
O pioneirismo do Distrito Federal no uso de novas tecnologias na produção de maracujá e o potencial de crescimento do plantio foram alguns dos temas abordados por Júlio Menegotto, agrônomo e produtor da fruta no CB.Agro — parceria entre Correio e TV Brasília — desta sexta-feira (20/6). Aos jornalistas Marcelo Agner e Adriana Bernardes, o fruticultor também comentou sobre o desafio que a produção brasileira tem para entrar no mercado europeu e os investimentos que têm sido feitos para aumentar a produção brasileira da fruta.
Que tipo de tecnologia é usada na produção local?
Todas as tecnologias que vemos no DF nasceram aqui. Por exemplo, o adensamento do maracujá, que chegou a plantar com um 1,5m de distância entre os pés, nasceu em 2000. Depois, nós fizemos o primeiro plantio comercial de maracujá em estufa do Brasil. A ideia era fazer uma rotação do plantio com outras culturas, como o tomate e o pimentão, que eram cultivados em estufa em Planaltina. Agora, estamos desenvolvendo uma técnica para utilizar o protetor de tronco no maracujá, assim como é feito com a laranja. Isso é utilizado para proteger os pés (de maracujá) de algum manejo químico no solo.
Qual foi o motivo que levou ao investimento de um manejo mais tecnológico?
Os materiais que tínhamos eram materiais menos produtivos, mais rústicos, o que gerava uma produtividade muito baixa. Atualmente, no Brasil, a produtividade está em torno de 15 toneladas por hectare. No DF, esse número fica na média de 32 toneladas por hectare. Estamos pesquisando quatro materiais que queremos plantar e ultrapassar 100 toneladas por hectare, assim como é feito em Santa Catarina. O melhoramento foi trazendo uma planta muito mais produtiva, só que, ao longo desse passo, a planta foi perdendo um pouco do seu poder de defesa.
Qual é o potencial de produção do maracujá brasileiro?
O Brasil é o maior produtor mundial, mas não é o maior exportador dessa fruta — fica atrás da Colômbia, Peru, Bolívia, por exemplo. O maracujá é o terceiro suco mais consumido no Brasil, perdendo apenas para laranja e uva. No DF, ele é o segundo suco mais consumido, perdendo apenas para laranja. Então, é um potencial fantástico. São grandes áreas de produção de maracujá, destaque para a Bahia e o Ceará, sendo os maiores estados produtores de maracujá. O DF vem um pouquinho mais adiante, como um celeiro de tecnologia do maracujá.
A região ainda tem potencial de crescimento?
Temos um potencial fantástico. No DF, há, 2.500 hectares de fruticultura e o maracujá ocupa em torno de 5% do espaço. Então, temos sim um potencial fantástico de crescimento. Dez por cento dos produtos de maracujá que produzimos é fabricado aqui. O investimento não é tão barato, você fica um ano trabalhando até começar a colher, mas o potencial é enorme.
Por que mesmo sendo o maior produtor de maracujá, o Brasil não é o maior exportador?
O mercado europeu, um dos grandes consumidores da fruta, não está acostumado com o maracujá brasileiro. A fruta que encontramos lá é roxa e pequena, totalmente diferente do que consumimos no Brasil. Mas essa qualidade do nosso maracujá está sendo descoberta aos poucos. Nós tivemos recentemente uma empresa interessada nesse maracujá nosso, que, inclusive, eles comem da Colômbia e perceberam que a qualidade do nosso é muito superior.
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Quais são as principais diferenças do fruto brasileiro para o da Europa?
Eles estão acostumados a comprar um fruto que pesa em torno de 50 gramas, enquanto o fruto brasileiro pesa, em média, 250 gramas. Além disso, o fruto roxo difere do tradicional maracujá-amarelo que encontramos no Brasil. E também tem o fato de lá ser uma fruta exótica, você compra por unidade que pode ser vendida por até um euro cada fruta. O que queremos fazer é mostrar para o mercado europeu e americano uma fruta muito mais saborosa.
Como o maracujá está sendo usado na indústria?
Ele é uma fruta muito versátil. Na nossa linha de produção, processamos o maracujá para obter a polpa. A casca do maracujá pode ser usada para fazer farinha. A semente tem finalidade cosmética, como não temos uma indústria para realizar esse processamento, damos outras finalidades para ela, compostagem e alimentação animal. Também temos feito um trabalho com uns chefs de cozinha para que eles possam desenvolver receitas com maracujá, como sorvetes, gelatos e geleia.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti