Tradição

Segunda Roda de Mamulengos do DF vai até 25 de setembro, em versão on-line

2° Roda de Mamulengos reúne artistas que trabalham com a vertente da arte popular no DF, em evento virtual gratuito com espetáculos, oficinas e depoimentos de bonequeiros

Prisley Zuse*
postado em 17/09/2021 06:00
Cena do espetáculo do grupo de teatro de bonecosVoar -  (crédito: Kacau Machado)
Cena do espetáculo do grupo de teatro de bonecosVoar - (crédito: Kacau Machado)

A Associação Candanga de Teatro de Bonecos (ACTB), em parceria com a Associação Fuzuê de Arte e Cultura, realiza a 2ª Roda de Mamulengos do Distrito Federal até o dia 25 de setembro. Este ano, o evento on-line apresenta ao público espetáculos, oficinas de confecção de bonecos e um vídeo depoimento com bonequeiros e bonequeiras de todo o DF. O evento gratuito e com classificação indicativa livre será transmitido pelo canal do Youtube ACTB — Teatro de Bonecos.

O evento foi desenvolvido como uma forma de divulgação do teatro popular de bonecos do Nordeste no DF, também conhecido como mamulengo, e é realizado como uma ação de auxílio emergencial aos brincantes, que tiveram seus trabalhos artísticos prejudicados em virtude da pandemia da covid-19. A ação conta com financiamento do edital FAC Apresentações Online, vinculado ao programa Conexão Cultura da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, e apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do DF.

“O evento é uma forma de manter viva a tradição, vamos promover esse encontro local, onde nós, brincantes, poderemos nos reunir e promover ações conjuntas. É um evento para todas as idades e para a família toda. Muitos artistas tiveram que interromper seus trabalhos em virtude da pandemia. Então, será um momento de muita alegria reunir todos, mesmo em formato on-line”, comenta Thiago Francisco, membro da ACTB e Mamulengo Fuzuê.

O mamulengo é uma brincadeira genuinamente brasileira, popular e diversa, originária em diferentes estados da Região Nordeste e disseminada nacionalmente por meio dos processos de migração. Desde março de 2015, tornou-se patrimônio cultural imaterial do Brasil, inscrito no Livro de Formas de Expressão do Iphan.

Saulo Diniz, superintendente do Iphan no Distrito Federal (Iphan-DF), destaca que para se tornar patrimônio imaterial foi um processo longo, com muitas pesquisas que resultou em um dossiê, coordenado pela professora Izabela Brochado (UnB). “Foi realizada uma ampla pesquisa bibliográfica, etnográfica e documental, que resultou em um dossiê, documento que, além de sintetizar os resultados da pesquisa, aponta possíveis medidas de salvaguarda. O processo foi analisado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural que, por unanimidade, reconheceu a relevância do TBPN para o patrimônio cultural nacional e o inscreveu no Livro das Formas de Expressão.”

Brasília é considerada a cidade fora do Nordeste com o maior número de brincantes dessa forma de expressão. Em 2020, foram catalogados, em diversas regiões administrativas, 17 grupos com trabalhos desenvolvidos na linguagem do teatro de bonecos, e 13 em que o foco central é o mamulengo. “Vindos do Nordeste, os primeiros mamulengueiros chegaram ao Planalto Central à época da construção da capital, e aqui estabeleceram morada. Ao longo do tempo, novos brincantes surgiram, mantendo a tradição viva e pujante no DF”, completou Saulo.

Do palco para as telas

A pandemia e o isolamento social foram um desafio para os brincantes do DF. Os palcos foram substituídos por telas, e o calor humano, por comentários. Carlos Gomides, um dos primeiros brincantes do DF, lembra que as dificuldades não foram maiores, porque o trabalho da Companhia Carroça, da qual faz parte desde o início da sua trajetória artística, tem mais de 40 anos de história, o que ocasionou em convites para participação de lives e cursos.

