Memória viva

Meu monumento favorito: veja como aproveitar o Dia do Patrimônio Histórico

No Dia Nacional do Patrimônio Histórico, brasilienses contam quais lugares guardam suas melhores lembranças e o que esses espaços representam na vida delas

O Dia Nacional do Patrimônio Histórico, celebrado hoje, é uma oportunidade de olhar com mais atenção para lugares que marcaram gerações. Mais do que narrativas em livros, o patrimônio está vivo em monumentos que resistem ao tempo, em praças que viram encontros e em edifícios que se tornam a cara da cidade. O monumento favorito de cada um revela não apenas um gosto pessoal, mas também laços afetivos, identidade e orgulho de viver em uma cidade que é, ela própria, um monumento vivo. O Correio ouviu moradores da capital para saber mais sobre a relação emocional que as pessoas têm com esses espaços.

O Museu Nacional da República segue como ponto de encontro para os curiosos. A arte e a cultura se entrelaçam com as experiências pessoais de quem vive e visita a cidade. Um exemplo é o estudante Arthur Kalleby, de 15 anos, morador de Taguatinga Sul, apaixonado por arte. Ele decidiu ir sozinho ao Museu Nacional para apreciar as obras expostas. "Museus são importantes para contar a história. A arte também conta a história, mas é com mais sentimento", afirma. Para o jovem, conhecer o passado é importante para entender o presente. "É muito importante conhecer o nosso passado, como a gente chegou aqui, como foi a nossa evolução e como está agora."

Bruna Gaston CB/DA Press - Arthur é apaixonado por arte. Seus lugares favoritos são o Museu do Catetinho e o Museu Nacional

Arthur tem um carinho especial por um dos primeiros monumentos da cidade. "Adoro o Catetinho, é um lugar aberto que conta muito sobre a história de Brasília, muito bom para fazer um piquenique." Com sensibilidade, destaca a beleza do cotidiano na capital. "O bom de ser brasiliense é você ter acesso a várias culturas. É um lugar que reúne todo o país, um quadro vivo. Quando estou andando pela cidade e paro, respiro e presto atenção, vejo que tudo à minha volta é arte. A arquitetura é perfeita", comenta.

A pluralidade cultural da capital também conquistou o arquiteto Cristofer Patrick Marques, 27, mineiro que vive no Guará há uma década. Ele aproveitou a visita da prima Gessica Gonçalves Pereira, 33, também mineira, para levá-la ao Museu Nacional. "É importante aumentar nossa bagagem cultural. Gosto muito do Conic, pois é um um lugar onde tem mistura de várias culturas, como a africana, arte de rua, grafite e skate. Antes, morava em uma cidade do interior, mas me encontrei em Brasília", conta Cristofer.

Bruna Gaston CB/DA Press - Gessica e Cristofer são mineiros que amam passear pela diversidade cultural da cidade

Essa multiplicidade de experiências está presente no trabalho das fotógrafas Ranyellen Bravo, 35, e Ana Oliver, 27. Todos os dias, elas saem de Taguatinga e Brazlândia, respectivamente, para registrar memórias de turistas e moradores na Catedral de Brasília. Munidas de câmeras polaroid, elas eternizam momentos em fotografias.

"A ideia é complementar a renda. Estamos fomentando o turismo e a economia. É muito legal ver a reação das pessoas guardando uma lembrança de Brasília. Participamos desse momento ajudando com dicas de lugares para visitar e tirando dúvidas sobre a nossa história", explica Ranyellen.

Ana destaca o impacto emocional do trabalho. "O mundo agora é digital. As famílias adoram ver a foto física criando cor e sentindo o valor daquele momento ao vivo. Estamos registrando uma memória para sempre."

Para Ranyellen, o lugar mais especial de Brasília está no Parque da Cidade. "O foguete do Parque Ana Lídia tem uma memória afetiva muito forte para mim. Tenho fotos minhas e da minha filha lá, é um espaço que carrega lembranças importantes. Brincar nesse foguete é uma coisa nossa, dos brasilienses", conta.

