A busca por vida inteligente fora da Terra costuma mirar sinais sutis: um padrão incomum no brilho de uma estrela, uma transmissão fraca perdida no ruído cósmico. Mas o astrônomo David Kipping, da Universidade de Columbia, em Nova York, propõe que talvez estejamos olhando na direção errada. Segundo a sua Eschatian Hypothesis, hipótese escatiana ou escatológica em tradução livre, a primeira civilização tecnológica que conseguiremos detectar provavelmente não será típica, discreta ou estável. Pelo contrário: deve ser anormalmente ruidosa, exibindo uma tecnoassinatura intensa e de curta duração, possivelmente em sua fase final.
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A ideia nasce da reflexão sobre como grandes descobertas astronômicas realmente acontecem: não encontramos primeiro o comum, mas o extravagante. Segundo Kipping, em artigo ainda sem revisão pelos pares, a astronomia mostra um padrão recorrente. Fenômenos mais raros são detectados antes dos mais abundantes quando emitem sinais intensos. Os primeiros exoplanetas confirmados orbitavam um pulsar, um cenário improvável. Hoje, entre milhares de exoplanetas catalogados, apenas uma fração mínima está associada a estrelas desse tipo.
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Algo parecido ocorre com supernovas. Embora sejam eventos esporádicos em galáxias como a Via Láctea, são observadas em grande número todos os anos graças à luminosidade extraordinária que produzem. A lógica é simples: vemos primeiro aquilo que brilha mais, não aquilo que ocorre com maior frequência.
Kipping aplica essa lógica à busca por sinais de vida inteligente no Universo. Da mesma forma que estrelas gigantes e supernovas representam fases transitórias, a primeira civilização a deixar um sinal claro pode estar vivendo um período extremo: tecnologicamente excessivo, energeticamente descontrolado ou estruturalmente instável.
O cálculo que favorece o extremo
Um modelo apresentado pelo pesquisador reforça essa conclusão. Mesmo que uma civilização passe apenas uma fração ínfima de sua existência, algo como quatro dias em 10 mil anos, emitindo sinais intensos, pode dominar as estatísticas de detecção se liberar mais de 1% de toda a energia observável de sua história nesse intervalo curto.
O resultado é contraintuitivo: civilizações duradouras e discretas seriam muito mais difíceis de encontrar do que sociedades atravessando uma fase excepcional, marcada por emissões energéticas fora do padrão. Em um exemplo limite, até eventos autodestrutivos, como conflitos globais, poderiam produzir níveis de luminosidade detectáveis a grandes distâncias.
A hipótese não exige decidir previamente qual tecnoassinatura procurar. Em vez disso, sugere uma abordagem ampla. Procurar qualquer anomalia difícil de explicar por processos naturais conhecidos. Isso inclui mudanças repentinas de brilho, espectros incomuns ou movimentos aparentes incompatíveis com comportamentos astrofísicos já catalogados. A estratégia se apoia em levantamentos contínuos e de larga escala, capazes de registrar eventos raros em tempo real.
