Por Manuela Sá* — O cuidado com a pele negra foi o tema discutido nesta quinta-feira (27/11) no programa CB. Saúde — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Às jornalistas Sibele Negromonte e Rosane Garcia, o membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Skin of Color Society André Moreira falou sobre precauções e fatores de risco para pessoas com a pele negra. Ele também afirmou que crianças que sofrem racismo apresentam um quadro de dermatite pior do que as que não foram expostas. Além disso, o racismo dificulta o acesso a serviços de saúde.
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Existem vários mitos sobre a pele negra — que não precisa passar protetor solar, que é mais resistente, que não vai ter câncer de pele. O que é mito e o que é verdade?
Todos nós envelhecemos e estamos sujeitos aos efeitos do tempo e do ambiente ao nosso redor. Então, assim como uma pessoa branca tem o risco de ter uma lesão maligna na sua pele, eu também tenho esse risco. Cada um de nós carrega esse risco no nosso DNA. Ele aumenta e diminui pelo que a gente faz em nossas vidas. Ambos, negros e brancos, têm possibilidade de ter o câncer de pele e vão sofrer os efeitos do tempo. O que vai variar entre uma pessoa e outra é a maneira como isso acontece e o risco. Portanto, todos nós precisamos de hábitos de atenção e cuidado com as nossas peles para que tenhamos a nossa vida saudável com a pele saudável.
A pessoa de pele negra tem mais propensão ou menos propensão em relação a uma pessoa de pele branca?
Preciso responder a essa pergunta avaliando dois aspectos: o fisiopatológico da doença e o acesso a serviços de saúde. Se pegamos os guias de atenção do Sistema Único de Saúde, da Saúde da População Preta de 2017, vemos que, no SUS, a população que mais tem acesso ou atenção à saúde é a branca. Nesse aspecto, a pessoa preta está mais propensa a ter um problema grave de pele. Quando a gente fala da questão, de fato, do acometimento da doença, temos frequências diferentes quando avaliamos diferentes peles. A pessoa branca, por exemplo, envelhece por conta de um fotodano mais marcado. Ou seja, a luz e o sol têm um efeito negativo na pele dela maior, se comparado com a pessoa de pele preta. Isso acontece enquanto nós, pessoas de pele preta, temos as perdas de volume, o nosso colágeno vai perdendo qualidade e a gente tem esse descenso da pele. Outras doenças inflamatórias, a dermatite atópica, por exemplo, que causa um ressecamento na pele, é muito mais grave nas pessoas de pele preta do que nas pessoas de pele branca. Trago um dado triste: as crianças que são expostas à situação de racismo, de segregação social, elas ainda têm um quadro de dermatite muito pior do que aquelas que não têm. Há um fator psicológico. O racismo, além de dificultar o acesso, ainda piora a doença dessas crianças. São questões que a gente tem que olhar individualmente a cada doença que nós estamos analisando.
Sobre a questão da dificuldade de acesso estar muito ligada ao racismo, como o senhor avalia?
Há alguns anos, eu fiz uma entrevista em que falei que a dermatologia era racista. Nela, eu trouxe dados de que apenas 3% das imagens nos principais livros de dermatologia representavam lesões em pele preta. Eu esperei que a minha sociedade fosse me acolher e falar: 'Nós estamos aí, junto com você, criando movimentos para que a gente consiga modificar isso'. Mas, nessa época, fizeram uma carta repudiando a minha fala. De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje, inclusive, faço parte da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Distrito Federal e nós temos ações e atuações frequentes para tornar a dermatologia cada vez mais inclusiva. A Sociedade Brasileira, agora, lançou um departamento de pele étnica. Mas a mudança tem que ser mais do que regional e local.
Quais são os cuidados que a pessoa negra tem que ter consigo para evitar esses danos à pele, que envelhecem mais ou podem levar ao câncer e outras patologias?
Todo mundo precisa de três passos: cuidar, limpar, proteger. Todos precisam de um sabonete adequado. Se você tiver acesso a um dermatologista, ele vai oferecer um sabonete adequado para o seu tipo de pele. Todo mundo precisa usar um protetor solar, mesmo dentro de casa, porque nós estamos sujeitos a telas e à iluminação interna. É preciso também ter uma molécula de tratamento, um produto específico para sua demanda, naquele momento. Eu entendo que não é todo mundo que tem acesso, mas se você consegue, tenha um dermatologista para chamar de seu, porque ele é o melhor para prescrever uma rotina de cuidado adequada.
Assista à entrevista
*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
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