PESCA

Pescadores do Lago Paranoá contam causos das incursões em busca de peixes

Em meio ao gigante Lago Paranoá, há quem diga ter encontrado pirarucu, ter pego um peixe que tinha outro dentro e até fisgado um saco de lixo acreditando ser um peixão. Conheça algumas histórias de quem lança o anzol nas águas da capital

 Pescaria no Lago Paranoá -  (crédito:  Pedro Santana/CB/D.A Press)
Pescaria no Lago Paranoá - (crédito: Pedro Santana/CB/D.A Press)

Quando Marielton Santos pescou um tucunaré-azul no Lago Paranoá, já ficou surpreso, uma vez que a espécie é considerada rara no local. Foi tirando o animal da água, e aí que ele se intrigou mesmo: ele exibia um volume na barriga, que o pescador conseguia até sentir com as mãos. "Fiquei muito curioso. Na hora de tratar o pescado para cozinhar, fui cortar e tomei um susto. Tinha outro peixe, inteiro, dentro dele", lembra o bancário de 52 anos. O que mais o surpreendeu foi o tamanho do "lanchinho" do tucunaré. "A gente sabe que ele come outros peixes, mas ele havia engolido um cará de 12 centímetros, muito grande para o tamanho do tucunaré, que media 59 centímetros".

Essa é uma das histórias de quem atira suas iscas no lago que é o coração de Brasília. O gigante artificial reúne, em seus 48km de área, aqueles que tentam a sorte na missão de fisgar grandes peixes. Há quem pesque por subsistência ou por hobby, usando uma vara profissional ou um galho de bambu. O fato é que, na calmaria da linha e do anzol, são fisgadas memórias, que povoam as conversas de pescador, e percorrem todo o DF, como as águas da capital.

Quase uma lenda entre quem pesca no lago, o pirarucu do Paranoá aparece apenas para alguns poucos sortudos. Quem garante ter visto um exemplar da espécie, que pode chegar até três metros de comprimento, é o empresário Gabriel Ferreira Amaral. "O pessoal acha que não tem pirarucu aqui, mas eu já vi um imenso circulando perto das docas. Tem muito mais peixes nesse lago do que as pessoas acham", conta. Ele, que já deu a sorte de capturar um tucunaré-azul, lembra, porém, que nem todas as pescas são exatamente vitoriosas. "Uma vez eu achei que tinha pego um peixe grande, fiz força puxando a vara. Quando foi se aproximando é que vi: era um saco de lixo, cheio de coisa dentro", disse o empresário, rindo.

Outra espécie que habita o lago é a carpa. Há quem diga nunca ter visto esses animais ornamentais fora dos aquários e espelhos d`água da capital, mas o construtor civil Paulo Chagas conta que, não só viu, como comeu uma. "Foi uma vez só, depois nunca mais. Era imensa (a carpa), do tamanho de uns cinco palmos e pesava 5kg. Fiquei feliz demais, levei para casa e foi para a barriga". Ele pescou ali na doca mesmo, e surpreendeu todos que passavam ao redor quando finalmente venceu a luta e arrancou o peixe da água. "Hoje em dia, só tenho pego muito camarão, vou distribuindo por aí para quem quiser usar como isca. As vezes, dou para quem quiser fritar e comer também", avisa.

Hobby e esporte

Enquanto alguns comem o pescado, outros não pescam o almoço. Em seus 30 anos de pesca, o dono de uma loja de equipamentos para pescaria Estácio Batista, 58, lembra que, em um de seus acampamentos, com outros colegas pescadores, chegou a hora de fisgar o almoço, após uma manhã cheia de pescas bem-sucedidas que foram devolvidas à água. "Só matamos o que vamos comer mesmo; de resto, a gente retorna à natureza, porque é pesca esportiva", explica ele. O que o pescador não esperava era que, justamente na hora da fome, sua equipe não conseguiria capturar nem uma piaba. "Já era mais de meio-dia e não tínhamos pego nada. Uma hora, finalmente, alguém pescou uma fêmea, mas estava desovando. Briguei e insisti que não comeríamos, porque dali ainda viria muitos outros peixinhos para se pescar e, por isso, finalmente concordaram em soltar no lago". conta Estácio. "Naquele dia, eu almocei arroz com farinha", lembra ele, rindo.

