
A queda de um homem de 29 anos em uma erosão com cerca de 20 metros de profundidade, na QNP 28 de Ceilândia, acendeu o alerta das autoridades para os perigos à comunidade desse processo de desgaste do solo. De acordo com a Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), vinculada à Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), cerca de 20 áreas de risco são monitoradas. As principais regiões afetadas por processos erosivos são Sol Nascente, Jardim Botânico, Água Quente, Itapoã e Arniqueira.
O Correio foi até o local onde o acidente ocorreu e conversou com o estudante Matheus Maia, 30 anos, amigo da vítima. "Ele sempre fica por aqui e, nesse dia, estava perto do buraco. Ele acabou escorregando e caindo", contou. "O Alexandre (vítima da queda) é deficiente mental e mora com a avó", acrescentou.
De acordo com Maia, a erosão está imensa e, com o passar do tempo, só cresce. "Moro na QNP há 10 anos e ela já existia", ressaltou. "É uma situação complicada, crianças costumam aparecer para jogar bola ou soltar pipa no campo próximo ao buraco. E elas ficam em perigo de cair também", alertou.
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Na marginal da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), perto de Vicente Pires, outra erosão assusta quem passa pelo local. Uma dessas pessoas é o profissional de TI João Paulo de Araújo, 20. "Passo por aqui de segunda a sexta e, há cerca de duas semanas, comecei a perceber essa erosão próxima da calçada", disse.
Araújo, morador de Vicente Pires, considera que essa situação é bastante perigosa. "Principalmente, caso haja um desabamento ou se alguma pessoa se aproximar para observar (o buraco) e acabar escorregando e caindo", destacou. "Acho que deve ser feito alguma coisa para conter a erosão, e o mais rápido possível. Até porque dá para perceber que ela está perto da pista e a gente nunca sabe até onde ela pode avançar", alertou.
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Surgimento
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB), o engenheiro civil João da Costa Pantoja explicou como as erosões se formam. "É um processo natural de desgaste e transporte de partículas do solo e das rochas provocado por agentes como a água, o vento, o gelo e, em muitos casos, intensificado pela ação humana", afirmou.
Segundo o especialista, existem perigos, tanto para a população quanto para o meio ambiente. "Esse fenômeno compromete a estabilidade do terreno e, quando não controlado, pode causar sérios prejuízos ambientais, econômicos e sociais", advertiu. No meio ambiente, de acordo com o professor da UnB, os impactos também são expressivos. "A retirada da camada fértil do solo leva à redução da biodiversidade e à diminuição da capacidade produtiva da terra", ressaltou. "Além disso, os sedimentos transportados pelas águas podem carregar poluentes que contaminam rios, lagos e reservatórios, afetando a qualidade da água e os ecossistemas aquáticos", apontou o engenheiro civil.
Monitoramento
Pantoja comentou que a prevenção da erosão requer uma combinação de ações ambientais, tecnológicas e sociais. "No campo da agricultura, práticas sustentáveis, como a rotação de culturas, o plantio direto e o terraceamento (construção de degraus no barranco para frear a abertura do buraco) ajudam a manter a estabilidade do solo", explicou. Segundo ele, a conservação da vegetação nativa, especialmente em encostas e margens de rios, também é essencial para reduzir o impacto das chuvas e reter os sedimentos. Em áreas urbanas, o especialista afirmou que um bom planejamento de drenagem pluvial é fundamental para evitar enxurradas e a formação de sulcos erosivos. "Obras como muros de contenção, canaletas e gabiões também ajudam a estabilizar taludes e proteger encostas", opinou.
Ao Correio, o diretor da Divisão de Gestão de Emergências e Desastres (Diged/Sudec/SSP-DF), coronel Rogério Borges de Andrade, disse que a Defesa Civil faz o acompanhamento contínuo de áreas de risco do Distrito Federal. A medida pretende verificar ameaças e vulnerabilidades geotécnicas, estruturais e ambientais. "Atuamos na execução de ações preventivas, assistenciais e recuperativas, destinadas a evitar ou minimizar desastres, apoiando as ações dos órgãos de emergência, que realizam as primeiras intervenções", ressaltou.
Segundo o coronel, são monitorados os locais com declive acentuado, erosões próximas a córregos e demais cursos d'água, com precariedade de drenagem de águas pluviais ou de saneamento básico, que apresentem acúmulo de resíduos sólidos, como entulho e restos de obras, entre outros problemas que possam levar a erosões. "Após a identificação dos riscos, a Defesa Civil segue vistoriando os locais, periodicamente, notificando os moradores de áreas adjacentes e os órgãos competentes para que adotem as medidas necessárias", disse Borges.
Em nota, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) explicou que as administrações regionais identificam áreas com ocorrências de erosão e, caso não tenham capacidade técnica e operacional para resolver a situação, acionam a companhia. O órgão, então, encaminha uma equipe para avaliar a situação com o objetivo de conter o avanço da erosão, estabilizar o solo e proteger infraestruturas e residências.