Na última segunda-feira, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ilmar Galvão, 93 anos, promoveu um jantar comemorativo em Brasília para marcar o lançamento do livro Ilmar Galvão — Homenagem do Tribunal de Justiça da Bahia. A biografia, produzida pelo TJBA, já havia sido lançada oficialmente em setembro na capital baiana, com a presença do homenageado, familiares, colaboradores e autoridades. Ainda assim, o ministro aposentado e sua esposa, Terezinha Galvão, decidiram realizar uma celebração na capital federal para reunir familiares, amigos e autores.
Segundo a presidente do TJBA, Cynthia Resende, a ideia de registrar a trajetória de Ilmar Galvão surgiu após uma homenagem prestada ao ministro pelo Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) e pelo governo do estado, durante um evento realizado no STF, em 2024."Eu estava em Brasília naquele dia, soube da homenagem e resolvi comparecer. Achei lindíssima. Foi então que pensei: o ministro Ilmar é baiano, e o Tribunal de Justiça da Bahia nunca havia feito algo dessa dimensão para ele. Ele atuou no Acre, foi juiz federal lá. Se o Acre fez, a Justiça da Bahia também deveria fazer", afirmou a magistrada.
A partir daí, Cynthia, em conjunto com a desembargadora Maria de Lourdes Pinho Medauar e o advogado e procurador aposentado Ruy Tourinho, decidiu criar uma homenagem mais duradoura e não apenas uma solenidade protocolar. "Assim, surgiu a ideia de uma biografia", explicou a presidente.
Dessa forma, o TJBA passou a articular a criação da obra junto à família, aos amigos e a uma editora em Salvador. "Chegamos à proposta de não fazer uma biografia tradicional, mas sim, uma narrativa construída por várias vozes: amigos, ex-alunos, colegas de trabalho e pessoas que conviveram com ele. Cada um contando um pedaço da história, formando a trajetória tão bonita que ele tem", detalhou Cyntia. Além dos textos, foram reunidas fotografias de diferentes épocas para ilustrar a obra.
Entre os colaboradores, estão Luís Roberto Barroso, ministro aposentado e último presidente do STF, responsável pelo prefácio do livro; Luís Carlos Hiroki Muta, desembargador federal e presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região; Luiz Gonzaga do Amaral Andrade, presidente do Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis do Estado da Bahia e empresário; os ministros aposentados do STF Marco Aurélio Mello e Nelson Jobim; e Marcelo Galvão, procurador, advogado e filho de Ilmar. No livro, foi incluído um discurso em homenagem a Ilmar Galvão, proferido por José Paulo Sepúlveda Pertence, ministro do STF que morreu em julho de 2023.
"É importante destacar que essa obra reúne autores que, com alta estima e por diferentes perspectivas, apresentam-nos momentos marcantes da vida pessoal e profissional do homenageado. Guiados pela amizade — e talvez até pelos riscos da emoção que vem do coração — construíram um retrato vivo e humano. A todos os coautores, nossa eterna gratidão", declarou Marcelo Galvão em seu discurso durante a comemoração.
Para a presidente do TJBA, o livro atua como um exemplo para os jovens. "Ele mostra que, quando temos um ideal e canalizamos nossa energia de forma focada, somos capazes de alcançar lugares inimagináveis. Portanto, esse livro mostra que qualquer pessoa, com dedicação e propósito, pode chegar onde ele chegou. É um exemplo de vida e de possibilidades", afirmou.
Em concordância, o desembargador Lidivaldo Reaiche, responsável pela orelha do livro, afirma que a trajetória de Ilmar Galvão é profundamente marcada pela superação. "A história de vida do ministro e de sua família é bonita e inspiradora, um exemplo de determinação e superação", declarou posteriormente à reportagem.
De origem simples, Ilmar nasceu em Jaguaquara, um pequeno município no interior da Bahia. Filho de uma mãe viúva e com cinco irmãos, sua mãe lavava roupas para um colégio para que os filhos pudessem estudar. Aos 14 anos, após concluir o ginásio, passou a trabalhar como datilógrafo em um cartório, já que não havia escolas avançadas em sua cidade.
Alguns anos depois, Ilmar foi aprovado em primeiro lugar no concurso do Banco do Brasil, graças ao seu melhor amigo de escola, que o inscreveu e pagou a taxa de inscrição. Após algum tempo no banco, pediu transferência para o Rio de Janeiro, onde também cursou direito na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (atual UFRJ).
Ao se formar em 1963, pediu para ser transferido para uma agência do interior, onde poderia ganhar o dobro do salário. Assim, ele seguiu para Rio Branco, no Acre. O plano inicial era permanecer na capital acreana por apenas três meses, mas, 10 dias após sua chegada, a ditadura militar foi instaurada no país, e o banco determinou que todos os funcionários deslocados permanecessem onde estavam por tempo indeterminado.
No Acre, Ilmar conheceu e casou-se com sua esposa, assumiu funções de destaque no governo estadual e foi nomeado juiz federal, tornando-se um dos responsáveis pela reinstalação da Justiça Federal no estado. Paralelamente à magistratura, participou da criação da Faculdade de Direito do Acre e, mais tarde, contribuiu para a fundação do Centro Universitário do Acre, que viria a se transformar na Universidade Federal do Acre, onde também atuou como professor e diretor.
Em 1979, transferiu-se para Brasília, passando a atuar como juiz federal da 2ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal. Sua dedicação e desempenho o levaram, em 1985, à nomeação para o Tribunal Federal de Recursos (TFR), após figurar em primeiro lugar na lista tríplice. Com a promulgação da Constituição de 1988, tornou-se ministro do recém-criado Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em 1991, foi indicado pelo presidente Fernando Collor para o Supremo Tribunal Federal (STF), ápice de sua carreira na magistratura.
Saiba Mais
-
Direito e Justiça Entenda quais são os reais efeitos de se ter a guarda de um filho
-
Direito e Justiça Reforma Administrativa: a mudança paradigmática que redefine carreiras, estabilidade e privilégios no serviço público brasileiro
-
Direito e Justiça Visão do Direito: 3º Congresso do Fonaref incentiva debate aberto e aprova 17 novos enunciados sobre insolvência
-
Direito e Justiça Visão do Direito: quem produz paga pela ineficiência pública
