CINEMA

Diretor de "Brichos 3" defende valorização da cultura brasileira

Em entrevista ao Correio, o diretor do longa, Paulo Munhoz, falou sobre o processo de criação da história e os desafios enfrentados durante a execução do filme

Yasmin Rajab
postado em 17/07/2023 12:35 / atualizado em 17/07/2023 12:37
Paulo Munhoz fala sobre a  sequência da animação na Vila dos Brichos que, desta vez, será atacada por um vírus terrível que atinge a mente das pessoas e coloca quase toda a população em estado de coma -  (crédito: Arquivo pessoal)
Paulo Munhoz fala sobre a sequência da animação na Vila dos Brichos que, desta vez, será atacada por um vírus terrível que atinge a mente das pessoas e coloca quase toda a população em estado de coma - (crédito: Arquivo pessoal)

Abordando uma temática diferente no mundo dos desenhos, o filme Brichos 3 — Megavírus será lançado em 20 de julho, nos cinemas, pela O2 Play. A sequência da animação voltará a mostrar as aventuras e confusões que ocorrem na Vila dos Brichos que, desta vez, será atacada por um vírus terrível que atinge a mente das pessoas e coloca quase toda a população em estado de coma. Diante da situação, a parte saudável da comunidade decide se unir para salvar os doentes. 

Em entrevista ao Correio, o diretor do longa, Paulo Munhoz, falou sobre o processo de criação da história e os desafios enfrentados durante a execução do filme. Além disso, a produção conta com a trilha sonora composta por um garoto brasiliense, Miguel Valente, de 13 anos — mas, o som foi composto pelo menino prodígio quando ele tinha apenas 8 anos.  

Ultrapassando as barreiras físicas e do cinema, Brichos faz tanto sucesso que também foi transformado em série, transmitida em vários países da América Latina. No entanto, o cineasta adianta que esta foi a última sequência longa produzida por ele. 

Confira a entrevista com o diretor de Brichos 3 

Como surgiu a ideia do terceiro roteiro de Brichos?

"Dei-me dois grandes presentes, que foi escrever o roteiro sozinho. Joguei várias histórias fora, então acho que é o roteiro mais redondinho, mais lapidado entre os três filmes, então estou bem feliz. É bem interessante que a gente sempre tem duas aventuras, né? A história que é contada e a aventura da produção de um filme. Nossa ideia era fazer um Brichos em 3D. Isso tinha sido até uma demanda do meu filho. Eu não consegui viabilizar recursos para fazer isso e a gente acabou adaptando o projeto para um edital regional, então a gente manteria em animação só as cenas de sonhos e produziria com crianças em live-action. Nós desenvolvemos máscaras super bonitas e quando estávamos fazendo o casting, em março de 2020, a pandemia caiu sobre nossas cabeças."

A história do filme tem alguma relação com a pandemia de covid-19?

"Em 2015, eu imaginei uma pandemia atacando a Vila dos Bichos, então eu imaginei várias coisas, como um meteoro trazendo um vírus. Tiveram vários roteiros que eu joguei fora até chegar nesse, que é um vírus gerado por uma maldade de alguém, que cria um vírus digital. Aquela circunstância é uma metáfora, é uma grande crítica às telas, que estão nos passando muitos vírus de raiva, vírus de incompreensão, vírus da intolerância, então a ideia também é essa. As redes sociais viraram palco de violência com a pandemia, isso piorou mais ainda."

Quais foram as maiores diferenças nos processos de produção entre os dois primeiros filmes e o último longa?

"A gente tinha uma dificuldade enorme, porque não existiam animadores suficientes em Curitiba. Então, montei um curso para formar pessoas para trabalharem no filme. Foi uma saga, é um filme de baixíssimo orçamento e que teve um resultado incrível. A gente entrou no cinema, a gente teve um público bem expressivo com o primeiro filme. No segundo, a gente já tinha um número maior, então a gente ficou três anos animando. Ele (Brichos 2) ficou mais sofisticado em termos de animação. A gente também teve um resultado muito bom. 

Desde a concepção original dos personagens, fomos contra várias ideias, como a do brasileiro com seu complexo de vira-lata, por exemplo. A Vila dos Brichos tem alta tecnologia dentro da floresta. O pessoal é legal, inteligente, trabalhador e honesto. A gente buscou colocar também todos os sotaques, como no caso das tias que são as guardiãs da tradição, em que uma é caipira, a outra é nordestina e a outra é do Sul." 

De onde surgiu a ideia do título da trilogia?

"A palavra 'brichos' é um resumo de bichos brasileiros. Eu consegui os personagens porque, em 2002, já tinha feito todo tipo de filme, como live-action, documentário, animação, e nossos melhores resultados tinham sido com curtas de animação. Eu adoro animação, comecei a bolar os personagens para criar um conteúdo para virar série. As famílias e turmas pareciam com coisas que já existiam, e daí cheguei a conclusão que eu deveria partir de um problema para poder criar uma turma em cima.

Na hora me veio aquela ideia do complexo de vira-lata do brasileiro, que tudo que é de fora é melhor. Mas, nós somos a maior reserva biológica do planeta! E as pessoas não lembram disso. Tem várias empresas brasileiras cujo nome é um bicho de fora, ou seja, 'sempre de lá é melhor'. Então falei: 'Cara, a gente não consegue nem enxergar a riqueza da nossa fauna. Vou fazer um conteúdo para tentar alterar isso, para que a gente tenha orgulho'".  

Trilha sonora direto de Brasília 

Uma das músicas que compõem a trilha sonora de Brichos 3 foi feita pelo brasiliense Miguel Valente. Isabella Silva, mãe do jovem, conta que ele faz aulas de violoncelo desde os 3 anos de idade e que, onde estuda, a cada término da leitura de um novo livro uma formatura é feita e solicitado que os alunos componham uma música para fechar um recital. 

"Miguel era aluno da escolinha de criatividade da Biblioteca Infantil e costumava pegar um livro em quadrinhos da turma dos Brichos, do Paulo Munhoz, repetidamente. Ele adorava a história e os personagens. Ele estava no período de fechamento do livro 3 de violoncelo, e tinha que preparar uma música autoral para fechar a formatura. Ele se inspirou no livro e foi fazendo um tema para cada personagem e finalizou os temas todos com um trecho do Hino Nacional, pois todos os personagens representam a fauna brasileira", conta orgulhosa. 

O menino apresentou a música pela primeira vez em setembro de 2018. Foi quando Isabella escreveu para Munhoz no endereço do autor do livro e os dois começaram a conversar. A mãe de Miguel mandou a música para o cineasta, que aprovou o som. "Paulo solicitou a autorização para usar a música em uma cena do filme. Não vimos ainda e será surpresa. Vamos tentar ir na pré-estreia", afirma. A música foi registrada na Biblioteca Nacional como obra do Miguel Valente com a cessão dos direitos para o filme.

"Quando eu peguei o contato dele, mandei o meu vídeo e ele falou que gostou, fiquei muito feliz porque o autor do livro que eu mais gostava tinha gostado da música que fiz em homenagem ao livro dele! Ele disse pra mim que iria fazer um filme e perguntou se podia usar a minha música, fiquei muito surpreso!", conta Miguel realizado. 

 

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