Homicídio

Um terreno, rituais e um corpo esquartejado: o enigma do crime em Ceilândia

Crime teria sido cometido em um ritual satânico. Corpo da vítima foi encontrado carbonizado no terreno do autor, em Ceilândia, mas havia partes do cadáver nas proximidades. João Paulo Leandro Mendes foi preso

João Paulo Leandro Mendes, 34 anos, chamava a atenção da vizinhança por um semblante que causava leve desconforto. O sorriso era estridente e o olhar ameaçador, relataram moradores de um loteamento do Incra 9, em Ceilândia. Nada disso, porém, era motivo para suspeitar de algo mais grave. Advogado aposentado por invalidez, João é apontado pela Polícia Civil como o principal suspeito de assassinar, esquartejar e carbonizar o corpo de um homem no próprio terreno. A motivação está ligada a um suposto ritual satânico.

João mora em Taguatinga com a esposa, servidora aposentada do Tribunal de Contas. Há sete meses, ele comprou um terreno extenso no Incra 9, área conhecida como região agrícola Alexandre Gusmão. No espaço, criava porcos, galinhas, bodes e patos. Havia, também, peças de carros velhos.

Todos os dias, segundo moradores, o advogado ia sozinho ao terreno. Dizia seguir um determinado culto com entidades espirituais. Era trivial, mas entre quarta e quinta-feira, um comportamento não fazia parte do ritual e despertou a atenção da vizinhança.

Testemunhas avistaram o suspeito carregando pneus e ateando fogo em parte do terreno. A Polícia Civil foi acionada na noite de sábado, compareceu ao local e não encontrou o advogado. Mas, no terreno, localizaram um cadáver masculino com sinais de esquartejamento e totalmente carbonizado. A poucos metros dali, em um canteiro da estrada de terra, encontraram um pé, parte da cabeça e ossos não identificados. Todo o material foi encaminhado à perícia.

Investigação e prisão

Até o fechamento desta reportagem, a polícia ainda havia identificado a vítima. O delegado Fernando Fernandes, chefe da 19ª Delegacia de Polícia (P Norte), informou que trabalha com as seguintes características: homem de 1.80m, cor parda, cabelos ondulados e tatuagem nas costas.

Ontem pela manhã, os policiais receberam um novo informe: João havia retornado ao terreno e estava transferindo algumas partes do corpo para o canteiro da estrada de terra. Seria uma forma, segundo a investigação, de desfazer provas. De imediato, os agentes foram ao local e prenderam João em flagrante por destruição de cadáver. "Ele foi indiciado por homicídio, e esperamos que na audiência de custódia seja determinada a prisão", afirmou o delegado.

Na delegacia, alegou ser satanista, mas negou o crime. Disse que ateava fogo em restos de animais. O Correio esteve no local e, enquanto a reportagem acompanhava o trabalho da polícia, os agentes encontraram um outro pedaço de osso supostamente humano. O material foi apreendido e levado à perícia.

Em depoimento, a mulher de João alegou que o marido é advogado aposentado de Santa Catarina por diagnóstico de esquizofrenia e autismo. A reportagem entrou em contato com a Ordem de Advogados do Brasil — Seccional de SC, mas não obteve retorno até o fechamento.

 

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