
O jornalista Luiz Recena Grassi morreu na madrugada desta terça-feira (14/10), aos 73 anos. Ele enfrentava problemas de saúde e estava sob cuidados médicos nas últimas semanas. O corpo foi velado, também na terça, no Cemitério Campo da Esperança, e será cremado nesta quarta-feira (15/10). Recena deixa a esposa e jornalista, Rozane Oliveira, e dois filhos: Jaime Recena, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (ABICAB), e o jornalista Diego Recena, coordenador de comunicação do Senac-DF.
Em depoimento ao Correio, Diego destacou que o pai tinha vocação para ser jornalista. "Tudo virava história para contar ou notícia para escrever. Era muito generoso com as pessoas e carinhoso com os amigos. Passou por jornal impresso, rádio e televisão, além de ter sido colaborador de uma série de jornais, agências e veículos ao redor do mundo", contou.
Ele lembrou que, como correspondente internacional, Recena passou oito anos na extinta União Soviética, em Moscou, na época da Perestroika, e depois mais um bom tempo na França, em Paris. "Foi o primeiro jornalista brasileiro a entrar na usina de Chernobyl após o acidente nuclear, entrevistou muitas lideranças internacionais, como Mikhail Gorbatchov e Fernando Henrique Cardoso, cobriu atentados a bomba, esteve na Faixa de Gaza, falou com Fidel Castro, fez uma reportagem com Gabriel Garcia Márquez e muitas outras matérias importantes sobre os personagens da vida real brasileira", ressaltou.
Diego comentou que o pai sempre foi muito amoroso, um companheiro apaixonado, um tio querido, um amigo de todas as horas e, mais recentemente, um avô dedicado. "Amante da vida, aproveitou ao máximo cada momento. Fica o legado para sempre", descreveu o filho.
Trajetória
Com uma carreira de mais de quatro décadas na imprensa, Recena acumulou passagens marcantes por importantes veículos nacionais e internacionais. Entre 1982 e 1985, trabalhou na Rede Globo de Televisão, como chefe de reportagem, além de editor do Jornal Nacional e do Jornal da Globo. Foi repórter especial do Correio Braziliense, entre 1986 e 1997, período em que trabalhou como correspondente internacional em Moscou e Paris.
Entre 1988 e 1992, colaborou com a agência russa Tass, no serviço de notícias em português, e simultaneamente foi correspondente para veículos como Jornal do Brasil, Agência Estado, Rádio Eldorado, Diário de Notícias (Lisboa) e Deutsche Welle. De 1998 a 2004, foi diretor de redação da Gazeta Mercantil, também assumindo a direção-regional das sucursais de Brasília, Recife e Rio de Janeiro. Em 2005, comandou a reformulação editorial da Tribuna do Brasil como editor-chefe.
Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 1975, Recena era um profissional respeitado e voz atuante na imprensa brasiliense. Também era reconhecido por sua postura crítica, integridade e dedicação ao ofício jornalístico.
Escritor, lançou em 2009, pela editora SENAC/DF, o livro Baco — em busca da pizza perfeita, que narra a história dos 10 anos do restaurante. Outra obra foi Rússia condenada, a primeira guerra mundial com alta tecnologia, resultado do período como correspondente no exterior. Foi editor responsável pela obra Constituição & Democracia.
Ao Correio, o chef fundador da Casa Baco, da Baco Pizzaria e da Fina da Baco, Gil Guimarães, relembrou o início da amizade com Recena. "Ele foi um grande amigo, foi o primeiro jornalista que olhou para gente, que nos apoiou", recordou. Guimarães destacou a saudade que o amigo deixará. "Era um cara inteligente, um humor irônico impressionante, um coração enorme. Vai deixar saudades e aprendizados", lamentou.
Despedida
O velório de Luiz Recena teve a presença de amigos, familiares, autoridades e jornalistas. Entre os presentes, o deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), o jornalista Armando Rollemberg e o ex-presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) Hélio Doyle
Rodrigo Rollemberg postou uma homenagem a Recena nas redes sociais. "Luiz Recena, uma das figuras mais simpáticas que conheci. Sua presença transbordava generosidade e alegria. Jornalista reconhecido e querido. Botafoguense de primeira qualidade. Pai de um dos meus melhores amigos, nosso Jaime Recena. Vai e fica com Deus, amigo", escreveu o parlamentar, em postagem no Instagram.
O jornalista Geraldo Seabra, que mora em Pernambuco, também falou sobre o amigo Luiz Recena. "A última vez que conversamos foi por ocasião do lançamento do seu livro, quando irrompeu a guerra na Ucrânia. Recena foi um repórter completo, com uma grande obra jornalística tanto no Brasil quanto no além-mar. Sua correspondência internacional fica registrada como brilhante, tanto quando trabalhou em Paris quanto em Moscou", relembrou.
"O que eu mais gostava nos textos do Recena era a conexão que ele fazia entre o fato que estava registrando e a história que existia por trás daquele acontecimento. Com isso, ele contextualizava e facilitava o entendimento do leitor, como e por que aquilo estava acontecendo. Com a partida de Recena, fica a orfandade dos seus belos textos. Descanse em paz, meu irmão", disse Seabra.
Amigo de longa data, Marco Veronese também elogiou Luiz Recena. "Um humano de imensa dignidade. Sempre sorridente, animado, otimista, corajoso. Companheiro sempre, desde pelas melhorias do melhor viver do Lago Norte e de toda Brasília até as permanentes lutas pela justiça e igualdade sociais. Os muitos que o amavam estão sofrendo", descreveu.
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