PANDEMIA

Covid-19: estudo inglês defende terceira dose contra novas variantes

Pesquisadores britânicos sugerem que a imunização de reforço antes de se completar um ano depois da segunda vacina aumenta a proteção contra novas variantes

Paloma Oliveto
postado em 12/08/2021 06:00
 (crédito: Tolga Akmen / AFP)
(crédito: Tolga Akmen / AFP)

Uma terceira dose de vacina para covid-19 pode ser importante para manter a atividade de anticorpos neutralizantes de novas cepas do Sars-CoV-2, sugere um estudo inglês financiado pela agência de fomento Pesquisa e Inovação do Reino Unido. Em um artigo publicado na revista Science Translational Medicine, os autores relatam que, em voluntários previamente infectados com o vírus, as respostas imunológicas “aumentaram drasticamente” depois de duas doses da substância da Pfizer. Porém, em outro grupo que também teve a doença, uma única injeção foi menos eficaz para bloquear a entrada de variantes do micro-organismo nas células.

Segundo os pesquisadores das universidades de Nottingham e Liverpool, o resultado do estudo é um indicativo de que uma dose de reforço pode ser importante para a produção de anticorpos neutralizantes de novas cepas. Isso porque pessoas infectadas previamente já desenvolvem uma resposta imunológica contra o vírus e, mesmo assim, quando vacinadas uma vez, a combinação dessa proteção com a conferida pelo imunizante não foi suficiente para desencadear uma ação significativa de combate ao novo coronavírus. O estudo, porém, não testou uma terceira dose em pessoas imunizadas duas vezes.

A pesquisa faz parte de um grande estudo de corte, o Panther, que acompanha profissionais de saúde do Reino Unido em busca de diversas respostas sobre a covid-19. Nesse caso específico, a equipe identificou, dentro desse universo, 45 pessoas que foram vacinadas com a substância da Pfizer. Metade delas foram pré-expostas naturalmente ao vírus, e metade não. Os pesquisadores, então, compararam a resposta de anticorpos nelas, observando a produção dos neutralizantes antes de uma dose, depois da primeira e, por fim, após as duas.

Amostra de sangue

A amostra de sangue dos participantes foi analisada para verificar a resposta imunológica. “Mostramos que os indivíduos com infecção passada produziram mais anticorpos após cada dose da vacina do que aqueles que não haviam sido naturalmente expostos. Também mostramos que essa resposta aumentada de anticorpos foi mais eficaz contra algumas das variantes preocupantes, como a Beta e Gama”, explica Ana Valdes, uma das principais autoras do estudo.

“Em essência, a infecção natural imitou os efeitos de uma dose adicional de vacina, e nossos dados mostram, claramente, que essa exposição antigênica a mais produz um impulso extra para a resposta geral de anticorpos. Nossos resultados apoiam o plano do governo do Reino Unido de fornecer uma dose de reforço no outono (primavera no Brasil) como uma estratégia eficaz para proteger as pessoas contra variantes”, continua Valdes. Embora nada ainda tenha sido decidido, o governo britânico pretende aplicar uma terceira dose da vacina em 32 milhões de pessoas, a partir do próximo mês.

A necessidade do reforço no mesmo ano em que um indivíduo recebeu duas doses tem, porém, sido criticada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já se mostrou contrária, lembrando que apenas 30% da população mundial recebeu alguma imunização contra covid-19 e somente 15% foi vacinado duplamente. No caso do estudo publicado na Science Translational Medicine, especialistas independentes questionam se os resultados, de fato, são suficientes para indicar uma terceira dose.

“O estudo não nos diz quão grande será o benefício de um reforço adicional em pessoas que já receberam duas doses da vacina. Em outras palavras, isso fará uma diferença material na probabilidade de se infectar ou transmitir o vírus a outras pessoas, ou de ficar gravemente doente ou morrer?”, questiona a infectologista Eleanor Riley, da Universidade de Edimburgo. “Isso é realmente o que precisamos saber para decidir sobre a estratégia de vacinação mais eficaz nos próximos meses”, opina

“Observe que, embora esse estudo reforce o argumento para considerar dar uma dose adicional, ele não acrescenta nada à questão de saber se tal dose é ainda necessária”, concorda o infectologista Peter English, ex-editor da revista Vacinas na Prática. “Vimos que duas doses de vacina (com ou sem infecção natural prévia) são muito eficazes na prevenção de doenças graves (hospitalização, internação em cuidados intensivos e morte).

A prioridade ainda deve ser dar as primeiras doses ao maior número possível de pessoas no mundo, depois dar as segundas doses e só então considerar as doses de reforço. English nota, ainda, que há limitações no estudo. “Ele olha apenas para os anticorpos (a resposta imunológica inclui outros agentes, como células T), somente para as variantes Beta e Gama e não usa resultados clínicos, apenas medições de laboratório.”

Os autores do trabalho, porém, acreditam que os resultados são suficientes para demonstrar a validade de um reforço. “Mostramos que os indivíduos com infecção anterior produziram mais anticorpos após cada dose da vacina do que aqueles que não haviam sido expostos. Também mostramos que essa resposta aumentada de anticorpos foi mais eficaz contra algumas das variantes preocupantes, como as variantes Beta e Gama. Acredito que isso suporta a ideia de uma terceira dose”, diz Jonathan Ball, pesquisador da Universidade de Nottingham e um dos principais autores do estudo.



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Nova rodada de testes

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a próxima fase do estudo que investiga se drogas já existentes podem ser eficazes contra a covid-19. O Solidariedade Plus será realizado com pacientes hospitalizados e vai analisar três terapias: artesunato, imatinibe e infliximabe.

Os medicamentos foram selecionados por um painel de especialistas independentes por seu potencial na redução do risco de morte em pacientes hospitalizados com covid. Eles já são usados para outras indicações: artesunato, no tratamento de malária grave; imatinibe para certos tipos de câncer; e infliximabe, em doenças do sistema imunológico, como Crohn e artrite reumatoide. Os remédios foram doados para o teste pelos fabricantes.

“Encontrar uma terapêutica mais eficaz e acessível para os pacientes com covid-19 continua sendo uma necessidade crítica, e a OMS tem orgulho de liderar esse esforço global”, disse, em nota, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Gostaria de agradecer aos governos participantes, empresas farmacêuticas, hospitais, médicos e pacientes, que se uniram para fazer isso em verdadeira solidariedade global.”

O Solidariedade Plus é um estudo de plataforma que representa a maior colaboração global entre os países integrantes da OMS. Envolve milhares de pesquisadores em mais de 600 hospitais de 52 países, 16 a mais do que na primeira fase dos testes. Isso permite avaliar vários tratamentos ao mesmo tempo, usando um único protocolo, com milhares de pacientes.

Anteriormente, quatro medicamentos foram avaliados pelo ensaio. Os resultados mostraram que remdesivir, hidroxicloroquina, lopinavir e interferon tiveram pouco ou nenhum efeito em pacientes hospitalizados com covid-19. (PO)

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