Literatura

Antonio Fagundes escreve livro com dicas de leitura

Grande nome da dramaturgia brasileira, Antonio Fagundes é um apaixonado pela literatura. Ao Correio, o artista fala sobre seu novo livro com dicas de leitura e sobre os projetos da carreira

Adriana Izel
postado em 12/01/2021 07:37 / atualizado em 12/01/2021 10:26
''É uma aproximação de profundidade de foco'', define Fagundes sobre o ato de ler -  (crédito: João Cotta/Divulgação)
''É uma aproximação de profundidade de foco'', define Fagundes sobre o ato de ler - (crédito: João Cotta/Divulgação)

Em 2019, a paixão de Antonio Fagundes pela literatura se tornou pública, graças ao personagem Alberto da novela Bom Sucesso. No folhetim, o editor de livros falava naturalmente na tevê aberta sobre o ambiente literário. Um presente para o artista, que iniciou o hábito da leitura aos 6 anos, quando teve uma anemia profunda, que o obrigou a ficar em repouso absoluto. Na época, a companhia foram os gibis. Com o tempo, outras histórias passaram a fazer parte da rotina do carioca de 71 anos, que está sempre acompanhado de um livro.

O sucesso do personagem fez com que a emissora convidasse o ator a fazer um podcast, o Clube do livro. Com duração de 21 programas, a atração apresentava os comentários do astro sobre obras literárias. A cada capítulo, Fagundes abordava um gênero. O projeto inspirou uma versão para além do digital: Tem um livro aqui que você vai gostar, escrito pelo próprio Fagundes e publicado pela editora Sextante.

O objetivo do conteúdo é inspirar novos leitores a partir de dicas para se iniciar na leitura com obras de diferentes gêneros e autores. “Não tem uma direção, não tem um cânone. Não é como os 500 livros que você precisa ler antes de morrer. Não existe isso. Ao contrário, insisto que livro bom para você é o que te agrada”, defende o ator em entrevista exclusiva ao Correio.

Dividido em capítulos, o livro traz indicações de literatura brasileira e internacional, passando pelos gêneros de mistério, suspense, thriller, romance, distopia, terror, ficção científica, poesia, best-seller, ciência, feminismo e até autoajuda. “As pessoas sempre me perguntavam o que eu recomendava. A coisa mais difícil do mundo é recomendar algo. Você tem que conhecer o gosto da pessoa. O tipo de interesse que ela tem. Acabou que fiz um livro não de indicações, mas de primeiros passos para quem está querendo começar a ler (com frequência) e não se sentir perdido quando entrar numa livraria”. define.

Também há espaço na obra para perfil dos autores citados, além de relatos pessoais do autor. Com várias adaptações no currículo, Fagundes aproveita para citar as produções em que trabalhou, que vieram das páginas dos livros, como Se eu fechar os olhos agora (Edney Silvestre), Gabriela (Jorge Amado) e Dois irmãos (Milton Hatoum). “Fiz muita coisa tirada da literatura, não só na televisão, como no teatro. E percebi que as pessoas que não gostavam de ler, tinham uma certa ansiedade antes de encarar o livro, começavam a curtir mais quando já conheciam a história (contada) em uma peça, um filme, uma série. Isso faz com que elas se aproximem mais tranquilamente da literatura”, avalia.

O sempre galã de novelas gosta de ler de tudo. Ele defende: o que lhe agrada é o livro bom. “Gosto de literatura. Claro que costumo brincar sempre que o gênero que eu prefiro é o bom. Você tem literatura boa e ruim em qualquer estilo”, comenta. Já quando a questão é livro físico versus digital, a escolha é fácil para Fagundes, que prefere ler à moda antiga. “Até porque quando você lê o livro digital, se confunde um pouco com o veículo. Quando usa o smartphone ou tablet, você exige rapidez. Quando pega um e-book, seu cérebro exige a mesma velocidade, e a leitura não é rápida. É uma aproximação de profundidade, de foco. Ao contrário do que esses aparelhos propõem”, defende.

Na estrada

Por muito tempo, o ator conhecido por papéis em O rei do gado e Vale tudo foi avesso ao mundo digital. Não tinha rede social. Não gostava de estar no celular e no computador. Isso mudou. “Mudou até a página 20 (risos). Mudou no sentido de que a gente tem que reconhecer que essa tecnologia veio para ficar. Não tenho dúvida de que se você não tem um pouquinho de conhecimento desse universo fica totalmente isolado. Fico no máximo uma hora por dia. Não passa disso. Na sexta-feira, coloco meu celular na gaveta e só tiro na segunda de manhã”, conta. Nessa uma hora no smartphone, Fagundes aproveita para compartilhar leituras. Semanalmente, ele aparece em vídeo no Instagram lendo uma poesia para o público.

Esse tempo cronometrado em relação à tecnologia faz com que Fagundes tenha muitas horas livres. Em 2020, com a quarentena, ele transformou ainda mais o modo de usar o tempo. Fez comerciais, escreveu o livro e gravou a versão audiobook de Sapiens — Uma breve história da humanidade, de Yuval Harari, para a Companhia das Letras. “Isso tudo me deu muito trabalho. Também fiz muitas lives. Naturalmente, li mais do que costumo ler, porque tive mais tempo para isso. Fui atrás de livros que eu tinha comprado há muito tempo e ainda não tinha lido”, lembra.

Uma das surpresas no ano passado foi a notícia de que Antonio Fagundes não renovou o contrato com a Rede Globo, emissora a qual esteve ligado por mais de 40 anos. Apesar disso, ele não deve ficar muito tempo afastado da televisão. O artista deve voltar no remake de Pantanal, que será feito pelo canal: “Realmente estou cotado para fazer um personagem. Estamos em volta da indefinição do começo da data de gravação. Mas não acertei nada com a Globo. Estou cotado pelo autor e diretor da novela”.

Dois mil e vinte também foi ano de indefinição para o espetáculo Baixa terapia — Uma comédia no divã com o qual Fagundes estava em cartaz havia três anos. A montagem, que passou por Brasília em 2018, é uma comédia que acompanha a história de três casais que se encontram inesperadamente em um consultório de terapia, sem a presença da psicóloga. “Viajamos por 27 cidades no Brasil, o que é muito pouco. Temos muito ainda a fazer em termos de viagem. Fomos para o exterior, nos Estados Unidos e, em Portugal, fizemos uma longa temporada de três meses. Mas nunca fizemos no Rio de Janeiro. Estava com estreia marcada para maio. Quando veio a pandemia fomos obrigados a suspender”, lembra.

A ideia é voltar com a peça após a vacina. “Assim que a vacina sair e a gente perceber que será seguro aglomerar, voltamos com Baixa terapia”, garante. Até então, a peça foi assistida por mais de 300 mil pessoas.

 

Cinco indicações de Fagundes

Vaca de nariz sutil, de Campos de Carvalho
O alienista, de Machado de Assis
Dália negra, de James Ellroy
Mulheres empilhadas, de Patrícia Melo
Eu estou vivo e vocês estão mortos, de Emmanuel Carrère


 

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Tem um livro aqui que você vai gostar

 (crédito: João Cotta/Divulgação)
crédito: João Cotta/Divulgação


De Antonio Fagundes. Editora Sextante, 240 páginas. Preço médio: R$ 49,99 e R$ 29,99 (e-book).