Economia

Agricultores do DF reclamam do excesso de chuvas neste verão

Os agricultores do DF sofrem para cultivar hortaliças e frutas. Enquanto isso, os consumidores sentem a alta nos preços da feira. Em dezembro, o aguaceiro foi 78,9% maior que o esperado, conforme o Inmet

Júlia EleutérioArthur de Souza
postado em 23/01/2023 06:00
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Os agricultores do Distrito Federal sofrem com a produção prejudicada pelo alto volume de chuvas nos últimos meses no Distrito Federal. Problemas acontecem desde o plantio até o transporte dos produtos. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o nível esperado para dezembro ultrapassou 78,9%, chovendo 431,4mm. Enquanto isso, na hora da feira, os consumidores encontram as hortaliças e frutas mais caras.

No sítio do agricultor Wendell Fabrício Silva, 39 anos, são produzidas mudas de plantas frutíferas e ornamentais, além de milho, feijão e mandioca. Com as precipitações, o geólogo teve o trabalho na plantação foi afetado. "A gente do meio rural gosta muito do período de chuva, porque a gente depende dela. Mas, em contrapartida, quando a intensidade é maior, ela pode atrapalhar se a gente não está muito bem preparado", pontua o produtor de Sobradinho, destacando problemas como erosões, lama e dificuldade para o cultivo.

Ele comenta que as plantas que produz são via semente ou estaquia (multiplicação de mudas por estacas) e precisam ser protegidas das chuvas mais intensas. "Prejudica bastante porque mata algumas mudas", conta. Wendel comenta que o granizo é uma catástrofe para as plantações, mas que os ventos fortes também atrapalham, pois acabam derrubando os frutos das árvores. "É difícil esse relacionamento nosso com o tempo. É uma questão bastante ambígua", opina.

O agricultor explica que ao colocar as plantas em estufas, prejudica a qualidade. "A planta em si precisa de sol e estar exposta à luz. Quando a gente opta por abrigar a planta num estágio muito inicial, a gente também perde com isso", ressalta. Wendell detalha que as margens de lucro trabalhadas no meio rural são estreitas. Então, ao mesmo tempo que há formas de investir na proteção, ele toma algumas cautelas para manter os ganhos.

Calor e umidade

Este verão tem dias quentes com muita umidade para os padrões do DF, principalmente no período da tarde. E o mês de janeiro segue chuvoso. De acordo com o Inmet, nestes primeiros 15 dias, já choveu 60% da média esperada para o período, que é de 206mm. A estação meteorológica com maior registro é a de Brazlândia, com um acumulado para a primeira metade do mês de 124,2mm. Enquanto, na região de Águas Emendadas, o valor é menor entre os pontos, chegando a 80mm.

Produtor de hortaliças como couve, quiabo e coentro, Joviniano Souza dos Anjos, 39, afirma que, todos os anos, fica em alerta para as chuvas que caem no DF. Mesmo assim, não consegue evitar estragos que, segundo ele, nem ocorrem na plantação. "A minha principal preocupação é em relação às estradas. Meu carro quebra direto", reclama. "Muitas vezes a gente sai para fazer entrega e não chega no local. Em algumas situações, o produto chega a estragar", conta o agricultor do Recanto das Emas.

Quando questionado sobre o que tenta fazer para contornar as situações que a chuva proporciona, Joviniano Souza conta que fica de "mãos atadas", pois uma possível solução não depende dele. "O que pode ser feito, é a pavimentação da estrada, mas, entra governo, sai governo, nada muda", lamenta. "A princípio, acho que isso resolveria muita coisa", aponta o produtor. Sobre o caso de Joviniano, a administração regional do Recanto das Emas informou que há um processo de pavimentação em andamento na região. "Recentemente foi feito um levantamento topográfico na área", destaca a nota.

Em um sítio em Sobradinho, a agricultora Francisca Eva de Santana Dantas, 34, trabalha junto com o marido Francisco da Silva, 36, plantando couve-flor, brócolis, rúcula, tomate, ervilha torta, entre outros. Ela comenta que, quando há excesso de água, as plantas se tornam suscetíveis ao apodrecimento antes mesmo do período da colheita. "Recentemente tivemos o prejuízo pela perda de uma plantação inteira de couve-flor e de ervilha, gerada pelo apodrecimento das plantas no canteiro", comenta a produtora.

Com a plantação a céu aberto, as plantas ficam constantemente em contato com o aguaceiro. "O excesso de umidade faz com que haja o aumento de manifestações de pragas, como lesmas, caracóis e outros insetos, que passam a se alimentar dos vegetais, deixando marcas como furos, fazendo com que a aparência física do mesmo fique 'feia' aos olhos do consumidor", destaca Eva. Ela ressalta que se as plantações fossem dentro de estufas, que são estruturas cobertas com plástico e envoltas com material protetor, esses danos não viriam a acontecer, mas o investimento é muito caro, lamenta.

Mais colheita

Para evitar os problemas de colheita causados pelas chuvas, o engenheiro agrônomo e inspecionista rural na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Antônio Dantas, ressalta que, em geral, as plantas cultivadas, principalmente as hortaliças e frutas, não se adequam tão bem por serem oriundas de climas diferentes. "Como o tomate é dos Andes, uma região que tem uma oscilação térmica muito grande, mas chove pouco", exemplifica.

O especialista destaca que muitas plantas que são cultivadas como alimento não gostam de grandes quantidades de água. "O fato de ter a umidade mais alta na superfície da folha e dos frutos aumenta a possibilidade de doenças causadas por fungos e bactérias", explica Antônio. O agrônomo pontua também que o solo encharcado dificulta a respiração da planta. "Essas doenças fazem com que os produtores tenham mais perdas, então diminui a oferta desses produtos no mercado e o preço sobe", comenta, avaliando que é uma situação temporária. "É uma tendência já de preços mais altos no período chuvoso e preços mais baixos no período seco", detalha.

Segundo Antônio, para minimizar os danos causados pelas chuvas, há pesquisas que indicam o cultivo protegido como uma das estratégias. "Quando planto um tomate ou uma outra hortaliça embaixo de uma estufa, não tenho esse problema da folha molhada e vou ter menos problemas com doenças, consequentemente eu consigo colher mais", comenta. O especialista, no entanto, ressalta que haverá um aumento de custo de produção para implantar uma estrutura como uma estufa.

Outra forma indicada como estratégia pelo agrônomo é o uso de uma adubação diferente. "Ela precisa ser alterada. Tem que reduzir alguns adubos para que a planta não fique tão suscetível às doenças", destaca. O profissional pontua que ambas as técnicas precisam ser usadas em conjunto.

 

Produção nos meses de janeiro:

- Fraca (registrada uma menor oferta do produto e a propensão é de elevação de preços): Agrião, alface, couve, couve-flor, repolho, abóbora italiana, berinjela, jiló, maxixe, milho verde, tomate, alho, batata doce, beterraba, cará, cenoura, mandioca, abacate, abacaxi, banana (nanica, prata, e pera), laranja pera, mamão formosa, maracujá, melancia, morango, tangerina pokan.


- Regular (quando a oferta apresenta equilíbrio e os preços estão estáveis): Chuchu, pepino, pimentão, quiabo, cebola, melão.


- Forte (época de maior oferta do produto e a tendência é de preços baixos): Abóbora japonesa, vagem, batata, limão tahiti.

Fonte: Ceasa-DF

 

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