Entrevista

A cada três casos de câncer, um é de pele, alerta médico

Especialista destaca que é necessário reforçar a prevenção contra os raios solares. Para ele, trabalhadores que atuam sob o sol são os que mais precisam se cuidar com medidas como uso de protetor e óculos escuros

 04/12/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF -  Carlos Barcaui, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é o entrevistado do CB.Saúde -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
04/12/2025 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Carlos Barcaui, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é o entrevistado do CB.Saúde - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) mostram que 96 milhões de brasileiros não têm acesso a dermatologistas. Esse número assusta, principalmente em um país tropical, como o Brasil, onde o câncer de pele representa um terço de todos os diagnósticos dessa doença (dados do Ministério da Saúde). Segundo Carlos Barcaui, presidente da SBD, a campanha Dezembro Laranja visa reforçar a importância dos cuidados com a pele. No programa CB.Saúde — parceria entre o Correio Braziliense  e a TV Brasília — de ontem, ele ressaltou às jornalistas Adriana Bernardes e Sibele Negromonte a importância do uso de protetor solar, roupas e acessórios adequados, principalmente para pessoas que trabalham sob os raios solares.

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Com a chegada do verão, muitas pessoas se preparam para ir à praia. Qual é a preocupação da SBD e a importância do Dezembro Laranja?

O mês de conscientização contra o câncer de pele nasceu de uma campanha que a SBD realiza desde 1999. Em 2014, pensamos que seria melhor fazer um mês inteiro de conscientização em vez de somente um dia. Na quarta-feira, estivemos na Câmara dos Deputados e sugerimos que a conscientização deveria ser realizada em todos os meses do ano. Desde de 2014, realizamos a ação em um dia específico de atendimento. Neste ano, vai ser no sábado, 13 de dezembro, quando teremos cerca de 100 postos de atendimento no Brasil inteiro. Diversos profissionais irão fazer o check-up cutâneo visando o diagnóstico. Nessas atuações, já conseguimos diagnosticar mais de 180 mil casos de câncer ao longo desses anos. 

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Como está o índice de câncer de pele no país? As pessoas estão conscientizadas?

A cada três casos de câncer, um é de câncer de pele. Fizemos uma pesquisa recentemente, junto ao Datafolha, mostrando que 96 milhões de brasileiros nunca tiveram acesso ao dermatologista, muito menos a percepção de risco de que estão se expondo de maneira inadequada ao sol. Mesmo com muitas informações, eu acredito que a gente esbarra na questão do acesso e da cultura do bronzeado, que é muito enraizada na América do Sul, por conta da estética. O desconhecimento de pessoas que trabalham sob o sol, como agricultores, trabalhadores da construção civil, salva-vidas e a população ribeirinha, por exemplo, (aponta que) deveriam receber um subsídio para se proteger melhor e também para ter mais orientação sobre os perigos dessa exposição. Eu também acredito que o protetor solar deveria virar um Equipamento de Proteção Individual (EPI) para essas pessoas. 

O protetor solar é o melhor instrumento para prevenir a doença?

Sim. Mas, é importante ressaltar que o câncer de pele é multifatorial, existe também uma contribuição genética aliada à exposição aos raios ultravioletas. Essa última é a única que a gente pode alterar. Sem dúvida, trabalhar na proteção é fundamental. Essa proteção não está restrita ao uso do protetor. Também compreende a busca pela sombra, se expor no horário adequado — antes das 9h e depois das 15h —, e o uso de itens como chapéu de aba larga, óculos escuros e roupas com proteção anti-ultravioleta. É importante também falar que é necessário utilizar o protetor solar de forma adequada, passando de novo periodicamente e sempre atento ao suor e à água, que podem tirar o produto da pele.  

A que sinais devemos estar atentos?

Essa é uma pergunta fundamental. Há dois sinais que chamam muito a atenção. O primeiro é a ferida que não cicatriza, mesmo que use alguma coisa para ajudar na cicatrização. É importante que a pessoa preste atenção nisso — se a ferida chega a melhorar, mas, depois de um tempo, ela retorna e sangra, pode indicar um possível câncer de pele. A outra queixa é uma pinta nova ou uma mudança em uma pinta que já exista. Uma pessoa que tem a pinta a vida inteira e, de repente, aquela pinta começa a crescer. É um processo que chamamos de ABCDE — "A" de assimetria; "B" de borda irregular; "C" de cor variada; "D" de diâmetro acima de 6mm; e "E" de extensão. É um sinal muito importante para a gente pensar no câncer de pele.

E quais são os tipos de câncer de pele?

Dividimos em dois tipos: não melanoma e melanoma. Do primeiro tipo, temos o carcinoma base celular e o carcinoma espino celular. O base celular é o mais comum, que chega a 80% dos casos e é menos grave. Costuma atingir pessoas com pele mais clara e em regiões onde se pega mais sol. Já o espino celular é um tumor que avança de forma mais lenta e podem aparecer lesões prévias, como aqueles idosos que possuem uma pele áspera com lesões pequenas. Isso pode virar um carcinoma escamoso e até evoluir para metástase, mas não é tão frequente. Além disso, temos o melanoma, que, em geral, é escuro. Apesar de representar apenas 4% dos cânceres de pele, tem uma chance muito grande de metástase e é responsável por quase 80% dos óbitos causados pela doença.

Confira o CB.Saúde na íntegra:

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postado em 05/12/2025 00:01 / atualizado em 05/12/2025 01:03
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