Cinema

Cine Brasília recebe mostra de cinema latino-americano e caribenho

5ª Mostra de Cinema Latino-Americano e Caribenho começa nesta quinta-feira, no Cine Brasília, com entrada gratuita, em mostra marcada pela diversidade de temas e abordagens

Ricardo Daehn
postado em 04/08/2022 00:01
 (crédito:  Gaya Filmes/Globo Play)
(crédito: Gaya Filmes/Globo Play)

Na pulsão de uma mudança que "pede para outra realidade emergir", como assinala a embaixadora de Barbados, Tonika Sealy-Thompson, a 5ª Mostra de Cinema Latino-Americano e Caribenho chega, a partir de hoje (4/8), ao Cine Brasília (EQS 106/7). Ela vem embalada aos moldes dos anos 1960, que "eram para todo mundo", como ressalta Tonika: a mostra de 19 filmes terá entrada franca.  E, junto com a diversidade de temas, traz muita representatividade de assinaturas criativas. "No quinto ano do evento, mas com dois anos de pandemia, estamos apenas começando: é necessário 'beber e comer da cultura' que não é muito disponível — e Brasília pode virar um centro desta cultura", ressalta a embaixadora.

No primeiro dia da mostra no Cine Brasília, as atenções se voltam para outra embaixadora: a escritora Laura Esquivel, destacada como representante do México, no âmbito diplomático. Às 18h30, será mostrado o longa Como água para chocolate, criado por Alfonso Arau, há 30 anos, a partir de obra de Esquivel. "Toda a América Latina deveria ter orgulho deste filme", ressalta Tonika, ao tratar da obra que mistura romance, responsabilidade familiar e gastronomia. O filme teve indicações ao Globo de Ouro e ao Bafta, além de  vencer prêmios como Ariel (o mais importante do México, em nove categorias) e o Kikito (do Festival de Gramado, em três categorias).

A importância de se ter noção do que sejam os países hispânicos e perceber aproximações para além das geográficas são fatores sublinhados por Eduardo Cousin, chefe de chancelaria da Embaixada de Equador, país presente nos festejos. "O conhecimento das nossas realidades através da cinematografia é fundamental. No futuro, podemos pensar em ações de cooperação e de integração de produtores cinematográficos", destaca Cousin, ciente da aproximação "muito atrativa, pelo carinho e admiração gerados pelo Brasil".

O vigário (a ser apresentado, às 18h30 de 10/8), de Tito Jara H., marca sua estreia na América Latina, dentro da mostra, depois de ser exibido em festival indiano. Comercialmente, será exibido nos mercados europeus, norte-americano e brasileiro, em 2023. "O filme fala de um homem que surpreende as pessoas, sendo um religioso falso e se aproveita de uma menina que tem capacidades especiais, pronta para realizar espécies de milagres. A reflexão do longa é a de que muitas pessoas acreditam mais nas mentiras do que nas verdades, como não deixa de ocorrer na política também", comenta Eduardo Cousin, que completa com a percepção de que "Equador, Colômbia e Caribe também têm muita parte da população crente na ideia de que ações transcorridas no céu são influentes, e que podem tocar suas vidas".

Admiração e respeito 

Na busca por relação mais intensa com o Brasil, que segue tendo a popularidade associada às telenovelas e ao futebol, espectadores estrangeiros terão acesso ao retrato, em cinema, de uma mulher forte: Pureza, interpretada por Dira Paes, em fita de Renato Barbieri (atração do dia 13 de agosto, às 18h30). Pureza, em realidade contemporânea, lutou pela libertação de pessoas exploradas em situações análogas às da escravidão. A favor da visibilidade de obras femininas, a embaixadora Tonika Sealy-Thompson dimensiona que metade dos filmes têm cineastas mulheres no comando. Autoproclamada "servidora do processo" e facilitadora da circulação das obras pelo Brasil, Tonika vem do país insular comandado pela primeira-ministra do partido trabalhista Mia Amor Mottley, que, como ela assinala, "perturba a ordem global".

A mostra de cinema no Cine Brasília contempla, entre outros, o documentário Sonhos de Panamá, da diretora Alison Saunders-Franklyn, que destrinça parte do processo de exploração de raças imersas em estruturas de poder. "Barbadianos foram importantes na construção do Canal do Panamá. O suor, o sangue e as lágrimas deles estão investidos nessa conexão de países e comércio", observa Tonika. Na defesa do meio ambiente, a mostra destaca As mulheres do Wangki, produção da nicaraguense Rossana Lacayo. No filme, há registro da luta de mulheres indígenas por preservação de dados ancestrais e por debelar uma sociedade machista.

No processo da expansão cultural da rede de países, Tonika Sealy-Thompson ressalta que Barbados cabe no Brasil 19 mil vezes, mas que sempre, no encontro de culturas, ecoa como princípio a igualdade. "As indústrias criativas são importantes comercialmente, no âmbito da América-Latina e Caribe. No começo de 2023, vamos organizar um evento relacionado ao tema, com possibilidade de parcerias e de coproduções. Fico emocionada com a ideia de ver diretores e produtores se conhecerem — há conteúdos fantásticos em termos de potencial. A capacidade produtora do Brasil é excelente", conclui.

5ª Mostra de Cinema Latino-Americano e Caribenho

Cine Brasília - (EQD 106/107), com entrada franca.

Hoje (4/8), às 18h30, Como água para chocolate (México), de Alfonso Arau.

Amanhã (5/8), às 18h, Sonho Florianópolis (Argentina), de Ana Katz. Às 20h30, Avenidas (Uruguai), de Daniela Sparanza.

Sábado (6/8), às 15h30, Cachimba (Chile), de Sílvio Caiozzi. Às 18h30, Ruth (Portugal), de Antônio Pinhão Botelho.

Domingo (7/8), às 15h30, Viagem a Tombuctú (Peru), de Carmen Rossana Diaz Costa. Às 18h30, A palavra de Pablo (El Salvador), de Arturo Menéndes.

Dia 8, às 18h30, Donaire e esplendor (Panamá), de Arturo Montenegro. Às 21h, O apóstolo (Espanha), de Fernando Cartizo.

Dia 9, às 18h30, Joana Azurdy: guerrilheira da pátria grande (Bolívia), de Jorge Sanjinés. Às 20h30, Matar um morto (Paraguai), de Hugo Giménez.

Dia 10, às 18h30, O vigário (Equador), de Tito Jara H.. Às 21h, De olhos fechados (Costa Rica), de Hernan Jimenez.

Dia 11, às 18h30, Cavaleiros do paraíso (Colômbia), de Thalía Osório Cardona. Às 20h30, Sonhos de Panamá (Barbados), de Alison Sauders.

Dia 12, às 18h30, As mulheres do Wangki (Nicarágua), de Rossana Lacayo. Às 20h30, De María África a María Montez (República Dominicana), de Jesús Reyes Mota.

Dia 13, às 15h30, Inocência (Cuba), de Alejandro Gil Álvarez. Às 18h30, Pureza (Brasil), de Renato Barbieri.

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