Saúde

Paciente sofre para conseguir atendimento para varíola do macaco

Paciente relata dificuldade em conseguir fazer o exame para detecção da varíola de macaco na rede pública do DF. Lacen começou a realizar exames com o objetivo de agilizar ações sanitárias. Brasília tem 38 casos confirmados da doença

Renata Nagashima
postado em 03/08/2022 05:53 / atualizado em 03/08/2022 06:00
Infectados são considerados curados quando as lesões secam e caem -  (crédito:  HANDOUT)
Infectados são considerados curados quando as lesões secam e caem - (crédito: HANDOUT)

Entre os 97 moradores do Distrito Federal com suspeita de infecção por varíola do macaco — também conhecida como monkeypox e varíola símia — está um professor de 27 anos. Enquanto aguarda os resultados dos exames laboratoriais, o paciente, que preferiu ter a identidade mantida em sigilo, sofre com os sintomas e com o descaso que relata ter sofrido ao buscar atendimento nas unidades de saúde pública. Até o momento, há 38 confirmações da doença em Brasília

O professor contou que procurou uma unidade básica de saúde no Cruzeiro e o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) na última quarta-feira (27/7), mas voltou para casa sem fazer os exames. "Os profissionais da saúde me receberam como se eu fosse de outro mundo, olhando com desdém. Não tem protocolos, e o Hran deixa as pessoas com suspeita juntos em uma sala fechada. Se você não tiver varíola, pega lá dentro", reclama. Ele está com febre, dor no corpo, diarreia e feridas na região genital.

O paciente relatou que os primeiros sintomas começaram no início da semana passada, com dor no corpo e febre. As feridas, características da varíola do macaco, apareceram na última segunda-feira (1º/8). Preocupado, ele decidiu insistir mais uma vez para tentar fazer o exame. "Voltei no Hran e consegui fazer a colheita do material para o teste depois de muita espera e descaso", completa.

Médico infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcelo Daher alerta que o diagnóstico precoce é a melhor forma de prevenir o surto da doença no DF. "É importante as pessoas que acharem que estão com a doença procurarem uma unidade de atendimento ter o diagnóstico, para que as medidas de contenção sejam tomadas, senão a gente acaba aumentando o risco de transmissão e como já está saindo do controle, vai ficar mais difícil controlar", alerta Daher.

Questionada sobre os protocolos de atendimentos para pacientes com suspeita de varíola do macaco, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou que pessoas com sintomas da doença devem procurar um médico. "Durante a consulta, o profissional fará o pedido de exame laboratorial. Pacientes com confirmação para monkeypox são orientados a manter o isolamento social, e, além disso, são monitorados pela equipe de vigilância epidemiológica", destaca o texto. A pasta não comentou sobre o caso do professor.

Medidas emergenciais

Para atuar no enfrentamento e no combate à varíola do macaco, a pasta criou o Centro de Operações Emergenciais (COE), por meio de uma portaria publicada no Diário Oficial do DF (DODF) nessa terça-feira. O objetivo é que o COE analise os padrões de ocorrência, distribuição, confirmação dos casos suspeitos de monkeypox em Brasília, elaboração de protocolos de vigilância, assistência e laboratório para o enfrentamento da doença. O comitê deve atuar por três meses, podendo ter as atividades prorrogadas por períodos consecutivos.

O Laboratório Central de Saúde Pública do DF (Lacen-DF) iniciou os testes para detectar a varíola do macaco nos cidadãos brasilienses na última segunda-feira. De acordo com a Secretaria de Saúde, a expectativa é de que o local consiga realizar 96 exames por semana. "Estamos fazendo os primeiros ensaios para oferecer à população do Distrito Federal e aos gestores o diagnóstico para que aconteçam as ações de vigilância com agilidade", explica Graziela Araújo, diretora do Lacen.

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Marcelo Daher, infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia

Posso pegar a doença de um macaco?

O termo varíola do macaco vem da primeira descrição da doença que foi feita em alguns macacos da Dinamarca. Mas o principal reservatório não é o macaco, o macaco também adoece, eles não são hospedeiros e estão acometidos a doença também.

Como se pega a doença?

É uma doença viral, transmitida de pessoa a pessoa por contato. A principal forma de transmissão é a por contato. As lesões da varíola, que são aquelas pequenas bolhas ou vesículas que aparecem, têm muito vírus. Existe também a possibilidade de transmissão por gotícula ou saliva, mas em um contato próximo prolongado. Outras formas de transmissão como roupa ou objeto contaminado podem acontecer, mas em uma proporção um pouco menor. No caso da relação sexual, o que acontece não é pelo fluido sexual, é pelo contato pessoa com pessoa.

Em locais como shows e dentro do transporte público, a pessoa corre mais risco de contrair a doença?

Isso pode acontecer, mas o risco é muito pequeno, porque normalmente as pessoas estão vestidas. Por exemplo, se eu tiver uma lesão no braço e estiver exposto e eu estiver em contato com outras pessoas no transporte, aí existe o risco de contaminação. Quanto às sequelas, o que mais acontece são lesões na pele. A questão da sequela mais séria pode ocorrer quando a pessoa tem lesões dentro da uretra, ele pode ter uma estenose na uretra. Se ele tiver lesão perianal, pode ter estenose anal. Então, as complicações seriam decorrentes dessa lesão e da cicatrização dela. Já nas formas graves, como quando tem lesão no olho, pode levar a cegueira, e os quadros de encefalite podem levar ao óbito ou sequela neurológicas.

Qual tratamento?

Existe medicamento. Esse tratamento diminui a gravidade da doença. Diferentemente da vacina, o medicamento pode ser utilizado nas pessoas que tiveram exposição à doença. Com medicamento, elas podem diminuir a gravidade ou evitar que a doença apareça.

Posso ser contaminado duas vezes?
Normalmente, não. A doença confere proteção. Então, a pessoa que teve a doença está protegida e não vai se infectar novamente, a doença induz à imunidade.

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