Ônibus superlotados, falta de policiamento, terminais mal iluminados e sensação constante de medo são alguns dos problemas relatados por moradores do Distrito Federal, que apontam falhas na segurança do transporte público da capital do país. Segundo os usuários, a falta de infraestrutura tem cooperado para que o ambiente se torne propício para crimes, como roubos, furtos e assédio.
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A técnica em enfermagem Lurdes Silva Rodrigues, 48 anos, foi vítima de furto na última quarta-feira, durante a volta para casa do seu estágio. Moradora de Santa Maria, ela teve o celular furtado dentro do próprio terminal BRT região. "Eu estava falando com a minha irmã enquanto voltava para casa. Depois, guardei o celular na bolsa e fechei o zíper. Quando fui embarcar no circular, que estava muito cheio, começou um empurra-empurra. Olhei para baixo e a bolsa estava aberta e meu celular tinha sumido", relatou ao Correio.
Segundo ela, após ser vítima do crime, o sentimento é de revolta. "Fiquei triste e com muita raiva por ter perdido o celular. Creio que é preciso aumentar a frota de ônibus, porque o terminal fica muito cheio, e se torna propício para eles roubarem. Os criminosos se aproveitam dessa oportunidade", desabafou. Lurdes também defendeu mais policiamento nas áreas de embarque e desembarque do terminal. "Precisamos nos sentir mais seguros nesses espaços", afirmou.
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A aposentada Isabel Lima, 77, moradora da Samambaia, diz que, por conta da idade, evita sair muito de casa, mas sempre tem cautela quando precisa usar o transporte público. "Eu ando mais de metrô, e até hoje nunca aconteceu nada comigo. Mas a gente sempre fica com aquele receio, porque atualmente as pessoas estão muito más e não respeitam os idosos", lamentou.
Apesar de não usar transporte com frequência atualmente, José Santana, 82, aposentado, afirmou que a segurança segue sendo uma das maiores deficiências do sistema. "O transporte já não é aquilo que as pessoas gostariam de ter, mas a falta segurança é ainda mais visível. A maioria das pessoas não está satisfeita e acredito que isso precisa mudar o mais rápido possível", enfatizou o morador de Taguatinga.
Para Fernanda Aguiar, 32, moradora do Núcleo Bandeirante, a insegurança no transporte público virou rotina. "Antes, era pior, mas hoje precisa melhorar e muito. Inúmeras vezes presenciei assalto e assédio. O sentimento é de medo, revolta e insegurança total", ressaltou.
Medidas
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) lançou o programa Segurança Integral, com o objetivo de fortalecer a proteção à população e reduzir a criminalidade e a violência. A iniciativa busca, ainda, ampliar a sensação de segurança por meio de uma atuação integrada entre as forças de segurança, o governo e a sociedade.
Segundo a pasta, os crimes contra o patrimônio no DF tiveram uma redução de 14,9% entre 2023 e 2024. Segundo dados da SSP, os roubos em transporte coletivo caíram 49,3% no mesmo período. Números mais atuais mostram que, de janeiro a junho de 2025, foram registrados 47 casos, contra 127 ocorrências no mesmo semestre do ano passado.
Quanto aos crimes de assédio, no eixo "Mulher Mais Segura", o GDF promove ações específicas de proteção às mulheres nos transportes. A campanha incentiva denúncias e disponibiliza canais para registro de ocorrências, inclusive on-line. As delegacias da Mulher (Deam), o aplicativo Maria da Penha On-line, e os canais de denúncia como o 197, estão entre os recursos oferecidos.
De acordo com a Polícia Militar (PMDF), a corporação também se dedica à segurança nos transportes coletivos. São estabelecidas parcerias com as empresas para aprimorar ações de proteção por meio de treinamentos para motoristas e cobradores, com o objetivo de aumentar a conscientização e a capacidade de resposta em situações de risco.
Em algumas regiões, as redes sociais, como o WhatsApp, são ferramentas utilizadas para comunicar e informar eventos suspeitos de forma ágil. Além disso, a Polícia Militar adota uma abordagem de combate aos crimes em transporte coletivo, mapeando locais e horários de maior incidência. Isso permite a implementação de ações preventivas direcionadas para cada região.
Porta-voz da Polícia Militar (PMDF), o major Rafael Brooke afirmou que a corporação realiza o policiamento ostensivo, com o foco em evitar a prática de crimes em transportes coletivos, protegendo os passageiros. "Atuamos de forma integrada com todos os órgãos envolvidos na mobilidade urbana, trocando informações, para que a gente possa saber qual é a movimentação do crime, prevendo uma janela de oportunidade para os delitos", detalhou.
Segundo o major, equipes fazem o policiamento em terminais, paradas e, às vezes, até nos próprios veículos de transporte urbano, considerando os horários com maior fluxo de pessoas. "Esse tipo de ação é essencial para coibir furtos, roubos, outras situações de violência e o mais importante, ela reforça a sensação de segurança de quem utiliza o transporte público todos os dias", avaliou.
Brooke ressaltou que, caso algum usuário venha a ser vítima de algum tipo de crime durante sua viagem no transporte coletivo, é essencial que o boletim de ocorrência seja registrado, para que a PMDF possa agir com um efetivo maior naquela localidade específica. "Além disso, em caso de qualquer atitude suspeita ou de flagrante, acione o 190, para que uma equipe chegue ao local o mais rápido possível e consiga prender o criminoso", alertou.
Especialista
A advogada Ana Izabel Alencar Gonçalves, que foi presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB-DF, disse que a segurança no transporte público envolve várias situações. "Temos o problema dos furtos, tanto de celulares quanto de outros objetos pessoais, e, principalmente, a importunação sexual", pontuou. "A minha sugestão é criar um alarme que faça contato direto com a Polícia Militar, quando estiver acontecendo alguma coisa. Além disso, também é importante que o efetivo esteja espalhado de maneira uniforme, em todo o DF, para que o acesso, no momento da necessidade, seja ainda mais rápido", acrescentou.
Especialista em segurança pública, o professor de direito do Ceub Antônio Suxberger comentou que, em se tratando de serviços públicos essenciais, como é o caso do transporte público, os números não conseguem traduzir o problema da segurança. "É necessário considerar a percepção do usuário, ou seja, se ele dispõe de um serviço que se apresenta seguro. Não basta, então, analisar os mapas de vitimização ou os registros de ocorrência de crimes em transporte coletivo", opinou.
De acordo com Suxberger, é preciso considerar o que o passageiro percebe e anota sobre o serviço. "A segurança é a projeção da necessidade de prevenir e coibir crimes, mas é igualmente atributo indispensável daquele que faz uso do serviço por necessidade. Há muito a melhorar quando se tem em consideração a percepção do usuário sobre o serviço", observou. "É preciso assegurar protocolos rápidos de intervenção, quando da ocorrência de crimes, e atuar para melhor qualidade dos equipamentos de transporte e dos serviços que envolvem o transporte em si", sugeriu o especialista.
Segundo ele, a integração das empresas com os serviços de segurança pública também pode melhorar. "Isso vai desde o estabelecimento de canais de comunicação mais céleres com a PMDF até protocolos de fornecimento de imagens captadas no interior dos ônibus, de maneira rápida e efetiva, para colaborar na investigação", ressaltou.
Canais de denúncia
Quatro meios para recebimento de denúncias são disponibilizados pela Polícia Civil (PCDF):
- Denúncia on-line: https://is.gd/obhveF;
- E-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br;
- Telefone: 197, opção 0 (zero);
- WhatsApp: (61) 98626-1197.
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