E nem só pescadores veteranos curtem a pescaria no DF. Quem começa agora a pescar, logo vai ter muitas histórias para contar. Mesmo tendo pescado apenas alguns camarões, o pequeno Heitor, 6, carregou feliz suas conquistas e vibrou, mais ainda quando tirou seu primeiro peixe de dentro da água, usando sua varinha de bambu. "É uma tilápia!", disse o menino. Sua mãe, a empresária Jhenifer Rayane, 32, aventurou-se na pescaria com seu filho pela primeira vez. "A gente começou a pescar pelo Heitor, que é autista e tem hiperfoco no fundo do mar. Já fomos em alguns pesque-pague e, depois, tentamos ir ao lago pela primeira vez, porque ele adora peixes. Inclusive, se perguntar a ele, sabe dizer a espécie de todos", ela relata.

  •  Pescaria no Lago Paranoá
    Pescaria no Lago Paranoá Pedro Santana/CB/D.A Press
  • O bancário Marielton Santos pesca como hobby para desestressar
    O bancário Marielton Santos pesca como hobby para desestressar Cedida ao Correio
  • O empresário Gabriel Ferreira afirma já ter visto um  pirarucu no Lago Paranoá
    O empresário Gabriel Ferreira afirma já ter visto um pirarucu no Lago Paranoá Bruna Pauxis/CB/D.A Press
  • Pequeno peixe fisgado no Deck Norte no Lago Paranoá
    Pequeno peixe fisgado no Deck Norte no Lago Paranoá Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • O construtor civil Paulo Chagas frequenta há décadas o Deck Norte
    O construtor civil Paulo Chagas frequenta há décadas o Deck Norte Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • As varas de pesca de Estácio Batista no Lago Paranoá
    As varas de pesca de Estácio Batista no Lago Paranoá 02/02/2025 Bruna Pauxs/CB
  • Algumas das iscas artificiais usadas na pesca esportiva
    Algumas das iscas artificiais usadas na pesca esportiva 02/02/2025 Bruna Pauxs/CB
  • Estácio Batista é dono de uma loja de artigos de pesca
    Estácio Batista é dono de uma loja de artigos de pesca 02/02/2025 Bruna Pauxs/CB
  • Jhenifer Rayane e seu filho Heitor, ao pescarem pela primeira vez
    Jhenifer Rayane e seu filho Heitor, ao pescarem pela primeira vez Pedro Santana / CB

 

 

 

Agora, é lei

Segundo dados do Ministério da Pesca e Agricultura, há, no Distrito Federal, 406 registros de pescadores. Embora essas pessoas já se aventurem no Lago Paranoá há décadas, a atividade tem sido regularizada nos últimos anos no local. Com a Lei nº 7.399/2024, de autoria do deputado Pastor Daniel de Castro (PL), foram definidos, no lago, os diferentes tipos de pesca, como a profissional, a amadora e a esportiva, além de terem sido ressaltados os critérios pelos quais cada indivíduo se enquadra na categoria. O texto esclarece sobre os lugares nos quais é proibida a pesca no aquífero, como a entrada e saída de embarcações, desaguamento de rios e riachos, locais com prática de lazer e esportes náuticos, entre outros. Quem pesca de forma amadora não precisa de registro ou licença, contanto que a atividade não seja praticada para geração de renda.

Para o parlamentar, a criação da lei, que está em fase de regulamentação, é uma forma de conscientizar os pescadores sobre a importância de proteção das espécies e de segurança no lago para que cresça o ramo da pesca esportiva na capital. "Foi montada uma equipe plural para estudar e discutir a regulamentação da norma. Queremos que o DF se torne um grande polo na pesca esportiva, mas com a devida conscientização das pessoas que pescam lá", disse.

O subsecretário de Pesca e Aquicultura, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Distrito Federal, Edson Buscacio, explica que qualquer decisão acerca do lago deve ser tomada após extensas pesquisas. "Todo nosso processo tem que ser embasado em um projeto científico, todas as possibilidades de uso do Paranoá passarão em curto, médio e longo prazo por análises técnicas. Serão estudadas as espécies de peixe, o nível de poluição da água, entre outros fatores".

 

 

Quer Pescar? Confira alguns locais públicos para pesca no DF

- Deck Norte

- Deck Sul

- Parque Vivencial do Lago Norte

- Barragem do Descoberto (checar se é permitido no local)

— Lago Corumbá

— Lago Serra da Mesa

 

O que é preciso para começar a pescar?

- Vara

- Molinete

- Linha

- Carretilha

- Iscas

- Roupa com proteção solar


Bruna Pauxis
postado em 10/02/2025 06:00
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