Ceilândia

Da distribuidora à cena do crime: a cronologia do triplo homicídio no DF

Ataque deixou uma quarta pessoa ferida, que segue internada. Polícia investiga desavença por drogas ou vingança como motivações. Câmeras flagraram as vítimas e o atirador momentos antes do crime

Marcas de tiros na parede evidenciaram a violência da ação -  (crédito: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)
Marcas de tiros na parede evidenciaram a violência da ação - (crédito: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)

Era 1h59 da madrugada quando dois casais voltavam para a casa, após comprar bebida alcoólica em uma distribuidora a poucos metros de distância, na Chácara 87 do Sol Nascente, no Trecho 2. Menos de três minutos depois de a última câmera registrar o quarteto — Ariane Nunes, 40 anos, José Raivan Vieira, 44; e Wanderson Rios, 17, e uma jovem, de 20 — na rua, todos haviam sido baleados. Três pessoas morreram. A única sobrevivente foi socorrida e permanece internada.

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O triplo homicídio ocorreu dentro da kitnet onde Wanderson morava, que fica em um lote com outro imóvel. O adolescente pagava R$ 500 mensais pelo espaço de quatro cômodos. Alugou a kit há cerca de três meses, depois de usar nome falso e afirmar ser maior de idade. Para os proprietários e para a vizinhança, Wanderson era, na verdade, Melchior.

Na madrugada dessa quinta-feira (18/12), Wanderson recebeu a visita da namorada, a jovem de 20 anos, e dos amigos José e a companheira dele, Ariane. Ariane morava na Chaparral, em Taguatinga, mas, segundo apurou o Correio, passava os dias em casa e pernoitava em Ceilândia. As imagens mostram o quarteto descendo a rua logo após a compra na distribuidora. A mesma câmera flagrou o atirador: vestido de preto e encapuzado, ele surge a pé, minutos depois, e saca uma arma semelhante a uma pistola 9mm.

Antes de ser levada à sala de cirurgia, a jovem conseguiu falar com os policiais. Disse que o grupo estava dentro de casa bebendo e fumando, quando o homem invadiu e atirou. Foram mais de 15 tiros. O primeiro disparo atingiu José. Em seguida, Ariane e Wanderson foram baleados. A jovem levou um tiro no queixo, outro na perna e um de raspão no braço. Só escapou porque correu para o último quarto e escondeu-se debaixo da cama, contou a jovem. Quando percebeu que o atirador tinha ido embora, correu para a casa da vizinha.

Marcas de tiros na parede evidenciaram a violência da ação
Marcas de tiros na parede evidenciaram a violência da ação (foto: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)

As investigações, conduzidas pela 19ª Delegacia de Polícia (P Norte), apontam para o envolvimento de uma segunda pessoa no crime. Esse comparsa teria atuado como "olheiro" para garantir o "sucesso" das execuções.

De acordo com o delegado Fernando Fernandes, chefe da 19ª DP, a Polícia Civil do DF (PCDF) trabalha com duas linhas de investigação. A primeira hipótese é um possível acerto de contas. Todas as vítimas, exceto a sobrevivente, tinham antecedentes criminais por delitos diversos. Mesmo com 17 anos, Wanderson tinha o apelido de "Malfeito" na comunidade e estaria envolvido no tráfico de drogas. José, vulgo "Professor", era temido e apontado como chefe do tráfico de drogas na QNN 19.

Alvos

"Acreditamos que os alvos do atirador eram José e Wanderson. A segunda suspeita para o ataque seria o envolvimento de uma das vítimas em um homicídio ocorrido em 22 de novembro, na QNN 19", destacou o delegado.

O Correio conversou com a vizinha de Wanderson e responsável por acionar a polícia na madrugada. Ela contou ter escutado os disparos, mas não associou o barulho a tiros. Disse que, ao abrir a porta, a jovem entrou correndo e deitou-se na cama dela, ensanguentada. "Ela disse, primeiro, que o autor estava de capacete, mas acho que se confundiu. Liguei para os bombeiros às 2h03, mas estava muito nervosa e dei o endereço errado. Liguei novamente com o local certo e eles chegaram depois de 2h20 com a polícia. Aí, não dormimos mais", detalhou.

A perícia permaneceu na kitnet até pouco depois das 5h. As marcas de tiros nas paredes dos quartos revelavam a violência da ação. Durante as buscas, os proprietários encontraram um crachá antigo de Wanderson, com o nome verdadeiro. "Só assim descobrimos. Antes disso, a mãe dele ligou perguntando se era ele. Como só o conhecíamos como Melchior, não soubemos responder na hora", disse a vizinha.

Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso.

 

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postado em 19/12/2025 06:00
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