Controvérsia

Família de jovem morto por raiva humana questiona forma de transmissão

Nota divulgada pela advogada da família indica que a gata adotada, apontada como vetor do vírus que matou o jovem, estava saudável e recebeu cuidados veterinários após ser resgatada

Arthur de Souza
postado em 03/08/2022 17:37 / atualizado em 03/08/2022 17:37
Gata da família é apontada como vetor de transmissão do vírus que matou jovem. -  (crédito: Arquivo pessoal)
Gata da família é apontada como vetor de transmissão do vírus que matou jovem. - (crédito: Arquivo pessoal)

A morte do jovem por raiva humana, ocorrida no último sábado (30/7), continua repercutindo. A família da vítima divulgou uma nota, nesta quarta-feira (3/8), em que questiona o fato da gata adotada por eles ser apontada pela Secretaria de Saúde (SES-DF) como o vetor de transmissão do vírus. 

No texto, é admitido que o animal chegou a arranhar o jovem, em 15 de maio. Contudo, afirma que a gata permaneceu saudável por 24 dias após o acidente e lembra que o fato descarta a “hipótese sustentada pelas autoridades sanitárias”. Ainda segundo a nota, protocolos internacionais estabelecem que qualquer mamífero que transmita a raiva é portador final do vírus, pois, necessariamente, morre entre cinco e sete dias do adoecimento.

Além disso, a família do jovem ressalta, no documento, que, depois de encontrada, a gata foi internada por iniciativa própria dos novos tutores, sob os cuidados de uma equipe médica veterinária. “A partir de exames e avaliação diária, atestou que, desde a sua admissão, a filhote se encontrava sadia, com comportamento normal, ativa e sem apresentar qualquer intercorrência clínica, quadro que se mantém até a presente data”, comenta o texto.

Estilo de vida

A nota divulgada ressalta que o estilo de vida do jovem não incluía ambientes rurais ou silvestres. “A única alteração em sua rotina foi o ingresso no 1º semestre na Universidade de Brasília (UnB), em 06 de junho, que coincidiu com o retorno presencial das aulas presenciais”, destaca. O documento também aponta um único fato novo. Testemunhas relataram que presenciaram o jovem tentando contato com os animais que ficam espalhados pelo campus.

“Especificamente em 8 de junho, um gato cinza e branco, que estava nas intermediações do ICC Central com comportamentos estranhos, chamou a atenção do jovem, que o apelidou de ‘gato chapado’, pois possuía olhar vesgo, muito brilhante e atento para o teto do local. Ele era arisco e não se misturava com os demais, além de ter andar trôpego e cambaleante”, detalha a nota, afirmando que os sintomas da raiva na vítima iniciaram em 15 de junho, nove dias após o início das aulas.

Ao Correio, a advogada da família, Luiza Araujo, indica que a existência de gatos nas dependências dos campi acarreta problemas. “A partir do momento que o campus ficou fechado por mais de dois anos desenvolveu-se também ambientes propícios para morcegos”, aponta. “Certamente, nesse período, houve interação entre os animais, e é fato incontroverso que o jovem teve contato com os gatos da universidade e, em específico, um gato com comportamentos estranhos”, observa a advogada.

Luiza também afirma que o vírus identificado no jovem foi o da variante 3, que é originária de única espécie de morcego hematófago, segundo a advogada. “Destaca-se que a presença de morcegos foi favorecida pelos ambientes escuros, úmidos, pouco ou quase não frequentados em razão da pandemia”, comenta. “O que demonstra que o vetor de transmissão do vírus foi inserido no ciclo urbano, possibilitando o seu contato com os gatos e outros animais presentes no local”, encerra a magistrada.

A advogada da família também enviou nota com várias fotos de gatos andando pelos corredores, bebedouros e até dentro das salas de aula da UnB. Confira algumas imagens:

  • Gato dentro de sala de aula da UnB. Reprodução
  • Gato bebendo água em bebedouro da UnB. Reprodução
  • Gato dentro de sala de aula da UnB. Reprodução

Outro lado

A reportagem entrou em contato com a UnB e a Secretaria de Saúde para obter esclarecimentos sobre os questionamentos da família. Em nota, Secretaria de Meio Ambiente (Sema), a Prefeitura (PRC) e a Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da UnB informaram que todos os gatos que circulam no campus Darcy Ribeiro, e aceitam contato humano, são vacinados periodicamente. “Os felinos porventura encontrados mortos são encaminhados para exame no Hospital Veterinário. Não há registro de animais contaminados”, ressalta o texto.

A nota da instituição destaca que a rotina de vigilância epidemiológica e ambiental não foi interrompida no período em que a Universidade permaneceu sem atividades letivas presenciais. “A FAV dispõe de uma técnica especialmente designada para esse controle dos felinos encontrados no campus. Entre março e julho de 2022, mais de 100 gatos foram vacinados”, informa o documento.

Até a última atualização desta matéria, o Correio não obteve retorno da SES-DF. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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