Legado histórico

Saiba como JK decidiu sobre o Alvorada e o Brasília Palace no Sítio Castanho

Há exatos 69 anos o avião presidencial trazendo Juscelino Kubitschek e sua comitiva sobrevoava o aeroporto Vera Cruz, localizado onde hoje fica a Rodoferroviária

Primeira visita de JK ao Sítio Castanho - 2 de outubro de 1956. Juscelino Kubitschek ao lado do governador Juca Ludovico e do general Teixeira Lott. Presente ainda, entre outros, o general Nelson de Mello, Chefe da Casa Militar; o governador da Bahia, Antônio Balbino; Israel Pinheiro, presidente da Novacap; Bernardo Sayão, vice-governador de Goiás; Altamiro Pacheco, presidente da Comissão de Cooperação; o arquiteto Oscar Niemeyer; Ernesto Silva, diretor da Novacap. E os jornalistas: José Morais, Secretário de Impresa do Catete; Francisco de Magalhães, da Agência Nacional; Alberto Homisi, de O Globo; Batista de Paula, da Última Hora; Armando de Paula, da Manchete; e Hebert Richers, cinegrafista.
 -  (crédito: Arquivo)
Primeira visita de JK ao Sítio Castanho - 2 de outubro de 1956. Juscelino Kubitschek ao lado do governador Juca Ludovico e do general Teixeira Lott. Presente ainda, entre outros, o general Nelson de Mello, Chefe da Casa Militar; o governador da Bahia, Antônio Balbino; Israel Pinheiro, presidente da Novacap; Bernardo Sayão, vice-governador de Goiás; Altamiro Pacheco, presidente da Comissão de Cooperação; o arquiteto Oscar Niemeyer; Ernesto Silva, diretor da Novacap. E os jornalistas: José Morais, Secretário de Impresa do Catete; Francisco de Magalhães, da Agência Nacional; Alberto Homisi, de O Globo; Batista de Paula, da Última Hora; Armando de Paula, da Manchete; e Hebert Richers, cinegrafista. - (crédito: Arquivo)

Por - Jorge Henrique Cartaxo é jornalista e diretor de Relações Institucionais do IHGDF e Lenora Barbo é arquiteta e diretora do Centro de Documentação do IHGDF

Em outubro, no Planalto Central, o clima é ameno — entre 18 e 30 graus, especialmente nas primeiras horas da tarde. Não raro, o vento sopra suave e aconchegante. Os ipês ainda estão floridos; o céu, com raras nuvens, sempre resplandece em nosso infinito mar azul. Em outros tempos, no horizonte, estendia-se o seco-verdejante do exuberante Cerrado.

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Assim deveria estar o dia naquela manhã de 2 de outubro de 1956, às 11h40 — há exatos 69 anos (este artigo foi escrito em 2 de outubro de 2025, na última quinta-feira) — quando o avião presidencial, trazendo Juscelino Kubitschek e sua comitiva, pela primeira vez ao Sítio Castanho, sobrevoava o aeroporto Vera Cruz. Localizado onde hoje fica a Rodoferroviária, aquele pequeno aeroporto fora construído em maio de 1955, pelo governador de Goiás, Juca Ludovico, com apoio do então ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Eduardo Gomes, a pedido do presidente da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, Marechal José Pessoa de Albuquerque.

Zirinho era o hábil e reconhecido piloto do pequeno avião do governo de Goiás, que havia conduzido o governador Juca Ludovico, o vice-governador Bernardo Sayão e o presidente da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital, Altamiro de Moura Pacheco, para recepcionar JK. Depois do terceiro sobrevoo do avião presidencial, percebendo a insegurança do piloto da FAB em identificar a pista de pouso, Juca Ludovico ordenou que Zirinho decolasse com seu teco-teco e guiasse o avião presidencial até a aterrissagem.

Sempre em seu estilo cativante, Juscelino — agora acompanhado de outro grupo que havia pousado em seguida — cumprimentou as autoridades goianas já com indagações e inquietações. Queixou-se da precariedade do aeroporto e interrompeu o diálogo entre Altamiro Pacheco e o ministro da Guerra, Marechal Lott:

— Altamiro, quantos alqueires de terra já desapropriou?

— Até o momento, por compra amigável, devidamente registrada, 25.000 alqueires geométricos.

— Por que geométricos?

— Porque o alqueire goiano corresponde ao dobro do alqueire paulista.

— Qual a posição das terras adquiridas em relação ao sítio?

— Presidente, essa pergunta melhor poderia ser respondida na sala próxima, onde tenho mapas e documentos do nosso serviço.

"Sobre uma improvisada mesa de madeira, os senhores José Ludovico, Bernardo Sayão e Altamiro Pacheco mostraram ao presidente; aos ministros da Guerra, Marechal Lott, e da Viação, Lúcio Meira; ao deputado Israel Pinheiro; e demais acompanhantes, os mapas da região e o croqui do Núcleo Residencial Pioneiro a ser levantado na Fazenda Gama. Na ocasião, o sr. Altamiro Pacheco apresentou ainda uma exposição sobre o andamento dos trabalhos de desapropriação das terras, bem como dos planos rodoviários e ferroviários que atenderiam a futura capital. Os informes foram feitos com tal segurança e objetividade que motivaram elogios do presidente Juscelino Kubitschek", escreveu o jornalista Eliezer Penna, em reportagem publicada na primeira página de O Popular, em 4 de outubro de 1956.

