no imaginário social, com uma ideia forte e uma língua universal, como a música, para que a gente conseguisse fazer a diferença", conta. Com isso, a rapper Realleza, descrita por Lenda como uma grande mulher, que vem trazendo uma mensagem com sucesso, se tornou parte do projeto.

Para Realleza, participar da ação que homenageia mulheres como Tereza de Banguela é uma forma de demonstrar gratidão. "O primeiro ensinamento que o feminismo negro e o movimento de mulheres negras trouxe para nós da nova geração é lembrar que o nosso espaço vem de longe", pontua a rapper. "Essa luta não começa comigo e não vai terminar comigo, mas eu faço parte dela, e existiram mulheres, nossas ancestrais, que abriram os caminhos", afirma. "Tereza de Benguela é o meu exemplo de heroína, de resistência, de força, de estratégia, de liderança. Ainda mais por ser brasileira, por ter essa história de liderar o Quilombo. Ela é minha heroína", declara.

Pronta para o lançamento da música exclusiva da campanha, a cantora é acostumada a envolver a arte com questões tão importantes como as raciais e de gênero. "A minha arte está ligada a esses temas, porque eu sou uma mulher negra latino-americana, periférica e bissexual. Tudo isso reflete na minha arte afrontosa", diz. "É uma forma de ser eu e de exigir respeito por ser eu, e também reconhecimento pelas coisas que eu faço, por saber de onde eu venho, por exaltar a minha negritude, por elevar o diálogo para as pessoas periféricas, pretas, mulheres, os LGBTQIAP ", argumenta. "Eu me sinto muito honrada de saber que o meu trabalho está se encontrando com outros projetos, outros órgãos e outras possibilidades, para que a gente continue a construir esse futuro que a gente quer. Esse futuro mais igualitário, esse futuro mais justo", aponta.

Realleza, que também faz parte da Comissão de Igualdade Racial da OAB/DF, garante que o desenvolvimento do projeto tem sido significativo. "A campanha mostra que a luta das minhas ancestrais não foi em vão e que a minha luta também não está sendo em vão, isso me traz uma sensação de continuidade. Nós estamos continuando os trabalhos das nossas ancestrais", comemora. "Essa campanha não é o fim, ela faz parte de toda essa caminhada, de toda essa estrada que a gente vem percorrendo a longos passos. Eu fico muito feliz de poder participar e de poder ver o quanto a luta das nossas ancestrais está vingando. Está trazendo novas perspectivas para as mulheres negras", complementa.

Reconhecimento

Em 25 de julho de 1992, foi realizado o 1° Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, em Santo Domingo, República Dominicana. Na ocasião, as participantes tiveram como objetivo denunciar o racismo e machismo enfrentados por mulheres negras ao redor do mundo. O impacto da reunião foi tão grande, que, no mesmo ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu 25 de julho como Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data ainda homenageia Tereza de Benguela, líder quilombola que se tornou rainha, resistindo a duas décadas de escravidão.

Lenda define a data como uma ótima oportunidade para ampliar o debate em torno desse tema. "Para mim, a data do dia 25 de julho é muito especial, porque nós precisamos conscientizar a sociedade que é necessário valorizar e reconhecer essas grandes mulheres negras e mulheres latino-americanas. Essa data é ainda mais especial, porque a mulher negra, latino-americana e afrodescendente sofre com o prolongamento das dificuldades dos estigmas e dores que vieram desde a época da escravidão. Esse núcleo de mulheres ainda está na última escala social. São as que menos possuem oportunidades e mercado de trabalho. Elas têm menor remuneração e menor nível de escolaridade e, em contrapartida, são as que têm a jornada de trabalho mais tensa, prolongada, vítimas de abusos e assédios", protesta.

Já Realleza afirma que a data é uma ressignificação do que é ser mulher negra latina, americana e caribenha. "É como se a essa data viesse para reforçar o fato de que nós mulheres não somos iguais. Muito pelo contrário, nós somos plurais. É muito importante a gente exaltar e ressaltar todos os tipos, todas as formas de ser mulher. Essa data traz uma visibilidade para mulheres que são as negras latinas-americanas, caribenhas e as que sofreram bastante com a invisibilidade do sistema por conta do sexismo, por conta do racismo", assegura a cantora.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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  • NEGRAS DE LUTA
    NEGRAS DE LUTA Foto: Reprodução
  • Lenda Tariana:
    Lenda Tariana: "A criação de uma diretoria, a Diretoria de Igualdade Racial, que surgiu nesta gestão, é a maior prova disso" Foto: Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A.Press - Julia Bandeira/Divulgação - Reprodução
  •  Crédito: Reprodução. Dia da Mulher Negra, Latino - Americana e Caribenha.
    Crédito: Reprodução. Dia da Mulher Negra, Latino - Americana e Caribenha. Foto: Reprodução
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    Crédito: Reprodução. Dia da Mulher Negra, Latino - Americana e Caribenha. Foto: Reprodução
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    Crédito: Reprodução. Dia da Mulher Negra, Latino - Americana e Caribenha. Foto: Reprodução
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    Crédito: Reprodução. Dia da Mulher Negra, Latino - Americana e Caribenha. Foto: Reprodução