A Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (ARUC) promove, neste sábado (1º/10), a partir das 15h, o Desfile em prol do samba. Realizado no estacionamento da Quadra 1 do Cruzeiro Velho, o ato é uma manifestação ao auto de infração imposto pelo Instituto Brasília Ambiental (IBRAM), após reclamação de um morador da região. A situação proíbe a associação de realizar eventos com sons mecânicos e ao vivo até novas determinações judiciais.
Adotando como norte a campanha “resistir para existir", o presidente da ARUC, Rafael Fernandes, 45 anos, entende que o desfile é uma atividade de protesto e desagravo. “A gente entende que há um viés de perseguição a esse tipo de manifestação (escola de samba). É de matriz negra, popular”, conta. Ele ainda apela: “Não gostarem é um direito, mas impedir uma manifestação cultural, que é, inclusive, reconhecida pelo Estado como patrimônio cultural…”
Fundada em 1961, a ARUC é a mais antiga escola de samba da capital federal e também a maior campeã do Distrito Federal. A agremiação se apresenta no mesmo espaço há mais de 48 anos. A denúncia do morador começou em 2020 e, segundo o presidente, é apenas a segunda reclamação em 60 anos de história.
Para Rafael, o samba é uma manifestação cultural que exige um espaço aberto e propício para performar. Em busca de uma resolução, ele conta que, junto à faculdade de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB), tenta um respaldo técnico que agrade ambos os lados. “O ideal seria realizar um laudo acústico que apontasse soluções”, sugere.
Ex-presidente da ARUC também levanta bandeira
Atualmente na direção da Federação Nacional das Escolas de Samba (FENASAMBA), o ex-presidente da ARUC, Moacyr Oliveira Filho, 69 anos, aponta que os ensaios da bateria ocorrem apenas uma vez por semana. “Não pode tratar a ARUC como se fosse um bar que fizesse música ao vivo até altas horas todos os dias”, alega.
A determinação do IBRAM exige que nenhum barulho ultrapasse os 60 dB, o que passa a ser considerado um som Moderado Alto. De acordo com a última medição do instituto, o valor chegou a 69 dB. Todavia, Moacyr apela para que ela seja feita na casa do morador incomodado, e não onde a escola performa: “Numa área recreativa, com 60 dB você não canta nem ‘Parabéns pra você’.”
Apesar dos entraves, o ex-presidente acredita num mecanismo que contemple os dois lados da história. De um lado, um que atenue o incômodo para eventuais vizinhos e, do outro, um que garanta o direito da ARUC de continuar exercendo suas atividades. “Uma escola de samba que não pode tocar não é uma escola de samba”, finaliza.
* Estagiário sob supervisão de Nahima Maciel
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