Festival de Veneza

Sorrentino emociona em Veneza com filme sobre sua vida trágica em Nápoles

O diretor italiano Paolo Sorrentino emocionou o festival com o filme autobiográfico, "The hand of God" ambientado em Nápoles

Agence France-Presse
postado em 02/09/2021 17:44 / atualizado em 02/09/2021 17:45
 (crédito: Filippo MONTEFORTE / AFP)
(crédito: Filippo MONTEFORTE / AFP)

O diretor italiano Paolo Sorrentino, vencedor Oscar em 2014 com "A grande beleza", emocionou nesta quinta-feira (2) em Veneza, com "The hand of God", um filme autobiográfico ambientado na turbulenta Nápoles e dedicado em parte ao seu ídolo, o argentino Diego Armando Maradona.

“Fiz o que pude. Acho que não fiz mal”, é a frase de Maradona que inspira o novo e muito esperado filme do realizador italiano, que concorre com outros 20 filmes no festival de Veneza.

O consagrado diretor, de 51 anos, considerado um dos autores mais relevantes do cinema europeu, herdeiro do estilo de Federico Fellini, regressa à sua cidade para contar a história da sua adolescência e da sua vocação de cineasta em circunstâncias trágicas.

Com um retrato alegre e doloroso das personagens que compõem a sua infância e adolescência em Nápoles dos anos oitenta, Sorrentino consegue partilhar a sua dor pela morte trágica e inesperada dos pais e revelar o nascimento do seu universo, tão pessoal e único, com monges anões, tias sensuais, piadas, mergulhos no mar e passeios de barco.

“Fiquei emocionado ao fazer este filme. Já o vi 40 vezes e todas as vezes me emociono com algumas cenas específicas”, confessou o diretor em conversa com a mídia, incluindo a AFP.

“O que mais me emociona são as cenas em que o menino parece tão indefeso”, enfatiza, provavelmente referindo-se a uma das sequências mais dramáticas, de raiva irreprimível, quando é impedido de ver os corpos de seu pai e de sua mãe no hospital.

“Na vida, despedir-se, dizer adeus às pessoas é muito importante. Se elas simplesmente desaparecerem, é como se nunca tivessem partido”, confessa.

 

Maradona salvou sua vida 


Embora o personagem central se chame Fabietto Schisa, é claro que se trata do jovem Paolo Sorrentino, que adora futebol, não tem amigos e seu mundo gira em torno da família, dos vizinhos e da paixão pelo time de futebol de Nápoles.

“Para mim, quando criança, o mais importante que aconteceu naquele momento foi que o Maradona foi contratado pelo Nápoles (...) Com ele aprendi o que é arte, porque o Maradona não era apenas jogador de futebol, mas sabia como transcender a realidade; Foi minha primeira oportunidade de me aproximar da arte”, explica.

O diretor se refere aos anos em que o craque argentino jogou em Nápoles e ao famoso e mítico gol de mão que Maradona marcou com a seleção argentina nas quartas de final contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986 no México e que atribuiu à mão de Deus, frase que dá origem ao título do filme.

Ovacionada em suas primeiras passagens pela imprensa, o filme de Sorrentino transmite a ideia de que de alguma forma Maradona salvou sua vida, pois por não viajar com os pais para a casa na montanha e preferir assistir ao jogo de futebol do Nápoles, evitou morrer com eles em um vazamento de gás enquanto dormiam.

“A mensagem do filme é que há um futuro para todos, independentemente do sofrimento e da dor que experimentaram na vida. Espero que os jovens possam entender isso porque eles estão mais preocupados do que nós com o futuro”, resumiu.

Com o ator Toni Servillo, no papel do pai de um banqueiro, o filme de Sorrentino, produzido pela Netflix, entra na briga pelo Leão de Ouro.

A gigante da indústria audiovisual, que saiu fortalecida pela pandemia, é favorito na corrida pelo prêmio máximo, depois do obtido com "Roma" em 2018, do mexicano Alfonso Cuarón.

Ao contrário do festival francês de Cannes, Veneza também convidou o filme produzido pela Netflix "The Power of the Dog", que marca o retorno ao cinema da neozelandesa Jane Campion, após mais de 20 anos.



© Agence France-Presse

 

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