Por Laíza Ribeiro* — O câncer infantojuvenil é a principal causa de óbitos nessa faixa etária. No Brasil, são 7,9 mil casos e 2,5 mil mortes. No Distrito Federal, são 130 casos. Ao CB.Saúde — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília — de ontem, a oncologista pediátrica Alayde Vieira Wanderley falou sobre a importância de uma boa rede de atenção primária no diagnóstico da doença. Na entrevista às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, ela também alertou sobre os sintomas que precisam ser observados em crianças.
Como é a realidade no Brasil comparada ao resto do mundo?
Quando a gente pensa em países de alta renda, a criança com diagnóstico de câncer tem 80% de chances de cura, dependendo do tipo de câncer. Nos países de baixa renda, essa mesma criança, com essa mesma patologia e a mesma idade, a taxa de cura cai para 50%. Então, isso começa a refletir a realidade no nosso país, que é um território intercontinental, com suas carcteristicas, peculiaridades regionais e desafios. Então, no Brasil, temos diferentes taxas de cura conforme a região.
Em relação à formação, faltam profissionais especializados?
Se a gente fizer um levantamento nas escolas de medicina e enfermagem, dificilmente encontramos disciplina voltada para oncologia pediátrica. Se eu não conheço, eu não penso. E o diagnóstico fica mais tardio. Para o câncer isso é crítico, porque no adulto ele se desenvolve como uma tartaruga, demora anos. Na criança, é muito mais acelerado, acompanha o desenvolvimento. E os sintomas iniciais são muito parecidos com doenças comuns da infância.
Hoje, quais os cânceres mais comuns em crianças?
O mais comum são as leucemias, seguidas dos tumores do sistema nervoso central, os cerebrais, e, depois, os linfomas. A leucemia aparece principalmente entre 3 e 5 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade, até em bebês. Os tumores ósseos são mais comuns na adolescência, na fase do estirão do crescimento.
Quais sinais os pais devem observar e que podem indicar câncer?
Febre que persiste por mais de 15 dias, dores no corpo, nas pernas e braços, palidez progressiva, manchas roxas sem trauma, sangramentos em excesso, aumento da barriga, vômitos associados a dor de cabeça. Tudo isso pode indicar leucemia, tumores abdominais ou cerebrais. São sintomas comuns, mas, quando persistem, precisam ser investigados.
Existe prevenção para o câncer infantil?
Não. Diferentemente dos adultos, nos quais há fatores de risco como alimentação e sedentarismo, no câncer infantil a principal arma é o diagnóstico precoce. Não temos rastreamentos como mamografia ou PSA. Por isso, reforço: não sejam pais de pronto-socorro. Levem seus filhos às consultas regulares com o pediatra. Muitas vezes, o câncer é descoberto em um exame de rotina, porque no início não dói.
O que acontece quando o diagnóstico demora?
Na criança, o câncer é muito mais acelerado, acompanha o desenvolvimento. Se eu atraso o diagnóstico, a doença já avança. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de cura, menos agressivo o tratamento e maior a chance de devolver essa criança à sociedade.
Crianças respondem melhor ao tratamento do que adultos?
Sim. Enquanto muitas quimioterapias em adultos são paliativas, na pediatria a maioria é curativa. O câncer cresce rápido, mas também responde muito bem ao tratamento. As crianças se recuperam rápido, até de cirurgias, e isso é uma vantagem. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de cura, menos agressivo o tratamento e maior a chance de devolver essa criança à sociedade.
*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
Saiba Mais
