Foi instaurada, nesta terça-feira (4/11), a CPI do Crime Organizado no Senado Federal. Em entrevista ao programa CB.Poder — uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília — a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), detalhou às jornalistas Denise Rothenburg e Ana Maria Campos as principais ações relacionadas ao combate das facções criminosas, como o chamado Consórcio da Paz, em conjunto com governadores de outros estados. Além disso, a gestora comentou sobre ações contra a violência na capital, incluindo uma pesquisa sobre o retrato do feminicídio. Ela explicou, também, o programa de saúde Opera-DF.
Como a criação do Consórcio da Paz pode ajudar no combate ao crime organizado?
Acredito que o consórcio (formado por sete governadores de centro-direita) vai conseguir trazer agilidade, na parte da inteligência de informações, porque a percepção é que existe um descompasso entre a atualização das polícias do Brasil e do crime organizado. Aquelas organizações criminosas de 1988, quando foi instituída a Constituição Federal, não são as mesmas de hoje. O crime organizado envolve lavagem de dinheiro e está presente em todas as áreas da sociedade, causando um prejuízo enorme, porque ele concorre de forma desleal com aquele empresário que está tentando realmente empreender. Esse descompasso faz com que não tenhamos instrumentos para enfrentar o problema. Então, o consórcio surge para agilizar essa troca de informações, com um banco de dados único entre os estados. Então, teremos essa cooperação de dados, desde aquelas pessoas que estão praticando delitos, até aquelas que estão ligadas a facções criminosas, ao tipo de padronização de atendimento dentro dos presídios. Como é que podemos deixar o crime organizado atuando dentro dos nossos presídios? Precisamos ter ações uniformizadas em todos os estados. Por exemplo, o criminoso faccionado não pode ter direito a visita íntima. Ele não pode ter direito a estar falando com o advogado dele sem ter um monitoramento. Isso requer uma visão estratégica. Assim, penso ser uma grande oportunidade, não só dos governadores de centro-direita, mas dos governadores do país inteiro de compartilhar informações, de trazer soluções imediatas, porque a percepção que se tem é que quem está preso é a população.
Sobre a operação no Rio de Janeiro, o que de fato aconteceu?
Quando o Partido Socialista Brasileiro (PSB) entrou com a ação Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) das Favelas, até o julgamento final, houve várias liminares que impediram as ações dentro das favelas. Quando o crime organizado soube que lá não teria polícia, se instalou. Mas eles não se instalaram só para se esconder, eles se instalaram colocando aquela população debaixo de um jugo. A comunidade não podia trazer compras de fora, precisava comprar do supermercado do tráfico, não podia ir para qualquer lugar, a facção fazia controle, não podia entrar em qualquer tipo de carro, pois tinha barricada. Então a população, que recebia um salário fixo, mensal, ficou refém de preços do mercado do tráfico. As jovens meninas eram entregues aos traficantes, que as escolhiam. É uma ferida que foi exposta na operação. Também existe o exército do tráfico, aqueles homens foram altamente treinados para matar e para morrer. Eles estavam prontos para ter um combate com a polícia. Porque aqueles 120 criminosos que não quiseram combater, se renderam e foram presos, vão responder por um processo legal. É uma questão de soberania nacional, se escolhe enfrentar a segurança pública, pode matar um policial, mas você pode morrer também.
Como o DF pode auxiliar nesse caso, além de oferecer serviços de inteligência?
Nós temos uma polícia especializada, numa situação como essa, você tem que ter um policiamento altamente treinado. A operação do governador Cláudio (de Castro), do Rio de Janeiro, deu certo, porque ele usou uma polícia muito especializada naquela região e conseguiu levar todo o conflito para uma área de mata, para que preservasse a população. Hoje, as nossas forças policiais, não treinam apenas os agentes do Distrito Federal, fazemos treinamentos para várias outras polícias militares do Brasil e também da Polícia Civil, que é altamente especializada. No caso, se o Cláudio vier a precisar, seria essa polícia especializada, que tem o treinamento de choque, o treinamento do Bope, que tem um treinamento mais específico para lidar com esse tipo de situação. As imagens demonstraram que, quando um policial desse entra em um confronto, ele não sabe se ele vai sair, está enfrentando um fuzil de alta tecnologia, está enfrentando um drone c om explosivos. Então precisa-se de homens e de mulheres capacitados para esse tipo de situação, com um treinamento altamente qualificado.
Como está sendo feita a pesquisa sobre o retrato do feminicídio no DF?
Essa pesquisa do IPDF é inédita, nunca aconteceu no país um instituto público fazer um levantamento sobre violência contra as mulheres. Eu acredito muito na pesquisa, na ciência, nos rumos que essa pesquisa pode nos apontar. São mais de 5 mil questionários e nós vamos também entrevistar feminicidas para entender aquele momento, a cabeça deles, as motivações internas e externas. É uma pesquisa muito profunda, fui eu que me dediquei pessoalmente sobre isso, não tem no Brasil, (hoje) são dados soltos e estamos tendo essa oportunidade de fazer essa pesquisa, que está nas ruas, vamos atuar em todas as regiões administrativas para que tenhamos um campo de amostra bem robusto e possamos combater com dados técnicos a violência contra as mulheres no Distrito Federal. Esses dados serão utilizados em políticas públicas, para direcionar o trabalho.
Na área de saúde, Como está funcionando o programa Opera-DF?
Já operamos cerca de mil pessoas, temos 16 hospitais particulares, convênios. Nós tivemos um problema de anestesistas que demoramos três anos para resolver. Primeiro, precisávamos demonstrar para os órgãos de controle que não tínhamos anestesistas para serem contratados. Fizemos concurso público, eles não tomaram provimento (não assumiram os cargos). Quando conseguimos resolver esse problema este ano. A agora a nossa cirurgia eletiva (de meia complexidade) diária. Mas isso (a fila) se tornou um problema pós-covid, uma fila muito grande, estamos zerando essas filas. Agora, na cirurgia eletiva, fizemos convênios com os hospitais privados — todos estão conveniados — e vamos operar mais ou menos 16 mil pessoas. É um círculo completo: os exames, os diagnósticos e a operação, o privado faz toda essa cadeia. Vamos chegar a 16 mil pessoas.
Assista à íntegra da entrevista:
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
