MEIO AMBIENTE

Ações em defesa do Cerrado devem ser levadas à COP30, em Belém

Instituto Sociedade Preservação e Natureza faz campanha para levar à conferência internacional propostas sobre a preservação do bioma que abastece algumas das principais bacias hidrográficas do Brasil e que está sob risco

 28/10/2025. Ed Alves CB/DA Press. Cidades. Cartazes referente ao Cerrado - Cop 30. 113/114 Norte - 213/214 Norte. -  (crédito:  Ed Alves CB/DA Press                                    )
28/10/2025. Ed Alves CB/DA Press. Cidades. Cartazes referente ao Cerrado - Cop 30. 113/114 Norte - 213/214 Norte. - (crédito: Ed Alves CB/DA Press )

Mais de 50% da vegetação nativa do Cerrado foi desmatada. A destruição silenciosa do segundo maior bioma do Brasil ameaça os grandes rios do país, reduz o volume de água e intensifica as mudanças climáticas nacionais e mundiais. Diante desse cenário, nasceu a campanha do Instituto Sociedade Preservação e Natureza (ISPN), "Cerrado, Coração das Águas", criada em celebração ao Dia Nacional do Cerrado, em 11 de setembro, que será levada à COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, marcada entre 10 e 21 de novembro deste ano, em Belém.

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Segundo informações do ISPN, em algumas propriedades rurais, até 80% da área pode ser legalmente desmatada. Além disso, estudos indicam que o volume de água em rios do bioma caiu quase 30%, e a previsão é de que 35% dos rios sequem até 2050. O bioma, conhecido como o berço das águas, abastece oito das 12 principais bacias hidrográficas do país, entre eles os rios São Francisco, Tocantins, Araguaia, Xingu e Paraná. O Cerrado desempenha um papel crucial na regulação do clima e na segurança hídrica e energética nacional.

Ameaças

Para a ecóloga Isabel Benedetti Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado do ISPN, o objetivo é que a campanha ecoe na COP30, reforçando a importância do Cerrado no combate às mudanças climáticas. "O Cerrado é, hoje, o bioma mais desmatado do país, com a velocidade de destruição mais acelerada. Foi o mais desmatado em 2023 e 2024. Essa degradação contribui fortemente para as emissões de gases de efeito estufa no Brasil, que têm no desmatamento sua principal fonte", alertou a ecóloga.

  •  Catia Dutra:
    Catia Dutra: "O Cerrado é a extensão da nossa vida, é tão importante quanto qualquer outro bioma" Ed Alves/CB
  • Josimar Soares:
    Josimar Soares: "Esses cartazes chamam atenção. Às vezes, a pessoa publica nas redes sociais, e isso vai alcançando mais gente" Ed Alves/CB
  • Mirtes Matiko:
    Mirtes Matiko: "Se continuar, vai faltar água, vai faltar ar limpo" Fotos: Ed Alves/CB

O Cerrado ocupa um quarto do território brasileiro e é considerado a savana mais biodiversa do planeta. Para Isabel Figueiredo, o bioma é essencial não só pela biodiversidade, mas também pela regulação do clima e pela segurança hídrica e energética. "Toda a água do Pantanal vem do Cerrado, assim como a do rio São Francisco. O sistema hidrelétrico brasileiro depende dele, inclusive Itaipu. No momento em que ocorre o desmatamento, o carbono armazenado no solo e nas raízes profundas é liberado para a atmosfera, agravando o aquecimento global", explicou.

A especialista reforçou que mais da metade do desmatamento anual do Brasil ocorre no Cerrado, o que torna urgente ampliar os investimentos e a atenção internacional sobre o bioma. "Esperamos que a COP30 traga visibilidade e recursos para o Cerrado. Há uma concentração de financiamentos para florestas, mas o Cerrado é igualmente importante para a conservação da Amazônia e da Mata Atlântica. Precisamos converter esforços e trazer mais apoio para frear o desmatamento nessa região", defende Isabel.

Isabel explicou que a campanha nasceu da urgência de sensibilizar a sociedade sobre a importância do bioma. "O Cerrado é muito generoso e distribui água para diversas bacias hidrográficas. Ele é essencial para a manutenção dos biomas vizinhos e para o equilíbrio climático do país", afirmou a especialista.

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A campanha também conta com uma série de quatro documentários: Cerrado, Coração das Águas, que mostram a conexão do bioma com a Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Caatinga. O instituto fez a exibições dos filmes no último fim de semana no Sesi Lab. As produções também foram divulgadas no Cine Brasília. "A gente vem tentando trazer esse conteúdo para dentro dos espaços públicos também, para a sociedade geral ter acesso a esse conteúdo e saber da importância dele", reforçou a ecóloga. 

O instituto, que tem 35 anos de atuação, é uma organização não governamental sediada em Brasília e no Maranhão. O objetivo do coletivo é trabalhar em prol do desenvolvimento social com equilíbrio ambiental, trazendo protagonismo para povos, comunidades tradicionais, agricultores familiares, que são os verdadeiros promotores da conservação ambiental. A iniciativa reúne diversas organizações como WWF-Brasil, Funatura, Instituto Cerrados, Instituto de Pesquisas da Amazônia e a Rede Cerrado.

Mobilização no DF

Enquanto a campanha se prepara para levar a voz do bioma até Belém, o Distrito Federal também tem sido palco de ações de conscientização. Movimentos independentes têm realizado intervenções urbanas com cartazes e instalações em locais públicos para chamar atenção dos moradores da cidade sobre o tema. Para Catia Dutra, 48 anos, as intervenções ajudam a despertar a consciência ambiental da população do DF. "A gente está integrado ao meio ambiente. Tudo o que fazemos hoje reflete amanhã. O Cerrado é a extensão da nossa vida, é tão importante quanto qualquer outro bioma", destacou.

Cristina Queiroz, 43, reforçou que cuidar da natureza é cuidar da própria humanidade. "A gente e a natureza somos uma coisa só. Destruindo o Cerrado, estamos destruindo nós mesmos", disse. Mirtes Matiko também destacou que preservar o bioma é preservar a própria vida e o futuro das próximas gerações. "Precisamos pensar nos nossos filhos e nos netos. Se continuar desse jeito, vai faltar água, vai faltar sombra, vai faltar ar limpo. É importante que cada um faça a sua parte, porque o cerrado é a nossa casa", afirmou.

Mapa-Cerrado
Mapa-Cerrado (foto: Valdo Virgo)

Outro pedestre que passava pelas intervenções nas tesourinhas da 213/214 e 113/114 Norte, Josimar Soares, 35, acredita que a divulgação nas ruas é essencial. "Esses cartazes chamam atenção. Às vezes, a pessoa tira uma foto e publica nas redes sociais, e isso vai alcançando mais gente. Cuidar do meio ambiente é cuidar do futuro da humanidade", afirmou.

 


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postado em 31/10/2025 06:07 / atualizado em 31/10/2025 11:25
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