VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Empregada doméstica passará por cirurgia para reconstrução do estômago

Oscelina Moura foi atingida no abdômen e perdeu um rim. O tiro também afetou o estômago e ela terá de passar por um novo procedimento nesta semana. Na ala psiquiátrica do HBB, o delegado autor dos disparos teria se recusado a tomar remédios

Oscelina Moura trabalhava havia cerca de quatro anos na casa de Mikhail, todas as quintas-feiras -  (crédito: Redes sociais)
Oscelina Moura trabalhava havia cerca de quatro anos na casa de Mikhail, todas as quintas-feiras - (crédito: Redes sociais)

Uma das vítimas da fúria do delegado Mikhail Rocha Menezes, 46 anos, a empregada doméstica Oscelina Moura Neves de Oliveira, 45, segue internada em estado crítico na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base. A mulher foi atingida no abdômen e perdeu o rim direito. Ela já passou por uma cirurgia, da qual se recupera. Além do rim, o disparo atingiu o estômago e o intestino grosso. Oscelina passará por um novo procedimento cirúrgico nesta semana, para reconstrução do estômago. Hoje, ela será reavaliada pelos médicos, que determinarão quando será realizada a segunda cirurgia. Os pais da doméstica, que moram na Bahia, chegarão hoje a Brasília.

No dia do crime, o filho mais novo de Oscelina, de apenas 14 anos, acompanhava a mãe no trabalho. Na hora dos disparos, ela disse para o filho correr e se esconder. O menino não foi atingido, mas ficou profundamente abalado. A mulher foi levada ao Hospital de Base enquanto o pai foi resgatar o filho. O tiro atingiu Oscelina pelas costas e atravessou o tórax, atingindo rim, estômago e intestino grosso.

Nascida na Bahia, Oscelina é tratada pelos amigos e familiares pelo apelido de Lika. Ontem, a doméstica recebeu visita do marido, Davi Roque, que levou os três filhos do casal, de 22, 18 e 14 anos para ver a mãe no hospital. Oscelina mora no Jardim ABC, na Cidade Ocidental, e é casada com Davi há mais de 20 anos. Ela trabalhava havia cerca de quatro anos na casa de Mikhail e da mulher dele, Andréa, que também foi baleada pelo delegado. As faxinas realizadas por ela eram semanais e aconteciam sempre às quintas-feiras.

O crime

Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Mikhail Rocha Menezes estava afastado de suas funções na corporação desde a última terça-feira (14/1), após apresentar um pedido de licença para cuidar da saúde mental. De acordo com a PCDF, ele apresentou um atestado emitido por um médico particular solicitando o afastamento.

Na quinta-feira (16/1), Mikhail tomava café da manhã com a mulher, Andréa Rodrigues Machado, 40, e o filho, de apenas 7 anos, cuja identidade foi protegida. Segundo informações obtidas pelo Correio, durante a refeição, o delegado começou a falar sozinho, pegou a arma e atirou contra a mulher e contra a funcionária.

Após o crime, Mikhail pegou o filho e o cachorro da família e se dirigiu ao shopping Gilberto Salomão. O menino passava muito mal e chegou a vomitar no centro comercial. Segundo informações obtidas pela reportagem, o homem entrou em uma loja de celulares querendo comprar um aparelho, mas a compra não foi realizada. Ele insistia em adquirir um celular que não estava à venda, de uso da própria loja.

"Quando eu cheguei, vi toda a movimentação. Ele saiu com o celular (da loja) na mão e jogou o telefone no chão. A criança estava descalça e vomitou muito. A todo momento, ele (o delegado) pedia para que o filho o abraçasse", declarou uma vendedora ao Correio.

Depois disso, o delegado dirigiu até o Hospital Brasília e, armado, exigiu atendimento rápido para o filho, que não parava de vomitar. A chefe do pronto-socorro do hospital, Priscila Pessoa, 45, solicitou algumas informações. Exigindo cuidados ao filho, o delegado teria ameaçado contar até cinco para receber o atendimento. Contou até três e atirou contra o pescoço e o ombro da profissional de saúde. 

Ele tentou fugir de carro, mas foi capturado pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na altura da QI 23, do Lago Sul. Com o delegado, os policiais apreenderam duas armas de fogo. Ele foi conduzido para a Corregedoria da PCDF, onde foi avaliado por um médico, que recomendou a transferência para a ala psiquiátrica do Hospital de Base, para onde ele foi transferido na quinta-feira à noite.

Recusa

Segundo informações obtidas pelo Correio, Mikhail se recusou a tomar remédios no hospital. Ele foi transferido da emergência da ala psiquiátrica para o ambulatório da mesma ala, onde permanecia até o fechamento desta edição. Após audiência de custódia realizada na última sexta-feira, a prisão em flagrante do delegado foi convertida em preventiva. Com a decisão, assim que receber alta ele será transferido para a Papuda e deve responder por três tentativas de feminicídio.

A última informação sobre o estado de saúde de Andréa, mulher de Mikhail, era de que ela está internada no Hospital DF Star e o quadro de saúde é estável. Quanto ao estado de saúde da enfermeira Priscila Pessoa, a mais recente informação obtida pelo Correio é de que ela foi atingida na medula, mas que as consequências da lesão ainda não foram dimensionadas.

 

Letícia Guedes
Darcianne Diogo
Mila Ferreira
postado em 19/01/2025 06:00
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