CLDF

CPI: documento contradiz versão, e aponta que empresário contratou trio elétrico

Aos distritais, Adauto afirmou que não deu nenhum centavo para a contratação de trio elétrico para atos golpistas. No entanto, o dono do trio elétrico afirmou que tratou diretamente com o empresário a contratação do trio, por três vezes

Pablo Giovanni
postado em 04/05/2023 16:06 / atualizado em 04/05/2023 22:25
 (crédito: Redes sociais/Reprodução)
(crédito: Redes sociais/Reprodução)

O empresário Adauto Lúcio Mesquita prestou depoimento, nesta quinta-feira (4/5), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Aos distritais, o empresário disse "pechinchou" na negociação, mas que não deu nenhum dinheiro para a contratação de um trio elétrico. No entanto, o depoimento do dono do trio à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) contesta a versão dada por Mesquita aos distritais.

À CPI, Adauto disse que intermediou a contratação de um trio elétrico em 2 de novembro do ano passado, chamado de “Coyote”, para a manifestação de bolsonaristas. Mesquita "pechinchou" um melhor valor para que o trio fosse contratado, no valor de R$ 30 mil. No entanto, segundo o empresário, ele não gastou nenhum real para a contratação do carro.

"Me apresentei na roda, e me apresentei como Adauto. Quem estava lá era o Adauto CPF, e não o Adauto CNPJ. Fui lá e disse para ele (Rubens) ajudar o pessoal, para fazer um preço melhor. Disse que eu sou comprador na minha empresa. Eu sei comprar, eu sei pechinchar", explicou. "Não paguei um centavo do Coyote. Eu entrei para ajudar (na negociação) e pagaram. Minha participação no trio foi essa", completou.

No entanto, o depoimento de Rubens à PCDF contesta a versão dada pelo empresário aos distritais. De acordo com documentos extraídos pela CLDF, Adauto não só intermediou, como contratou os serviços de Rubens por mais duas vezes, nos dias 5 e 6, com o trio funcionando das 17h às 20h. Cada diária foi R$ 10 mil. Ou seja, R$ 30 mil foi cobrado ao empresário.

“Esclareceu que Adauto, no dia 2 de novembro de 2022, entrou em contato com o depoente e que já nessa ocasião solicitou que o trio elétrico Coyote, o maior da empresa, desloca-se para o acampamento do QGEx (...) Que por esses três dias a empresa cobrou a importância de R$ 30.000,00. Esse valor foi pago por diversas pessoas através de Pix. Que, posteriormente, o depoente descobriu que Adauto era empresário do ramo de supermercado”, disse o termo do depoimento de Rubens à PCDF.

Aos investigadores, Rubens esclareceu que após a contratação do trio nesses três dias, ele alugou novamente o “Coyote” para manifestações de 13 e 15 de novembro. Nessas ocasiões, quem seriam os contratantes seriam pessoas identificadas como "Linaldo, Major, Priscila e Daniel", após o sucesso do trio nas três manifestações anteriores.

Para a polícia, Priscila é a mulher identificada como Ana Priscila Azevedo, presa pela Polícia Federal em 10 de janeiro, suspeita de ser a organizadora dos atos terroristas em Brasília. O “Major” é o major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Cláudio Mendes dos Santos. Ele foi preso pela PF em 23 de março, considerado como um dos locutores oficiais do movimento golpista.

Nos extratos, transações bancárias recebidas na conta do proprietário do trio contabilizaram R$ 30 mil, entre 7 a 9 de novembro.

Quem é Adauto

Natural de Unaí e morador de Águas Claras, Adauto é apontado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ao lado do sócio Joveci Andrade, como um dos financiadores das manifestações. Segundo a corporação, outdoors estampados nas rodovias de Brasília, em dezembro, que apoiaram a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), eram de autoria da dupla. Mas, para despistar, os cartazes faziam alusão aos jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo do Catar.

Aos distritais, Mesquita contou que frequentou o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU), de três a quatro vezes, e que não esteve no local em nenhum momento de horário comercial. Um vídeo exibido pelos distritais mostra Adauto no QG convocando a população para "não perder a vez" e para "participar".

"Foi um vídeo meu, gravado do meu celular. A gente se empolga, presidente Chico Vigilante. Eu não sou nenhum influencer, não tenho essa capacidade de captar gente (...). Nunca participei de nada da Esplanada. Esse movimento político pacífico no QG, eu fui de três a quatro vezes. Na minha cabeça, nunca imaginei ir para a Esplanada", disse.

Adauto disse ainda que "alguns deputados" foram no QG e reforçou que ele não participou, apenas "foi". Questionado sobre quais deputados viu no QG do Exército, o empresário disse que não viu ninguém porque pouco passava por lá. "Por mais que tenha essa impressão que o QG tinha muita gente doida, fui lá três a quatro vezes. Não vi, em momento algum, até porque fiquei pouco tempo, vi apenas placas de 'fora não sei quem', 'socorro Forças Armadas'. Diretamente, não contratei nenhuma tenda", disse.

O que diz a defesa

Em nota, a assessoria do empresário afirmou que será comprovado que Adauto não tem qualquer participação em atos contra a democracia, e que jamais financiou qualquer movimento antidemocrático. Confira a nota:

"O empresário Adauto Lúcio esteve presente nesta quinta-feira(04), na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, com objetivo de contribuir com as apurações dos atos realizados no dia 08 de janeiro de 2023.

O empresário entregou, por livre e espontânea vontade, aos parlamentares documentos e cópias de seus extratos bancários a fim de comprovar que ele não teve nenhuma relação com os atos de vandalismo realizados no dia 8. Conforme falado em seu depoimento, Adauto repudia veementemente os atos de vandalismo, que culminaram na destruição dos símbolos da democracia brasileira.

Adauto reitera que é contra o vandalismo e a intolerância política, e acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. Ele reafirma a sua crença na justiça brasileira, no parlamento do Distrito Federal e nas demais instituições da nossa República."

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