Uma mostra de arte contemporânea que extrapola os limites físicos de um museu, conecta diferentes cidades brasileiras, reúne uma diversidade de artistas e linguagens artísticas e, por fim, ganha o ambiente virtual. Em resumo, esta é a exposição No calor da hora, primeira edição do projeto M.A.P.A — Modos de Ação para Propagar Arte.
De modo a quebrar as barreiras que separam o universo artístico do público e a inserir a arte no dia a dia das pessoas, a agência paulista VIVA Projects e a curadora Patricia Wagner selecionaram 27 artistas cujas poéticas perpassam diferentes áreas, como cinema, artes visuais, literatura, histórias em quadrinho e música, para ocupar áreas de outdoor em todas as capitais do país. A partir da própria estética, cada um deles tocou em questões “urgentes” do presente.
Espaço urbano
As bases do projeto vinham sendo discutidas antes da pandemia do novo coronavírus. Diante do atual contexto, a exposição ganhou escala nacional. “Era um projeto pensado para São Paulo. Com a pandemia, havia um assunto muito forte para tratar em uma escala muito maior. Então, ele deixou de fazer sentido um projeto localizado”, explica Patricia. Recorrendo a um antecedente da produção artística brasileira dos anos 1970 e 1980, a exposição permitiu que o que seria realizado em uma praça paulista chegasse a diferentes vias do país provocando reflexões acerca do momento político e social.
Ocupar o espaço público, sobretudo em um momento de distanciamento social, também é uma forma de evidenciar a importância das manifestações coletivas, do debate e da rua como lugar de pluralidade. “Não tem nenhum caráter panfletário. A lógica que norteou a produção é a reflexão, a partir da imagem, sobre o momento atual”, afirma a curadora.
Multiplicidade
“Os nortes da exposição eram trabalhar com artistas que tivessem uma habilidade e uma experiência com muitas linguagens e trabalhar com artistas que viessem de diferentes regiões do país, com diferentes experiências e visões de mundo, além de já terem uma produção consolidada”, detalha a curadora.
A lista de artistas conta com Aline Mota, Anna Costa e Silva, Anna Maria Maiolino, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, avaf, Dalton Paula, Gê Viana, João Pinheiro, Karim Ainouz, Leonora de Barros, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth, Ricardo Basbaum, Romy Pocztaruk, Santídio Pereira, Sonia Gomes, Traplev, Thiago Honório, Vera Chaves Barcellos. “Apresentamos artistas como o Arnaldo Antunes que trabalha na música e o João Pinheiro que faz história em quadrinho, então, o objetivo era também expandir um pouco os olhares da arte contemporânea, incluindo outras formas”, acrescenta Cecília Tanure, uma das sócias da VIVA Projects.
No calor da hora está dividida em ciclos, começando em seis cidades, exibidas em conjunto durante 15 dias, até completar o total de 27 cidades. Simultaneamente à exibição nos outdoors, as obras, inéditas no formato, também serão incorporadas à plataforma virtual do projeto. “Pensamos em arte como um bem essencial da humanidade. É preciso dar espaço para que essa manifestação aconteça. Em um cenário ‘normal’, muitos museus e galerias são vistos como inacessíveis, então queremos cortar esse caminho”, afirma Cecília.
Descentralização
De maneira a permitir um intercâmbio e uma descentralização do trabalho de artistas e os locais habituais de fala e exibição, a mostra traz a Brasília uma obra de Vera Chaves Barcellos, uma artista do Sul do Brasil. “Ela fez uma sobreposição de imagens de fotografias de gorilas de um zoológico em Barcelona, com chamas de fogo, cruzes e uma tarja verde e amarelo fazendo uma alusão muito clara à este momento que a gente está vivendo. Problematizando essa indiferença pelas mortes, esse número assustador de mortes da pandemia, também as queimadas em todo o país. Um olhar para o presente fazendo uma crítica afiada”, detalha Patricia. O trabalho está exposto no Guará.
“É uma forma de se relacionar com a arte totalmente diferente. Não tem um espaço ali dando chancela. Tem uma obra de arte no cotidiano das pessoas. O desafio é justamente saber que as pessoas vão passar por ali e ver a obra, mas ela tem autonomia e se comunica por ela mesma. São artistas de respaldo para conseguir provocar as pessoas a partir do trabalho e após o primeiro impacto do ‘isso não é uma propaganda’”, avalia a curadora. “É uma forma de ocupar esse espaço, onde muitas vezes estaria ali para vender algo, mas com uma manifestação artística, uma manifestação do bela”, acrescenta Cecilia.
Sobre Vera Chaves Barcellos - Porto Alegre
Artista visual que atua em diversas plataformas, como desenho, pintura, gravura, vídeo, instalação e performance. Na década de 1960, dedicou-se à gravura e, a partir da década de 1980, se especializou em estudos de fotografia e a aplicação em técnicas gráficas. Em seguida, ela realiza instalações empregando, para além da fotografia, diversos meios de reprodução da imagem. O trabalho da artista explora as linguagens com que trabalha questionando categorias artísticas como as de originalidade e autenticidade, muitas vezes por meio de imagens repetitivamente reproduzidas, propondo uma reflexão sobre a relação entre cultura e natureza. É uma das fundadoras do coletivo Nervo Óptico e participou de importantes mostras coletivas como a Bienal de São Paulo (1967, 1977 e 1989); Bienal de Veneza, Itália (1976); Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo (1997); e Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre (2005). Vive e trabalha entre
Viamão e Barcelona.
Serviço
Obra inédita criada pela artista Vera Chaves Barcellos para o projeto M.A.P.A.
Endereço: Strc Trecho 1 Conjunto B - Guará
Até 13 de setembro
Confira as datas, as cidades e os artistas de cada ciclo da exposição:
Ciclo 1 (de 31/8 a 13/9): Rio Branco (Aline Motta), Curitiba (Paulo Bruscky), Vitória (Augusto de Campos), Salvador (Traplev), Cuiabá (Ricardo Basbaum), Brasília (Vera Chaves Barcellos)
Ciclo 2 (de 14/9 a 27/9): Manaus (Gê Viana), Goiânia (Karim Aïnouz), São Luís (Paulo Nazareth), Fortaleza (Dalton Paula), Belo Horizonte (Leonora de Barros), Belém ( Vitor César), João Pessoa (Romy Pocztaruk)
Ciclo 3 (de 28/9 a 11/10): Recife (Mauro Restiffe), Teresina (Anna Costa e Silva), Rio de Janeiro (Denilson Baniwa), Natal (Anna Maria Maiolino), Maceió (Mabe Bethônico), Porto Alegre (Santidio Pereira), Campo Grande (João Pinheiro)
Ciclo 4 (de 12/10 a 25/10): Porto Velho (Thiago Honório), Boa Vista (Bárbara Wagner e Benjamin de Burca), Florianópolis (Sonia Gomes), Osasco (Éder Oliveira), Aracajú (Arnaldo Antunes), Palmas (André Komatsu), Macapá (avaf)
Mais informações sobre o M.A.P.A no site e no Instagram.
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