ESTUDO

Experiência de quase morte: pesquisadora revela consequências

Uma experiência de quase morte pode ser considerada um evento traumáutico, pois rompe com as as certezas da pessoa e com o fluxo da chamada "vida normal"

Pacientes que já vivenciaram uma experiência de quase morte relatam terem se sentido sendo puxados para dentro de um túnel escuro, sem poder resistir ou mover-se e com a sensação de morte iminente. Já outros citam a presença de uma luz intensa -  (crédito: Reprodução/Freepik/@ vecstock)
Pacientes que já vivenciaram uma experiência de quase morte relatam terem se sentido sendo puxados para dentro de um túnel escuro, sem poder resistir ou mover-se e com a sensação de morte iminente. Já outros citam a presença de uma luz intensa - (crédito: Reprodução/Freepik/@ vecstock)
postado em 06/03/2024 14:40

As chamadas experiências de quase morte (EQMs) ocorrem quando um paciente em morte clínica ou próximo deste estado é reanimado e tem lembranças desse período. Em alguns casos, esses episódios são classificados como agradáveis, com sentimentos de paz e acolhimento, mas há pacientes que relatam terem tido experiências pertubadoras. 

A professora e pós-doutoranda pelo Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Beatriz Ferrara Carunchio, analisou relatos de brasileiros que passaram por EQMs. Segundo a pesquisa da especialista, é comum que nos relatos dessas experiências existam aspectos que os pacientes identificam como espirituais, tais como experiência fora do corpo, contato com supostos seres místicos ou entes queridos já falecidos.

"Geralmente após esse tipo de experiência, o paciente passa por intensas mudanças não apenas no âmbito da espiritualidade e religiosidade, mas em diferentes setores de sua vida, tais como nos relacionamentos afetivos e interpessoais, na carreira, em aspectos psicossociais (incluindo crenças, visão de mundo, planos, metas e a própria identidade). A saúde mental também é afetada. Infelizmente, após uma EQM, mesmo que agradável, é comum o paciente apresentar senso de realidade alterada, angústia, conflitos psicológicos e mesmo transtornos como depressão grave, transtorno do estresse pós traumático e distúrbios do sono", explica Beatriz Carunchio.

A pesquisadora pontua que uma experiência de quase morte pode ser considerada um evento traumático, pois rompe com as as certezas da pessoa e com o fluxo da chamada “vida normal”. Pacientes que já vivenciaram essa situação relatam terem se sentido sendo puxados para dentro de um túnel escuro, sem poder resistir ou mover-se e com a sensação de morte iminente. Já outros citam a presença de uma luz intensa, frio e sons ou criaturas tidas como assustadoras.

"É importante destacar que, enquanto um paciente que teve EQM agradável teme por desconfianças quanto à sua sanidade mental, aqueles com EQMs perturbadoras somam a este medo o intenso receio de ser considerado alguém ruim, de má índole por ter vivenciado algo desagradável num suposto pós-vida e, com isso, perder o afeto e a confiança de seus familiares e pessoas queridas. O sentimento de solidão e desesperança são muito intensos e marcantes", frisa o estudo.

Além disso, esses sentimentos negativos causados por uma EQM podem desencadear um estado de hipervigilância que pode persistir por anos, mesmo após a experiência. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define hipervigilância como um estado aumentado de sensibilidade sensorial, acompanhado por uma intensidade exagerada de comportamentos cujo propósito é detectar ameaças. A hipervigilância também pode vir acompanhada por um estado de ansiedade aumentada que pode causar exaustão.

"Quanto à saúde mental e aspectos clínicos, notou-se que a hipervigilância é um traço de grande destaque para o desenvolvimento de transtornos como o transtorno de estresse pós-traumático, distúrbios do sono, ansiedade e emoções relacionadas. É um traço que reforça, constantemente, a lembrança desagradável e a ideia de trauma, possivelmente levando à piora do quadro de saúde mental. Por isso, é preciso que o trabalho clínico com esses pacientes se concentre especialmente na questão da hipervigilância", conclui Beatriz.

A pesquisa foi publicada na Revista Rever, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e pode ser acessada na íntegra neste link.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação