CRÔNICA DA CIDADE

A crônica, minha companhia fiel em 2026

Quando a vontade de poetizar, homenagear ou colocar sentimentos em palavras surge, é muitas vezes esse velho texto dos escribas mais longevos que se apresenta e abraça toda a tentativa de expressar o que vem do fundo da alma

A crônica me salva -  (crédito: Caio Gomez)
A crônica me salva - (crédito: Caio Gomez)

Natural tal qual uma conversa entre amigos, a crônica nasce como um gênero considerado menor e menosprezado na literatura. Talvez até hoje estas linhas escritas semanalmente, ainda que de fiéis como nenhuma outra jamais ousou ou tentou ser, ainda sejam excluídas ou mal faladas por aí. Apesar disso, quando a vontade de poetizar, homenagear ou colocar sentimentos em palavras surge, é muitas vezes esse velho texto dos escribas mais longevos que se apresenta e abraça toda a tentativa de expressar o que vem do fundo da alma.

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Rubem Braga, referência do gênero, e talvez a maior delas, pelo fato de ter se sagrado exclusivamente como cronista — sem outros ofícios nas artes ou nas letras, como foi tão com comum ao longo dos anos, com Clarice, Veríssimo e tantos outros queridos e admiráveis escritores —, resumiu em uma de suas crônicas a responsabilidade de ocupar este lugar. 

"Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito — como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este de viver em voz alta", escreveu o cronista em "A palavra".

Essa que carrega significados múltiplos, ainda mais quando concatenada e exposta junto a suas colegas. Letras unidas em sílabas, que se transformam em períodos e em orações. É a matemática da escrita, que nos vinga, a todos nós que escolhemos as ciências humanas, mesmo que numa batalha silenciosa e de alto nível com os colegas das exatas. Dessas lutas que poderíamos classificar como saudáveis dentro de um ambiente escolar, acadêmico, profissional e, por que não, familiar e de amizades.

O célebre cronista continua, exaltando seu ofício diário com humildade e sutileza característicos: "Às vezes também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesma ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa".

"Alguma coisa que eu disse distraído — talvez palavras de algum poeta antigo — foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas mais remotas esperanças."

É isso que tentei fazer neste ano que passou, e que seguirei fazendo no próximo, se me permitirem vocês, leitores companheiros e generosos destas linhas, por vezes dispersas e filosóficas demais, mas carregadas de gratidão e de esperança.

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postado em 30/12/2025 22:41 / atualizado em 30/12/2025 22:46
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