Aniversário de Ceilândia

Ceilândia: barbeiros, trancistas e especialistas em cabelos afro conquistam espaço

Nas paredes, no paladar, na voz e no corte de cabelo. Em Ceilândia, a arte está por todo lugar. Conheça profissionais emblemáticos da área da beleza que têm conquistado espaço na região

Na área da beleza, mulheres barbeiras, trancistas e profissionais especialistas em cabelos afro conquistam espaço e ganham notoriedade dentro e fora da região -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
Na área da beleza, mulheres barbeiras, trancistas e profissionais especialistas em cabelos afro conquistam espaço e ganham notoriedade dentro e fora da região - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
postado em 27/03/2024 06:00

Na cidade mais populosa do Distrito Federal, há muitos talentos por metro quadrado. Seja na música, na dança, no grafite ou no repente, existe sempre um nome ceilandense para representar. Na área da beleza, mulheres barbeiras, trancistas e profissionais especialistas em cabelos afro conquistam espaço e ganham notoriedade dentro e fora da região. O Aqui conversou com quatro profissionais que encontraram nos fios de cabelo uma tela para que suas artes pudessem ser produzidas.

Nair Ambrósio, 47 anos, vive em Ceilândia desde que nasceu e tem a cidade como sua irmã mais velha. Cresceu brincando nas ruas da QNN, estudando nas escolas do local e frequentando os eventos culturais da região. Acompanhava desde cedo a sogra do irmão, que trabalhava como trancista. Em 1995, cativada pela profissão, decidiu atuar na área.

O salão de Nair (@nafrosoficial) funciona na QNN 25 há mais de 20 anos e, muito mais que um espaço de beleza, é uma escola cultural para adolescentes que se interessam pela área. "Além de uma profissão, virou um trabalho social. Aqui, criamos uma conexão com a cultura e. Hoje, temos um projeto chamado 'Trançando Consciências', que a gente desenvolve há mais de 20 anos. Nós montamos um salão nas escolas da Ceilândia e explicamos para as crianças de maneira lúdica a origem das tranças, do cabelo afro e a importância da nossa cultura. O projeto fala muito do preto e especialmente do preto da Ceilândia", contou Nair.

 25/03/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Aniversário 53 Anos Ceilândia. Na foto, Nair - Estilo Afro.
O salão de Nair (@nafrosoficial) funciona na QNN 25 há mais de 20 anos e, muito mais que um espaço de beleza, é uma escola cultural para adolescentes que se interessam pela área (foto: fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)

Referência

Não muito longe do salão de Nair, atende Mateus Kili, 31, mais conhecido como Barbeiro da Favela (@barbeirodafavela1). Kili sempre esteve imerso no mundo da cultura e se apaixonou pela Ceilândia assim que a conheceu, há 11 anos. Inicialmente, visitava a região para dançar nos grupos de charme, mas mudou-se para a cidade em 2016, quando decidiu que ali era seu lugar.

Para se manter financeiramente, Kili começou a trabalhar na barbearia de um amigo e aos poucos se aperfeiçoou na profissão. Hoje, é referência no segmento de cuidados com o cabelo afro. Além de cortar, colore os fios e faz artes que, de longe, chamam a atenção. O barbeiro já deu workshop em diferentes estados e recebeu o patrocínio de grandes marcas, além de ter atendido nomes famosos do funk como Dynho Alves, cantor e dançarino.

 25/03/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Aniversário 53 Anos Ceilândia. Na foto, Kili - Cabeleireiro da quebrada - Estilo Afro.
Kili é referência no segmento de cuidados com o cabelo afro (foto: Ed Alves/CB/DA.Press)

Batalhadora

No JK Shopping, mais um dos pontos jamais imaginados tão perto pelos ceilandenses, a barbeira Marta Oliveira, 29, encontrou um cantinho para realizar seu grande sonho. Nascida e criada na QNQ, em Ceilândia Norte, sempre foi consumidora assídua da cultura da região. Quando fazia o ensino fundamental em uma escola pública, se apaixonou pela arte do grafite; no ensino médio, descobriu a poesia e passou a participar dos saraus encontros nas praças, mas foi na vida adulta que descobriu a barbearia como sua verdadeira paixão.

Inicialmente, Marta aprendeu com as tias e com a irmã mais velha a cortar cabelos femininos, mas não gostou, queria mesmo era se arriscar com as máquinas, então passou a treinar na cabeça do pai e dos irmãos. "Como eles gostaram do resultado, eu me interessei ainda mais pelo assunto. Passava horas assistindo vídeos e estudando na internet, à época eu não fazia cursos", disse Marta.

Quando se sentiu segura o suficiente, foi trabalhar em barbearias da cidade, mas almejava ter um lugar que fosse seu. No início deste ano, Marta finalmente concretizou o desejo de abrir o próprio espaço, o Mantra BarberShop (@mantrabarbershopp) . Exibiu orgulhosa ao Aqui, a sala na Torre do JK Shopping, onde recebe os clientes diariamente. "Eu conheço poucas meninas que são barbeiras, e as poucas que eu conheço são muito batalhadoras. A gente sabe que esse ramo é predominantemente masculino e é uma coisa que estamos tentando quebrar", relatou a barbeira que completou dizendo que, para ela, é muito importante servir de representatividade para as meninas de Ceilândia.

Oportunidade

Pablo Henrique, 25, é proprietário da Kane Barber Club (@kanebarberclub), mudou-se para Ceilândia em 2010 e, desde então, passou a participar ativamente dos eventos culturais da cidade. Entrou no ramo da barbearia após ouvir o conselho do pai, que pensou ser uma boa oportunidade para o filho.

 25/03/2024 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Aniversário 53 Anos Ceilândia. Na foto, Kane - Pablo Cabeleireiro.
Pablo Henrique, 25, proprietário da Kane Barber Club, mudou-se para Ceilândia em 2010 e, desde então, passou a participar ativamente dos eventos culturais da cidade (foto: Ed Alves/CB/DA.Press)

"Inicialmente eu não me interessei, tinha amigos que trabalhavam na área, mas não existia um exemplo forte voltado ao movimento negro para eu me inspirar. Depois resolvi dar uma chance e comecei atendendo em casa, cortando o cabelo dos meus amigos", confessou o barbeiro. Em 2021, abriu o primeiro espaço comercial, mas a barbearia funcionou somente por quatro meses. Depois de muito estudar e entender que desejava mesmo era transmitir cultura através de seu trabalho, Pablo abriu o espaço onde trabalha hoje, a Kane Barber Club (@kanebarberclub), na QNO 16.

"Aqui, na barbearia, a gente propaga cultura. É um local para que jovens negros, da quebrada, se sintam a vontade para debater ideias além do superficial como questões políticas e financeiras", explicou Pablo.

 


  • O salão de Nair é uma escola cultural para inspirar adolescentes na área
    O salão de Nair é uma escola cultural para inspirar adolescentes na área Foto: fotos: Ed Alves/CB/DA.Press
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