Cinema

Amazônia e África: destaque em Festival Internacional de Curta-Metragem

13º Curta Brasília — Festival Internacional de Curta-Metragem vai até domingo (14/12) no Cine Brasília. Criadora e diretora do evento, Ana Arruda, e o músico, compositor e artista visual Hodari contam o que o público pode esperar. Correio participa do evento e irá selecionar o melhor filme sobre a cidade

Explorar o potencial múltiplo de criadores de cinema e a representação de um ecossistema diverso que extrapola paisagens e hábitos restritos à capital. Com a proposta, a criadora e diretora do 13º Curta Brasília — Festival Internacional de Curta-Metragem, Ana Arruda, uniu-se ao músico, compositor e artista visual Hodari, responsável por videoclipe (indicado ao Grammy Latino 2025) que marcou a abertura do evento no Cine Brasília (EQS 106/107). Ambos participaram do Podcast do Correio, apresentado pelos jornalistas Isabela Berrogain e Ricardo Daehn.

"O curta-metragem é muito libertário: traz inventiva narrativa e valoriza o tempo do filme. Ao longo de 13 anos, acabamos acompanhando de forma simbólica, nas inscrições para o evento, um inconsciente coletivo de temáticas mais presentes. Durante um período, víamos ações isoladas, com muitas cenas externas. Agora, há os coletivos, que criam ocupações de espaços da cidade e isso se reflete nos movimentos culturais", disse Ana Arruda. 

Com proposta de internacionalização e itinerância, além da reciclagem de cineastas locais, o festival é realizado até domingo, mas como sistemática, os organizadores se dedicam à exibição de filmes curtos o ano inteiro. "Quando entrego um audiovisual, é como se entregasse um prato finalizado, bonito, num bom restaurante", defendeu Hodari. Entre os prêmios distribuídos pelo festival está o da circulação de criadores por eventos em Nice e Cannes, na promoção de debates e exibições. O Correio participa, em 2025, selecionando o melhor curta sobre Brasília. Confira alguns trechos do podcast.

O eixo curatorial deste ano traz a Amazônia Latina e a África em destaque, com Brasil, Peru e Equador, além de países africanos. Como formataram o conceito?

Ana — É um sonho antigo trazer a África e a Amazônia para o festival, sob representação mais ampla. A América Latina é presente há muitas edições. Daí a conexão improvável entre Amazônia, África e Brasília, na identidade visual, que é assinada pela Gabriela Bilá (arquiteta e urbanista multimídia), também de Brasília. Cercamos uma cinematografia que não tem escoamento facilitado e com a qual o Brasil traz similaridade. Teremos filmes de Angola e Cabo Verde. Vai ter também uma produção de Uganda, no ramo da realidade virtual. A ideia foi ampliar a nossa visão, a nossa cosmovisão de pertencimento que somos da América Latina e temos a África como a nossa base. Teremos escolas públicas participando das sessões, com seus alunos. Queremos navegar em outros olhares.

Além das produções internacionais, há vertentes de filmes criados em universidades. Novos polos de produção locais descentralizam o olhar do Plano Piloto, não? O Adirley Queirós (em Ceilândia) e outros núcleos formadores operaram bem?

Ana — Importante dizer que, do Adirley Queirós, nós distribuímos Rap, o canto da Ceilândia (2005) num DVD do curta Brasília. Com isso, levamos o Brasil e a Ceilândia para fora. Vemos produtos importantes como os filmes do Fáuston da Silva, que faz filme na Samambaia. Com política afirmativa operante, vemos pessoas que moram em outras regiões apresentarem seus olhares. A programação deste ano traz isso de uma forma muito notável. Temos até pessoas estabelecidas no mercado, e que agora fazem o primeiro curta-metragem. Faz-se curtas porque a história pretendida cabe naquele formato.

Nessa perspectiva, de reforçar uma linguagem universal, que é a da música, como se viu associado ao audiovisual?

Hodari — Sou um apaixonado por cinema; acho que, na verdade, faço música para fazer clipe (risos). Com o audiovisual, você consegue traduzir e fechar esse ciclo, fechar esse elo do que o artista compôs. A música, você não pega, a música está no ar. O audiovisual aterra toda essa energia, o sentimento que eu acho que você está querendo passar ali, naquele momento. Quando eu era criança, era muito apaixonado por gorilas da Death Punk — então, sempre flertei muito com a animação, que amo, assim como efeito especial e 3D. Trouxe para minha música universos que, com o cinema, consigo fechar, nos 360 graus. Quando entrego um audiovisual, é como se entregasse um prato finalizado, bonito, num bom restaurante.

Você volta para a cidade indicado ao Grammy Latino e apresenta um videoclipe num lugar que fez parte da sua infância, na 107 Sul. Como que é retornar?

Hodari — Prestei todos os protocolos de um brasiliense, assim: você estuda, você entrega o seu diploma para família, você vira funcionário público. É uma cultura muito normal na cidade. Cheguei a trabalhar no Buriti. Eu me demiti, abri estúdio de tatuagem, e fui viver de arte, aí, comecei a cantar. Voltar para minha cidade é muito gratificante. Cheguei no Cine Brasília, e tem um troféu gigantesco que eu cresci vendo na cristaleira da minha avó, porque foi meu avô que desenhou o troféu Candango (entregue no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro)! Para mim, tô unindo minha família, o legado que meu vô construiu lá atrás, em 1965, cinco anos depois de o Cine Brasília ser inaugurado. Quero mostrar novos universos para os jovens de Brasília, artistas que sonham em viver de arte, e é tudo isso possível, gente. 

Tem a Mostra de Tesourinha, que é a mais popular entre o público. Nela, vocês contam histórias de Brasília. O que poderemos assistir nessa mostra?

Ana — Uma diversidade de trajetória muito grande, de gente que já tem muitos curtas feitos, gente que está estreando, pessoas que eram do documentário e que estão fazendo a primeira ficção. Em termos de história, vemos uma mudança de paisagens, que antes eram restritas ao Plano Piloto. Ceilândia está presente, Samambaia, com lugares inimagináveis, também. Personagens de diversas gerações, formatos de família. Essa Brasília, o arquétipo estereótipo da capital burocrática, está muito distante. A gente começa a criar novos imaginários sobre o que é Brasília.

*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso

 


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FRASES

Essa Brasília, o arquétipo estereótipo da capital burocrática, está muito distante. A gente começa a criar novos imaginários sobre o que é Brasília"

Ana Arruda

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Quero mostrar novos universos para os jovens de Brasília, artistas que sonham em viver de arte, e é tudo isso possível, gente"

Hodari

Serviço

13ª edição do Curta Brasília — Festival Internacional de curta-metragem

Onde: Cine Brasília, EQS 106/107

Quando: até domingo

Sessões: hoje, das 15h às 23h; amanhã e domingo, das 10h às 23h

Entrada gratuita; não requer retirada de ingresso