Antes de encerrar sua exposição, Altamiro Pacheco respondeu a duas indagações diretas de JK:

— Qual o tempo necessário para a construção da capital?

— Três anos e seis meses. As terras suficientes para o empreendimento estão à disposição do governo, e o preparo psicológico do brasileiro em torno do assunto já está feito.

— Veja como são as coisas. O Marechal José Pessoa pediu-me 20 anos, Jerônimo Coimbra Bueno, 10, e você, Altamiro, três e meio. Israel — disse o presidente, após breve pausa —, dou-lhe três anos e 10 meses, nem mais um dia.

Esclarecidas as primeiras questões do presidente, a comitiva seguiu em direção ao Gama, percorrendo trechos do Sítio Castanho. O general Nelson de Melo, antes do embarque nos automóveis, determinou que os pilotos levassem os aviões para o recém-construído aeroporto do Gama. No mesmo veículo, dirigido por Amélio Napoleão, estavam JK, Altamiro Pacheco, Marechal Lott, Israel Pinheiro e Juca Ludovico. Após cruzarem os córregos Guará e Vicente Pires, já nas margens do Córrego Fundo, o presidente pediu uma parada. Fizeram um breve lanche enquanto ele examinava o mapa, atento ao percurso e aos detalhes da área. Passaram por uma pedreira, onde alguém sugeriu que fosse construída a sede da Novacap, mas JK rejeitou a ideia. Seguiram então para a cabeceira do Gama, local onde seria erguido, sob direção de Niemeyer, o Catetinho. Encantado com o olho d'água, em chaminé de pedra, cuja vazão movia a usina elétrica da fazenda do Gama, o presidente não escondeu sua admiração.

Em seguida, pediu a Altamiro Pacheco o mapa do Sítio. Estudando-o, indicou os locais onde gostaria que fossem erguidos o Palácio da Alvorada e o Brasília Palace Hotel. "Acompanhe-me em seu teco-teco e mostre-me estes locais. Não podendo ir até lá, quero vê-los do avião", disse Juscelino. Pilotado por Zirinho, o teco-teco decolou com o presidente, Israel Pinheiro, Altamiro Pacheco e o ministro Lúcio Meira. "Sobrevoada a região, inclusive a Cachoeira do Paranoá, e identificados os locais escolhidos, assim que desceu do avião, o presidente Juscelino, rodeado pela caravana e visitantes, deu ordens a Israel para iniciar as obras na semana seguinte", revelou Altamiro Pacheco em suas memórias.

Médico, farmacêutico, pecuarista e intelectual refinado, Altamiro de Moura Pacheco já era um homem rico e festejado em Goiás quando assumiu, em 8 de outubro de 1955, a estratégica Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital, a convite do governador Juca Ludovico. A solenidade ocorreu no Palácio das Esmeraldas. A comissão faria parceria com a Comissão de Localização da Nova Capital, presidida pelo Marechal José Pessoa.

Integravam ainda a Comissão: Dom Abel Ribeiro Camelo (vice-presidente), o jornalista Jaime Câmara, Aníbal Jaiah, José Bernardo Félix de Sousa, Joaquim Câmara Filho, Domingos Francisco Póvoa, Antônio Ferreira Pacheco, José Monteiro do Espírito Santo e Geraldo Vale. Já nas primeiras reuniões, a Comissão decidiu criar um escritório móvel para compra de terras, inaugurado em Luziânia no dia 19 de maio de 1956. No entanto, a primeira gleba da fazenda Bananal, dentro do Sítio Castanho, com 4.330 alqueires, pertencia a Jerônimo José da Silva e Jorge Pelles, já havia sido adquirida no dia 30 de dezembro de 1955. A escritura foi assinada em solenidade no Palácio das Esmeraldas pelo governador Juca Ludovico, Altamiro Pacheco, o secretário da Fazenda e os antigos proprietários.

Cumprindo as orientações jurídicas, o engenheiro-chefe da Subcomissão Técnica, Joffre Mozart Parada, visitou as propriedades que integravam a área demarcada. Priorizando as desapropriações amigáveis, orientou-se por fotografias aéreas adquiridas. Em 19 de maio de 1956, delimitou 1.634,02 alqueires geométricos da fazenda Guariroba. No mesmo dia, fez o reconhecimento das cabeceiras do Córrego Vicente Pires. Em 21 de maio, em Planaltina, Salvador Ribeiro de Freitas passou a escritura de 860 alqueires geométricos, parte restante da fazenda Bananal. Completava-se, assim, o sítio da Nova Capital. Em 1º de junho, Joffre Parada e o engenheiro Marcelo Caetano definiram os perímetros das fazendas Ponte Alta e Taveira. 

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postado em 05/10/2025 05:12
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