MEIO AMBIENTE

Covid-19 é ameaça 30 meses depois

Pesquisa com 64 mil pessoas verifica que aqueles que foram internados com sintomas mais graves têm probabilidade maior de desenvolver complicações multissistêmicas. É uma indicação de que as sequelas do vírus vão além da infecção inicial

 23.Mar.2021 - General view of Pedro Dell'Antonia field hospital, in Santo Andre, almost 100% full, after 10 months open, the longer one in the region. Director of the city hospital's, Victor Chiavegato expected, 5 months ago, that the hospital would be closed by now. The second wave, however, stroke Brazil with violence - mostly because of the lack of social distance and the slowliness of the vaccination program, both to blame Jair Bolsonaro's denial politics - and now Mr. Chiavegato and his colleagues expect no other than keep the field hospital for the whole 2021
     -  (crédito:  Gustavo Basso)
23.Mar.2021 - General view of Pedro Dell'Antonia field hospital, in Santo Andre, almost 100% full, after 10 months open, the longer one in the region. Director of the city hospital's, Victor Chiavegato expected, 5 months ago, that the hospital would be closed by now. The second wave, however, stroke Brazil with violence - mostly because of the lack of social distance and the slowliness of the vaccination program, both to blame Jair Bolsonaro's denial politics - and now Mr. Chiavegato and his colleagues expect no other than keep the field hospital for the whole 2021 - (crédito: Gustavo Basso)

 Até dois anos e meio após a hospitalização por covid-19, os sobreviventes enfrentam um risco de morte mais elevado do que a população em geral, descobriram pesquisadores do Centro de Investigação Clínica do Hospital Bichat, em Paris. O estudo, com 64 mil moradores da França, foi publicado hoje na revista Infectious Diseases e também constatou maior probabilidade, entre os internados, de desenvolver complicações multissistêmicas. Segundo os autores, é preciso manter um sistema de monitoramento contínuo de saúde dos pacientes que tiveram a forma mais grave da doença. 

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"Essas descobertas são um lembrete gritante do impacto de longo alcance da covid-19, que se estende muito além da infecção inicial", disse a autora principal, Sarah Tubiana, especialista em doenças infecciosas. "Embora muita atenção tenha sido dada aos perigos imediatos do vírus, nossa pesquisa mostra que sobreviventes hospitalizados permanecem em maiores riscos de complicações graves de saúde meses e até anos depois. As implicações de longo prazo para a saúde pública são significativas."

Usando dados do banco de dados nacional francês, o estudo acompanhou 63.990 adultos internados em hospitais com covid-19 entre janeiro e agosto de 2020. Essas pessoas — com idade média de 65 anos, sendo 53,1% do sexo masculino — foram comparadas a 319.891 indivíduos da população geral da França, com idade, sexo e localização semelhantes, que não foram hospitalizadas devido ao Sars-CoV-2 durante o mesmo período.

Danos

Os pesquisadores rastrearam os participantes do estudo por até 30 meses, monitorando mortes e internações hospitalares, tanto por qualquer causa quanto por condições específicas relacionadas a danos nos órgãos. Ao comparar os resultados entre os dois grupos, os cientistas identificaram riscos significativos à saúde ao longo prazo em sobreviventes de covid-19 hospitalizados, em relação à população geral.

Os pacientes com covid-19 que precisaram de internação apresentaram uma taxa maior de mortes por qualquer causa (5.218 por 100 mil pessoas-ano) em comparação ao grupo de controle (4.013 por 100 mil pessoas-ano). Eles também tinham mais probabilidade de serem internados por qualquer motivo, com riscos particularmente altos para problemas neurológicos, psiquiátricos, cardiovasculares e respiratórios.

Não houve diferença entre homens e mulheres no risco de hospitalização, exceto para casos psiquiátricos, com número maior entre as mulheres. As chances de reinternações após a alta de uma hospitalização por covid-19 foram maiores em todas as faixas etárias, comparado ao restante. 

Como esperado pelos pesquisadores, a incidência de re-hospitalização por todas as causas e por distúrbio específico em algum órgão foi maior em pacientes com mais de 70 anos. Embora os riscos excessivos tenham diminuído após os primeiros seis meses, permaneceram elevados por até 30 meses para distúrbios neurológicos e respiratórios, insuficiência renal crônica e diabetes.

Duradouras

"Mesmo 30 meses após a hospitalização, os pacientes com covid-19 permaneceram com risco aumentado de morte ou complicações graves de saúde, refletindo as consequências mais amplas e duradouras da doença na vida das pessoas", afirmou, em nota, o coautor Charles Burdet, especialista em doenças infecciosas da Université Paris Cité. “Esses resultados destacam a necessidade de mais pesquisas para entender os mecanismos por trás desses riscos de saúde de longo prazo e como mitigá-los.”

Segundo os autores, um ponto forte do estudo é o uso de um grande banco de dados que cobre toda a população francesa, tornando as descobertas aplicáveis a populações ocidentais semelhantes. As informações longitudinais e os registros eletrônicos de saúde detalhados também permitiram aos pesquisadores distinguir novos problemas de saúde surgidos após a covid-19 de condições pré-existentes.

No entanto, as descobertas podem não se aplicar totalmente a variantes posteriores do Sars-CoV-2, já que o estudo se concentrou em pacientes infectados no início de 2020, antes do surgimento de novas cepas. Segundo o artigo, mais pesquisas são necessárias para avaliar se as versões mais recentes do microrganismo têm consequências semelhantes à saúde a longo prazo.

Para Jonathan Gold, professor de Pediatria e Desenvolvimento Humano da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, o estudo dos colegas franceses reforça a importância da vacinação para evitar formas graves da covid-19. A forma mais longa continua a causar debilidade em certas pessoas. Ainda estamos aprendendo mais sobre como ela se apresenta, quem é de alto risco e como diagnosticar e tratar”, diz Gold, que não participou da pesquisa. 


 

Paloma Oliveto
postado em 28/02/2025 06:00
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