
A empregada doméstica Oscelina Moura Neves de Oliveira, 45 anos, uma das três mulheres baleada pelo delegado Mikhail Rocha Menezes, 46, na última quinta-feira, apresentou leve melhora no quadro de saúde, mas permanece internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto Hospital de Base de Brasília (IHBB). Ela foi atingida no abdômen e perdeu o rim direito. O disparo também afetou o estômago e o intestino grosso. De acordo com o marido de Oscelina, Davi Roque, o outro rim voltou a funcionar e ela já estava urinando normalmente. Além disso, estava tomando doses altas de medicação, mas a quantidade já foi diminuída, o que significa que o estado de saúde está se estabilizando.
"Ela perdeu um rim e o outro estava sofrendo muita pressão, trabalhando de forma forçada. Por isso, ela estava com dificuldade de urinar", disse Davi. "Os batimentos cardíacos dela também estão normais, mas a bala fez um estrago muito grande no intestino e no estômago. O médico explicou que os dois órgãos são colados, mas estão desconectados por causa do tiro. Ele disse que leva de dois a três meses para se conectarem novamente", acrescentou. O marido informou que Oscelina passará por uma nova cirurgia. "O médico disse que ela precisa se fortalecer primeiro, mas acho que a cirurgia pode acontecer amanhã (hoje)", afirmou.
Segundo a prima de Oscelina, Marisa Souza, ela é uma pessoa muito sorridente, além de ser bastante apegada aos filhos. "É uma mãe muito prestativa e atenciosa. A relação com os filhos é muito bonita. Ela é muito amiga deles. Sempre quis ter três filhos e teve. O dia a dia dela é tranquilo, organizado, cuida da casa, trabalha, cuida dos filhos e sempre vai à Igreja Adventista do Sétimo Dia", comentou Marisa. "Oscelina não tem medo do serviço pesado, às vezes ia à obra ajudar o marido Davi, que é pintor", completou. "Estamos todos com o coração apertado, angustiados, mas todos em oração", finalizou.
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Relembre o caso
O crime aconteceu na manhã de quinta-feira. Mikhail tomava café na cozinha de casa, no Condomínio Santa Mônica, no Jardim Botânico, quando atirou contra a esposa, Andréa Rodrigues Machado, de 40 anos, e a empregada doméstica Oscelina Moura.
Em seguida, o delegado foi ao Shopping Gilberto Salomão, no Lago Sul, acompanhado do filho de 7 anos e do cachorro da família para tentar comprar um celular. Na loja, estava apenas o vendedor do turno da manhã.
Segundo as informações, Mikhail pediu ao funcionário o telefone do estabelecimento para fazer uma ligação e perguntou se podia comprar o aparelho. O rapaz respondeu que o aparelho era da loja e não podia ser vendido.
"Quando eu cheguei, vi toda a movimentação. Ele saiu com o celular (da loja) na mão e jogou no chão. A criança estava descalça e vomitou muito. A todo momento, ele (o delegado) pedia para que o filho o abraçasse", declarou uma vendedora.
Depois de sair do Gilberto Salomão, Mikhail foi até o Hospital Brasília. De acordo com informações obtidas pela reportagem por meio de fontes policiais, o delegado entrou na unidade de saúde com duas armas de fogo em punho, acompanhado do filho e do cachorro. Ele foi até a recepção e exigiu atendimento prioritário à criança.
A enfermeira Priscila Pessoa, 45, chefe do pronto-socorro do hospital, saiu da sala de pediatria e foi até o delegado. Ela perguntou o estado da criança e Mikhail respondeu que o filho sofria de dores abdominais e problemas psicológicos. A profissional voltou a questioná-lo se o garoto precisava de atendimento. Em resposta, o delegado disse que não e que tinha atirado em um robô.
Enquanto discutia com a enfermeira, Mikhail disse que contaria até cinco se não tivesse atendimento. Caso contrário, atiraria. Ele contou até três e efetuou disparos no pescoço e no ombro de Priscila.
O Correio apurou que, após o ataque, Mikhail ainda foi até a sala de um dos consultórios e só depois saiu do hospital como se nada tivesse acontecido. A Polícia Militar conseguiu capturar o delegado na altura da QI 23 do Lago Sul. Ao que tudo indica, ele voltaria para a casa.
O delegado segue internado na ala psiquiátrica do Hospital de Base e deve responder por três tentativas de feminicídio. A Justiça converteu a prisão em flagrante dele em preventiva e, com isso, após a alta hospitalar, ele deve ser transferido para a Papuda.
O Hospital Brasília e o Hospital DF Star, onde estão internadas a enfermeira Priscila Pessoa e a mulher de Mikhail, Andréa Rodrigues, 40, disseram ao Correio que as informações sobre os quadros de saúde das duas mulheres são protegidos por sigilo médico.