Já para Ana, o monumento favorito é o que elas escolheram para trabalhar. "A Catedral é um marco histórico para os moradores de Brasília e também atrai muitos turistas", afirma. Na opinião dela, o local guarda um simbolismo. "Os mensageiros chamam muito a atenção. Sem cultura, a cidade não acontece."

Reconhecimento

Exemplo desse compromisso com o passado, a cidade possui a maior área tombada do mundo e foi reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1987, graças ao seu valor arquitetônico e urbanístico singular. O tombamento de bens, sejam móveis, sejam imóveis, tem o objetivo de proteger essas referências históricas contra a descaracterização e o desaparecimento. 

De acordo com o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, Brasília representa mais do que a capital administrativa do país, é uma riqueza cultural. "É uma cidade modernista, de grande valor cultural, em especial por sua característica urbanística e arquitetônica. Isso traz responsabilidades, mas gera oportunidades", afirma.

Segundo ele, o patrimônio cultural deve ser visto como uma ferramenta poderosa de desenvolvimento. "Uma cidade como Brasília pode ser mais forte do ponto de vista turístico, com a presença de pessoas para contemplarem, mas também entender, pesquisar e estudar toda essa arquitetura modernista", ressalta Grass, destacando também a  diversidade cultural de Brasília.

"A capital reúne patrimônios imateriais, de expressões do nosso país, como o forró, o carimbó, o maracatu, grupos de frevo, grupos do boi, o cordel, o repente e o choro", observa. Na opinião dele, essa pluralidade faz da cidade um polo cultural único. "Somos o celeiro da diversidade cultural brasileira, uma grande referência para o Brasil."

Por meio do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Iphan investiu R$ 744 mil para elaboração do projeto de restauro da Praça dos Três Poderes. Além da praça, o instituto anunciou a destinação de mais R$ 500 mil para o desenvolvimento do projeto de restauro do Museu Vivo da Memória Candanga e R$ 200 mil para o Catetinho, ambos em parceria com o Governo do Distrito Federal (GDF).

Identidade

O subsecretário do Patrimônio Cultural do DF, Felipe Ramón Rodriguez, acredita que o patrimônio cultural de Brasília não é apenas o registro histórico de outro tempo, mas uma realidade viva que se coloca a todo instante no dia a dia da população. "Internacionalmente, trata-se de uma empreitada cultural modernista com relevância em todas as áreas das artes e das ciências sociais. Porém, o patrimônio cultural do DF vai muito além disso, são bens de excepcional relevância para a identidade e para o processo formativo do povo brasileiro", diz.

"Juscelino e os demais pioneiros não queriam que fosse apenas uma cidade bonita, eficiente e impactante. Queriam que fosse também uma expressão genuína da identidade e da capacidade nacional", comenta. Segundo o subsecretário, o GDF tem investido na preservação desse patrimônio em várias frentes. "Ampliamos o investimento em grandes obras, como a do Teatro Nacional, na casa das centenas de milhões de reais. Também realizamos manutenções periódicas nos bens culturais e monumentos, para garantir que não sejam descaracterizados", informa. 

Ele afirma que o GDF está utilizando recursos do novo PAC para revitalização de bens tombados e segue na missão de fiscalizar e regulamentar qualquer intervenção no patrimônio da capital. "Tamém criamos linhas específicas de patrimônio cultural nos editais de cultura para engajar os agentes culturais da cidade na missão de preservação do patrimônio", lembra o subsecretário.

Rodriguez destaca a importância das parcerias com entidades de outros setores para viabilizar melhorias nas edificações tombadas. Um exemplo é a parceria com o Turismo na Casa de Chá, que passou por uma revitalização completa após um acordo com o Senac. "Estamos em tratativas para realizar uma iniciativa semelhante no Espaço Lucio Costa, também na Praça dos Três Poderes. Mas, acima de tudo, acreditamos que o fundamental é a educação patrimonial. Costumo dizer que só protegemos o que amamos e só amamos o que de fato conhecemos."

*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho

 


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