Irregularidades

Justiça determina a criação de cronograma de demolições em Vicente Pires

Decisão da justiça prevê que edificações com mais de três pavimentos devem ser removidas por riscos causados pela falta de estrutura do solo para construções tão altas. GDF poderá ser multado em até R$ 200 milhões

Mariana Saraiva
postado em 04/07/2023 06:00
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A Vara do Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal acatou pedido da Associação dos Morados de Vicente Pires e Região (Amovip) e determinou que o Governo do Distrito Federal (GDF) apresente em até 30 dias um cronograma de ações de fiscalização, identificação e intimação demolitória para os proprietários de imóveis, na localidade, com mais de três pavimentos. A decisão foi publicada na última quarta-feira e prevê multa de R$ 5 mil até R$ 50 milhões por dia de atraso do poder Executivo local. 

Após ser notificado da decisão, o GDF terá que apresentar um cronograma de ações e comprovar que é possível sua execução em um prazo de até 180 dias. O Executivo deverá contar com prazos para embargar as construções, assim como a demolição das edificações com mais de três pavimentos erguidos sem licença em Vicente Pires. Caso não cumpra a determinação, que será apurada por meio de inspeção do Poder Judiciário, o governo poderá ser multado em R$ 10 mil por dia, até o limite de R$ 200 milhões.

A medida também abrange a Companhia de Saneamento Ambiental  do DF (Caesb) e a Neoenergia. Elas estão proibidas de executar ou permitir a ligação de fornecimento de energia elétrica, água e esgoto nas obras ilegais com mais de três pavimentos em Vicente Pires, sob pena de multa no valor de R$ 10 mil por de cada unidade, até a remoção da respectiva ligação. As multas total poderá chegar ao limite de R$ 1 milhão por cada unidade imobiliária com ligação ilícita.

O advogado da Amovip Nilton Cordova critica as empresas públicas responsáveis por realizarem o fornecimento de água e energia para os imóveis irregulares. "É um absurdo a Neoenergia e a Caesb ligarem esses pontos de luz e água em obras clandestinas. Isso não existe: você só pode fazer uma ligação se a obra tiver regularizada. Então, é um aspecto até para posterior deliberação se pode até se determinar uma punição", afirma. "Eu considero Vicente Pires como o maior canteiro de obras ilegais e irregulares não só do Brasil, mas das Américas. Com certeza aqui esse é o maior canteiro de ilegalidades", conclui Cordova.

Corretores

A decisão da Vara não ficou restrita apenas ao poder público, de acordo com a decisão, ela também propõe sanções para os corretores que venderem imóveis em Vicente Pires nessas condições. A multa por cada uma das unidades comercializadas é de R$ 100 mil. A decisão abrange unidades de qualquer dimensão.

Na ação civil pública, o juiz da Vara do Meio Ambiente Carlos Frederico Maroja de Medeiros escreveu que é nítido estado de coisas inconstitucional na região de Vicente Pires. "E consistente o crescimento ilegal da malha urbana, de modo violador das funções de bem-estar da cidade e criador de gravíssimos riscos à vida, integridade física e saúde dos moradores e transeuntes da região", disse. Ainda segundo o magistrado, o crescimento ilegal ora referido consiste na edificação acelerada de prédios com vários pavimentos, de modo inteiramente irresponsável e sem qualquer compromisso com normas técnicas ou fiscalização edilícia básicas.

Maroja aponta ainda problemas com o solo da região administrativa que futuramente podem resultar em problemas estruturais nas construções. "O solo de Vicente Pires tem características hidromórficas, sendo evidentemente inadequado para sustentar edificações altas e pesadas. A ocorrência de erosões e crateras é fenômeno frequente na região, gerando situações bizarras, como a notícia da submersão de um carro numa cratera que se abriu bem em meio ao asfalto, no ano de 2018", pontuou o Juiz, em decisão. "Mais cedo ou mais tarde, a podem vir a desmoronar, causando a morte e ferimentos não só nos eventuais moradores dos prédios ilegais, mas também nos moradores das casas vizinhas e transeuntes."

No aguardo

Por meio da assessoria, a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) informou que ainda não foi notificada e que aguardará o processo para ter ciência da decisão. Por sua vez, a Procuradoria Geral do DF foi procurada, mas até o fechamento desta edição ainda não havia se manifestado sobre a decisão da Vara do Meio Ambiente. 

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  •  28/06/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Colônia Agricula Vicente Pires, risco de  especulação imobiliária e  a grilagem de terras. Prédio novo com  apartamentos a venda na rua 3
    28/06/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Colônia Agricula Vicente Pires, risco de especulação imobiliária e a grilagem de terras. Prédio novo com apartamentos a venda na rua 3 Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  28/06/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Colônia Agricula Vicente Pires, risco de  especulação imobiliária e  a grilagem de terras. Quadra 3
    28/06/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Colônia Agricula Vicente Pires, risco de especulação imobiliária e a grilagem de terras. Quadra 3 Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  28/06/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -  Colônia Agricula Vicente Pires, risco de  especulação imobiliária e  a grilagem de terras. Prédio em construção na rua 4B
    28/06/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Colônia Agricula Vicente Pires, risco de especulação imobiliária e a grilagem de terras. Prédio em construção na rua 4B Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Condomínios verticais na região de Vicente Pires
    Condomínios verticais na região de Vicente Pires Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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