
Uma pesquisa realizada pelo Scripps Research Institute, da Califórnia (EUA), permitiu realizar pela primeira vez, com precisão, como um remédio interage com diferentes tecidos do corpo, célula por célula. O método inédito permitiu que a medicina avançasse no tema, até então, limitado a ser explicado de forma aproximada.
Chamada de vCATCH, a técnica foi divulgada na segunda-feira (22/12), em estudo publicado na revista científica Cell. É responsável por produzir mapas detalhados da interação de remédios com órgãos, como o cérebro, os pulmões e o coração.
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Antes, a questão era vista como algo inacessível. "Depois que um fármaco entra no corpo, quase não sabemos exatamente onde ele age”, afirmou Li Ye, líder do projeto de pesquisa, à Cell. "Esse processo sempre foi uma espécie de caixa-preta", completou.
Técnica funciona como "peças de LEGO"
O método funciona, somente, com um tipo específico de medicamento. São conhecidos como covalentes, e são responsáveis pela ligação de forma permanente às moléculas que precisam bloquear no organismo. De certa forma, grudam-se a elas.
Antes de aplicar os medicamentos em animais, os pesquisadores acrescentam uma espécie de etiqueta química invisível. Ela não altera seu efeito terapêutico. Depois de circular pelo corpo e se ligar às células, o remédio é analisado, junto dos órgãos, em laboratório. Aí, entra em ação a chamada química do clique. Trata-se de uma reação extremamente precisa que funciona como um encaixe perfeito. Daí, a comparação com peças de LEGO.
Dessa forma, se torna possível que uma substância fluorescente se conecte somente àquela etiqueta química. Assim, “acendendo” exatamente os pontos onde o medicamento se fixou. Para que essa luz chegasse, da mesma forma, a regiões mais profundas dos órgãos, os cientistas precisaram superar proteínas produzidas pelos próprios tecidos, que bloqueavam a reação química.
A alternativa encontrada foi preparar os órgãos com cobre, e repetir o processo várias vezes. A alta seletividade da reação possibilitou a ausência de ruídos e marcações falsas.
Resultados dos testes apresentaram distribuição ampla e bem definida
De acordo com a pesquisa, os pesquisadores aplicaram a técnica em dois medicamentos usados na luta contra o câncer. Ambos já foram usados na prática clínica:
- Afatinibe, indicado para câncer de pulmão, apresentou distribuição ampla no tecido pulmonar, como esperado.
- Ibrutinibe, usado em cânceres do sangue, mostrou um padrão mais complexo. Além das células-alvo do sistema imunológico, o ibrutinibe apareceu ligado a células do fígado, do coração e dos vasos sanguíneos. O achado ajuda a entender por que o medicamento está associado a efeitos como arritmias cardíacas e problemas de sangramento.
"Agora é possível olhar diretamente para essas células e investigar por que essa ligação acontece”, explicou Ye, o responsável pelo projeto.
Os autores contam que o vCATCH tem o potencial de se tornar em uma ferramenta importante no desenvolvimento de remédios. A técnica já tem sido usada para avaliar a capacidade de drogas em atingir células tumorais de forma mais intensa do que tecidos saudáveis.
Também foi importante para mapear a ação de medicamentos psquiátricos no cérebro. Há a expectativa para que esse tipo de análise ajude na identificação de riscos antes da aprovação de novos tratamentos. Assim, o processo se tornaria mais seguro para os pacientes.

Ciência e Saúde
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