
Para trabalhadores de canteiros de obras, lavouras, fábricas e escritórios pouco ventilados, o aumento das temperaturas globais não é apenas um alerta, mas uma realidade que afeta a saúde de 2,4 bilhões de empregados em todo o mundo. Segundo um relatório técnico da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM), esse é o contingente exposto ao estresse térmico no ambiente laboral, sujeitos a sofrer de fadiga, desmaios e até condições crônicas, como insuficiência renal.
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O documento aponta que metade da população mundial já sofre consequências adversas das altas temperaturas. Com o avanço das mudanças climáticas, essas repercussões tendem a se intensificar, espalhando-se por regiões que antes não eram consideradas vulneráveis. "O estresse térmico ocupacional tornou-se um desafio global. Se não for tratado de forma eficaz, terá impacto crescente sobre a saúde, a produtividade e a economia", afirmou Maria Neira, diretora de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS em um comunicado.
Os efeitos do calor excessivo vão além do desconforto. O relatório mostra que a cada aumento de 1°C acima de 20°C no índice de temperatura de bulbo úmido (WBGT), a produtividade dos trabalhadores pode cair de 2% a 3%. Essa medida se refere à combinação de temperatura do ar, umidade, velocidade do vento, calor radiante e cobertura de nuvens, calculando o impacto dessas condições no corpo humano sob luz solar direta. Em setores como agricultura e construção, isso se traduz em queda de renda, insegurança alimentar e aumento da pobreza, dizem os organismos das Nações Unidas.
Além disso, estudos compilados pela OMS e OMM estimam que o calor esteja diretamente relacionado a 22,8 milhões de acidentes de trabalho e quase 19 mil mortes por ano. Doenças renais de origem ocupacional, já identificadas em trabalhadores rurais da América Central e do Sul, também são apontadas como consequência da exposição contínua a ambientes quentes. "Estamos diante de uma questão de direitos humanos fundamentais. O acesso a um ambiente de trabalho seguro e saudável deve ser garantido, e isso inclui proteção contra o calor extremo", declarou Joaquim Pintado Nunes, chefe da Divisão de Segurança e Saúde Ocupacional da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os impactos do calor no trabalho não atingem todos de forma igual. Trabalhadores ao ar livre, como agricultores, pescadores, garis e operários da construção civil, estão entre os mais vulneráveis. A exposição é ainda mais crítica em países de baixa e média renda, onde faltam infraestruturas de proteção, acesso à água potável e a serviços de saúde adequados.
"As populações mais pobres e vulneráveis são as que mais sofrem", reforçou Maria Neira. "Se nada for feito, o calor extremo vai agravar desigualdades já existentes, ameaçando o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo o combate à pobreza e a promoção da saúde e do trabalho decente."
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Campanhas
A ONU ressalta que medidas de baixo custo, como campanhas educativas e protocolos de primeiros socorros, podem salvar milhares de vidas. No entanto, será necessário um esforço coletivo, envolvendo governos, empresas, sindicatos e a sociedade civil. "Mitigar o estresse térmico ocupacional exige consenso coletivo e investimento público em intervenções acessíveis e eficazes", afirmou Ko Barrett, vice-secretária-geral da OMM.
Se as atuais políticas climáticas não forem fortalecidas, as projeções indicam que, até o fim do século, mais de 1 bilhão de pessoas viverão em áreas com estresse térmico elevado, impossibilitando jornadas regulares de trabalho sem riscos graves à saúde. O relatório reforça que a adaptação ao calor no ambiente laboral está diretamente ligada ao combate às mudanças climáticas em escala global.
Sem redução drástica das emissões de gases de efeito estufa, soluções pontuais terão efeito limitado, alertam os organismos da ONU. "Temos ciência, temos evidências e temos alternativas", concluiu Maria Neira. "O que falta agora é mobilização política para proteger os trabalhadores e garantir que o direito a um trabalho decente não seja comprometido pelo avanço do aquecimento global."
Recomendações mitigadoras
O relatório técnico, baseado em informações científicas, destaca a magnitude do impacto da emergência climática na saúde dos trabalhadores. De acordo com estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o risco de lesões por acidentes de trabalho, que é apenas o efeito agudo (imediato) do estresse térmico, aumenta 17% durante as ondas de calor. Entre os efeitos crônicos, a OIT aponta que haverá 26,2 milhões de pessoas com doença renal crônica atribuível ao estresse térmico no local de trabalho. Além disso, destaca-se o impacto econômico dessa significativa carga de doenças, visto que afeta a população trabalhadora. A principal contribuição do relatório técnico é concentra recomendações na mitigação dos efeitos e enfatizar a necessidade urgente de adotar medidas preventivas viáveis, especificamente voltadas para a proteção dos trabalhadores contra o estresse térmico, especialmente grupos vulneráveis, como aqueles que trabalham ao ar livre na agricultura, construção, jardinagem, limpeza urbana, etc.
Fernando G. Benavides, diretor científico do Observatório Ibero-Americano de Segurança e Saúde Ocupacional
Impacto laboral
2,4 bilhões de trabalhadores em todo o mundo estão expostos ao estresse térmico ocupacional
- 22,8 milhões de acidentes de trabalho por ano estão ligados ao calor excessivo
- 18.970 mortes anuais são atribuídas ao estresse térmico no trabalho
- 26,2 milhões de pessoas vivem com doença renal crônica associada à exposição ocupacional ao calor
- 2% a 3% de queda de produtividade para cada aumento de 1°C acima de 20°C no índice WBGT (temperatura de bulbo úmido)
- Até o fim do século, mais de 1 bilhão de pessoas poderão viver em áreas de estresse térmico extremo, se não houver redução das emissões
Fonte: Organização das Nações Unidas
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Impacto laboral
2,4 bilhões de trabalhadores em todo o mundo estão expostos ao estresse térmico ocupacional
- 22,8 milhões de acidentes de trabalho por ano estão ligados ao calor excessivo
- 18.970 mortes anuais são atribuídas ao estresse térmico no trabalho
- 26,2 milhões de pessoas vivem com doença renal crônica associada à exposição ocupacional ao calor
- 2% a 3% de queda de produtividade para cada aumento de 1°C acima de 20°C no índice WBGT (temperatura de bulbo úmido)
- Até o fim do século, mais de 1 bilhão de pessoas poderão viver em áreas de estresse térmico extremo, se não houver redução das emissões
Fonte: Organização das Nações Unidas
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Fernando G. Benavides, diretor científico do Observatório Ibero-Americano de Segurança e Saúde Ocupacional
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