Música

Retrospectiva 2021: Artistas lançam álbuns produzidos na quarentena

Durante o período de isolamento social imposto pela pandemia, Caetano Veloso, Alceu Valença, Maria Bethânia, Marisa Monte, entre outros, aproveitaram o tempo livre para produzirem novos discos

Irlam Rocha Lima
postado em 29/12/2021 06:00
Marisa Monte lançou o álbum Porta -  (crédito: Alfredo Alves/Divulgação)
Marisa Monte lançou o álbum Porta - (crédito: Alfredo Alves/Divulgação)

Impedidos de fazer shows, realizar turnês e ter contato direto com o público em boa parte da temporada de 2020, por conta da pandemia da covid 19, nomes destacados da música popular brasileira utilizaram o tempo da longa quarentena para produzir, gravar e lançar discos. Alguns estavam há algum tempo sem marcar presença no mercado fonográfico, como os estelares Caetano Veloso e Marisa Monte. Outros, ao contrário, têm trazido novidades para os fãs, com maior frequência.Todos, porém, se igualam ao seguirem a tendência de utilização das plataformas digitais para mostrarem o que estão fazendo.

Caetano Veloso, por exemplo, sem fazer lançamento desde 2012 -- é certo que há o registro de Ofertório, que gravou com os filhos Moreno, Zeca e Tom, de dois anos atrás -- reapareceu em outubro trazendo Meu coco, álbum de 12 faixas inéditas, com sonoridade revigorante e poética requintada, que reúne canções reflexivas como Enzo Gabriel, Noite de cristal, Cobre, a que dá título ao projeto, e Não vou deixar, que, com veemência, manda o necessário e óbvio recado: "Não vou deixar, não vou deixar, não vou deixar você esculachar com nossa história..."

Quem também propôs novidade neste ano foi Marisa Monte. Comprometida com o coletivo Tribalistas, havia 10 anos que a cantora e compositora carioca não lançava CD solo. A retomada foi com Porta, no qual esperança, fé e gentileza são evocadas em canções do repertório compostas mais recentemente. Algumas são parcerias com companheiros de outras jornadas, como Arnaldo Antunes (A língua dos animais e a faixa título), Nando Reis (Praia Vermelha) e Seu Jorge (Pra melhorar). Mas predominam músicas compostas com Chico Brown, filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque, entre elas Calma e Qualquer tom.

Nu com minha música

Ao interromper a turnê de Bloco na rua, show que o manteve na estrada por dois anos, Ney Matogrosso, sempre inquieto, imediatamente se debruçou sobre outro projeto. Detendo-se no caderno em que lista músicas pelas quais tem o interesse despertado, selecionou as que iria gravar em Nu com minha música, o álbum lançado em outubro -- antecedido por um EP que chegou às plataformas digitais em 8 de agosto, quando celebrou 80 anos. No set list, ao lado da canção que dá nome a esse trabalho, composta por Caetano Veloso, estão, entre outras, as instigantes Faz um carnaval comigo (Pedro Luis), Gita (Raul Seixas) e Sua estupidez (Roberto e Erasmo Carlos), além da andrógina Unicórnio azul.

Em março, Maria Bethânia acabara de estrear numa grande casa de espetáculos de São Paulo o show Claros breus -- testado antes, durante um mês, num minúsculo teatro no Rio de Janeiro -- quando teve que interromper a temporada, em razão da pandemia. Ao voltar para casa, atenta ao que ocorria, buscou se proteger durante a quarentena, mas a quis torná-la produtiva. Aí então decidiu que deveria se dedicar à produção de um novo projeto fonográfico, que viria a se chamar Noturno.

Inicialmente definiu o que iria gravar. As duas primeiras, A flor encarnada (Adriana Calcanhotto) e Lapa Santa (Paulo Dafilin e Roque Ferreira) foram registradas num EP. A elas se juntaram outras 10 faixas -- de Bar da noite (Bidu Reis e Haroldo Barbosa, antigo sucesso de Nora Ney, à inédita O sopro do fole, de Zeca Veloso, passando por Luminosidade (Chico César), Cria da comunidade (Xande de Pilares e Serginho Meriti). A produção musical do álbum tem a assinatura do contrabaixista cearense-brasilense Jorge Helder.

Artistas com relevante contribuição à música popular brasileira, Jards Macalé e João Donato ainda não haviam juntado os talentos em algum projeto. Isso veio a ocorrer neste ano, quando juntos gravaram Síntese do lance. No álbum, que disponibilizaram em novembro nas plataformas digitais -- via o selo Rocinante. Entre as composições, Coco táxi é a única que fizeram juntos. Macalé criou Um abraço do João com Joyce Moreno e O amor vem da paz, que tem Ronaldo Bastos como parceiro. Já Donato é autor de Dona Castorina, dedicada à mulher Ivone Belém; e a faixa título, que dividiu com Marlon Sete e Açafrão.

Senhora estrada é o nome do CD de Alceu Valença que chegou às plataformas digitais no final de novembro. Esse é um dos dos projetos que o cantor e compositor pernambucano produziu em 2020 que, a exemplo dos outros, optou pelo minimalismo, ao gravá-lo utilizando apenas voz e violão. Fiel à origem nordestina, nas 11 faixas ouve-se ritmos como baião, xote, toada, com os quais homenageou o mestre Luiz Gonzaga, de quem gravou Numa sala de reboco e Pau de arara. Dele próprio gravou, incluiu, por exemplo, os clássicos Coração bobo, Pelas ruas que andei e as lado B Cabelo de pente, Flor de tangerina e Vai chover.

Nome icônico da história da música popular brasileira, Aldir Blanc, morto em 4 de junho de 2020, se tornou nome de lei, no âmbito da cultura, recebeu outra homenagem com gravação de um CD, que contém letras de sua autoria musicadas por parceiros diversos. Disponibilizado pela Biscoito Fino, em outubro, nas plataformas digitais, o Aldir Blanc Inédito, contém 12 faixas, nas quais é reverenciado por alguns nomes consagrados da MPB. Chico Buarque interpreta Vôo cego; João Bosco canta Agora sou da diretoria; Maria Bethânia solta a voz em Palácio de lágrimas; enquanto Guinga e Leila Pinheiro dão o recado em Navio Negreiro.

 


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    Caetano Veloso lançou o álbum Meu coco Foto: Fernando Young/Divulgação
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  •  2021.  Cultura. Cantor Alceu Valença.
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