“Com essa pandemia, o sofrimento da nossa gente é incalculável. Isso marca nossa alma, no sentido de que não podemos perder o dom de sonhar e perseverar, cada vez, mais por um mundo mais justo. Em termos de enfrentar dificuldades no trabalho, não aconteceu tanto, pois a Companhia Carroça, com seus 44 anos em viagens pelo país, pois, tornou-se muito conhecida e reconhecida. Então, fomos convidados por muitas escolas para realizar apresentações por meio de lives. Além disso, estamos dando um curso de pós-graduação. Então, isso possibilita alguns recursos para mantermos nosso estilo de vida muito simples, superando as dificuldades econômicas de forma singular”, completou Carlos.

Para ele, essa transição para as telas ocasionou na perda do contato direto com o público, porém possibilitou que a Companhia mostrasse os bastidores da apresentação de uma forma mais didática. “Nas apresentações presenciais, o público possibilita um diálogo com os personagens durante a brincadeira. Porém, por outro lado, durante as apresentações on-line buscamos que a câmera filmasse, ao mesmo tempo, tanto os bonecos na tenda quanto o processo dentro dela quando estou vestindo o boneco em minhas mãos, o que tornou a brincadeira mais didática”, completou.

Porém a transição para as telas não foi algo tão fácil para todos. Tetê Alcândida conta que a pandemia foi um dos momentos mais desafiadores para ela e para a ocupação que coordena, o Batalhão das Artes, pois eles não conseguiram recursos para pagar o básico, como água, luz e materiais essenciais. Mas o grupo conseguiu superar as dificuldades. “A gente sobreviveu porque a arte é inerente, tendo dinheiro ou não, com projeto ou não, nós continuamos os afazeres e a confecção dos bonecos.”

A transição para o formato on-line foi uma outra dificuldade para Tetê, pois ela não tinha familiaridade com a tecnologia. “A primeira live que eu fiz ficou muito ruim. Quando eu assisti, chorei de tristeza, de verdade. Fiquei com trauma e não queria, de jeito nenhum, fazer novos vídeos. Porém os meninos mais novos vieram e me convenceram a gravar o depoimento e, quando eu vi o resultado, deu vontade de fazer todo dia. Gravei também a oficina de bonecos e ficou muito legal. Já estou lidando melhor com as telas hoje.”

Por outro lado, Tetê comentou que a quebra das barreiras geográficas foi um dos melhores ganhos com o formato on-line. “A presença e troca com o público é algo insubstituível, porém hoje eu já vejo pontos positivos no on-line, como o número de pessoas que consigo alcançar, chegando a outros países, outros estados, outras linguagens”, finaliza.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco


Confira a programação da 2º Roda de Mamulengo

Sexta-feira (17/9)
9h: Carneiro Voador Circo Estrela – A fome do rico
14h: Mamulengo Sem Fronteiras – Exemplos de Bastião

Sábado (18/9)
14h: Oficina de Confecção de Bonecos de Madeira – Moisés Bento

Terça-feira (21/9)
9h: Mamulengo Fuzuê – Benedito, abençoado e bendizido

14h: Grupo Pirilampo de Teatro de Bonecos – Pro povo rir, um pout pourri pirilampesco

Quarta-feira (22/9)
9h: Voar Teatro de Bonecos – Tramoias para enganar
a morte

14h: Trapusteros Teatro – Marieta e o Boi-Bumbá

Quinta-feira (23/9)
9h: Mamulengo Lengo Tengo – As aventuras e desventuras de Benedito em Brasólia
14h: Casa Moringa – Vereda dos Mamulengos

Sexta -feira (24/9)
9h: Grupo Pilombetagem – Benedito e o Boi Pintadinho
14h: Carroça de Mamulengos – O Babauzeiro

Sábado (25/9)
14h: Oficina de Confecção de Bonecos com Tetê Alcândida
Para mais informações sobre o evento, acesse: www.teatrodebonecosdf.
com.br e www. mamulengofuzue.com.br

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação