O sonho de Carlos Augusto Medeiros, 36 anos, era ver as três filhas — de 12, 10 e 7 anos — jogando os capelos ao alto em uma formatura universitária. Para isso, trabalhava duro a fim de garantir o futuro que imaginava para elas. Mas foi justamente no estabelecimento onde passava a maior parte dos dias para concretizar esse sonho que ele acabou assassinado a tiros. Morreu por engano. O homicídio expôs uma teia criminosa antiga e violenta, ligada ao universo da agiotagem. Carlos não era o alvo. Os executores colombianos procuravam outro homem da mesma nacionalidade deles, com quem travavam uma disputa que atravessou fronteiras.
O sonho do Bar em Bar era antigo. Há dois anos, Carlos vendeu uma concessionária para comprar a distribuidora de bebidas, instalada em um ponto movimentado de Taguatinga, próximo à Praça do Bicalho. Eram 14h de 25 de setembro, um dia ensolarado e agitado. O bar estava aberto, e o único funcionário cumpria o primeiro dia de serviço. Carlos descarregava mercadorias quando se sentou em uma cadeira, na área externa.
Em questão de minutos, as câmeras do circuito de segurança registraram um motoqueiro do outro lado da rua. Ele estacionou, desceu ainda de capacete e caminhou em direção a Carlos. Sacou a arma e abriu fogo. O empresário tentou se arrastar para dentro do bar, mas perdeu as forças e ficou pelo caminho.
Conexão
No andar de cima do bar de Carlos funciona o restaurante colombiano La Zenaida. O proprietário socorreu e levou Carlos ao hospital, mas ele não resistiu aos ferimentos.
O dono do La Zenaida prestou um depoimento na 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte) e abriu uma frente decisiva para as investigações. Admitiu ter se envolvido com agiotagem. A partir de um cruzamento de imagens, a polícia identificou a moto utilizada pelo atirador e constatou que o colombiano trocou de roupa após o crime.
Pouco depois, os investigadores chegaram ao nome do colombiano Johny Alexander Sandarriaga Guapache, 28, que desembarcou no Brasil em 4 de março, pelo Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, com visto de turista de 90 dias.
Um dia antes do homicídio, o atirador esteve em frente ao comércio e passou em um posto de gasolina próximo, indício de que realizava um levantamento prévio.
As diligências levaram a polícia a Valparaíso de Goiás, no Entorno do DF. Foi para lá que Johny fugiu depois do crime, antes de viajar para a Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). Outras imagens atribuídas como prova mostram Johny e outro colombiano, identificado como Bryan Danilo Moreno Martinez, em um comércio de Valparaíso.
De acordo com o delegado Thiago Boeing, adjunto da 17ª DP, Bryan foi encarregado de orientar o atirador e fornecer a arma. Mas a ordem para matar o então rival veio diretamente da Colômbia, de Brahyam Angulo Rendon, capanga de um colombiano chefe do esquema de agiotagem.
Descrito como intimidador e violento, Brahyam é citado, inclusive, por Johny. À polícia, o atirador afirmou ter vindo para o Brasil para trabalhar em uma fábrica de açaí, mas, sem recursos, recorreu a Brahyam para um empréstimo de R$ 3 mil. Sem conseguir pagar, passou a ser pressionado.
Brahyam e Bryan estão foragidos. A Polícia Civil deve acionar a Interpol para tentar localizá-los.
Homenagem
Além das filhas, Carlos deixou a esposa, Gabriela Figueiredo, 37. Ao Correio, a mulher lamentou a morte do marido e pediu por Justiça. "Estou sem chão desde o dia do crime. Vivo dopada de remédios, pois ainda estou incrédula. Ele era um pai de família, provedor, e a vida dele foi arrancada assim, por engano", desabafou. "Minhas pequenas ficaram órfãs do pai e choram todos os dias. E eu fiquei sem meu cuidador, companheiro, amigo e amor da minha vida. Foram mais de 23 anos juntos."
