Artes cênicas

Espetáculo chama a atenção para a preservação da Amazônia, no Teatro Caixa

Corpo de Dança do Amazonas sobe ao palco do Teatro da Caixa hoje para celebrar a beleza da floresta e para convidar o público a refletir sobre a necessidade de preservação do bioma

Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural -  (crédito: Michael  Dantas)
Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural - (crédito: Michael Dantas)

Ta, em língua ticuna, significa ser grande. É um pouco a definição do próprio povo ticuna, a etnia mais numerosa hoje na Amazônia. A grandeza do conhecimento e da presença desses povos originários inspirou o coreógrafo Mário Nascimento a criar o espetáculo TA — Sobre ser grande, que o Corpo de Dança do Amazonas apresenta hoje no teatro da Caixa Cultural como parte do projeto Circulação Amazônia. Também integra o programa a coreografia Rios voadores, concedida pela mineira Rosa Antuña.

Fundada há 25 anos, a companhia faz parte de um conjunto de sete corpos de baile mantidos pelo Governo do Amazonas junto com uma orquestra filarmônica, uma orquestra de câmara, um balé folclórico e uma banda de jazz. São, no total, 24 bailarinos, todos originários da região amazônica e com um repertório majoritariamente focado em levar para a dança contemporânea um pouco do universo da floresta, desde questões urgentes como sua preservação até perspectivas mais oníricas como a cosmologia dos povos que a habitam. "É uma das grandes companhias do Brasil pela territorialidade que ocupa, onde está e dada a importância hoje das discussões políticas, sociais e ambientais que dizem respeito aos povos originais e à cultura", acredita o coreógrafo Mário Nascimento, à frente do Corpo de Dança do Amazonas há quatro anos. "Embora geograficamente Manaus esteja distante, existe uma política cultural no estado."

  • Espetáculo TA - Sobe ser grande, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural
    Espetáculo TA - Sobe ser grande, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural Michael Dantas
  • Espetáculo TA - Sobe ser grande, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural
    Espetáculo TA - Sobe ser grande, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural Michael Dantas
  • Espetáculo TA - Sobe ser grande, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural
    Espetáculo TA - Sobe ser grande, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural Michael Dantas
  • Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural
    Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural Michael Dantas
  • Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural
    Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural Michael Dantas
  • Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural
    Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural Michael Dantas
  • Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de Dança do Amazonas: visão lírica
    Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de Dança do Amazonas: visão lírica Michael Dantas
  • Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural
    Espetáculo Rios Voadores, do Corpo de dança do amazonas, no espetáculo Circulação Amazônia, na Caixa cultural Michael Dantas

Em TA — Sobre ser grande, Nascimento quis fazer uma homenagem aos ticuna ao propor uma coreografia na qual procura destacar a importância do conhecimento desses povos para a preservação da Amazônia. "É uma das tribos mais preservadas da região", explica. "Minha inspiração foi pensar como se essa tribo tivesse avançado no tempo. Os povos indígenas originários têm muito mais condições de preservar a natureza, os animais, os bichos do que nós. Quando perdermos os povos originários, rios e florestas vão desaparecer nos últimos vestígios da humanidade." O coreógrafo explica que não quis, de forma alguma, se apropriar da cultura ticuna e sim fazer uma homenagem. "A gente fez muita pesquisa e, levando em consideração que tenho um elenco que entende muito do assunto, 98% dos bailarinos são da região, então eles têm muita propriedade para representar o tema", avisa.

Boa parte da pesquisa se baseou em danças que envolvem os povos originários e danças folclóricas numa simbiose entre a cultura popular e a indígena. Para Nascimento, o espetáculo é uma homenagem e um alerta. "Temos que ser grandes, ter reflexões avançadas para essa proteção. E, nesse aspecto, a proteção dos povos originários é essencial porque eles entendem da floresta, têm conhecimento, sabem preservar", diz.

Em Rios voadores, a coreógrafa Rosa Antuña traz uma leitura lírica para os famosos rios de vapores de água que viajam da região amazônica para irrigar todo o sudeste brasileiro. O fenômeno gera chuvas vitais para o equilíbrio do meio ambiente, da agricultura e de ciclos de vida da flora e da fauna. Rosa viajou durante cinco dias em barcos que sobem e descem os rios da Amazônia para compreender o movimento das águas. "Rios voadores fala da preservação dos rios, nada mais que isso. Esses rios amazônicos, o Negro, o Solimões, o Madeira, para que não sofram agressões ambientais. O Sudeste depende dos rios voadores porque as chuvas percorrem caminho longo até chegar à região. Outras regiões do Brasil e do mundo dependem dessa preservação", lembra Nascimento.

Entrevista com Mario Nascimento

O estado do Amazonas tem corpos de baile, orquestras de jazz, clássica e de câmara, balé folclórico, além de festivais como o de ópera e o de Parintins. Qual o lugar do Corpo de Dança do Amazonas nesse cenário?

Temos ainda um festival de jazz, além do grande Teatro Amazonas, que é uma relíquia. As pessoas se surpreendem com isso. Hoje, o corpo de baile é o principal representante de difusão de tudo isso porque ele viaja. Temos muitas atividades na cidade, a companhia se apresenta muito e viaja muito. E tem um posicionamento político, social e cultural no Amazonas, tem como meta a difusão da cultura. As temáticas dos espetáculos são muito voltadas para questões ambientais e sociais, questões que envolvem a manutenção dos povos originários. Então a companhia tem difundido a cultura amazonense e tem levado à reflexão em relação a tudo que envolve a Amazônia.

O elenco é formado, principalmente, por bailarinos da própria região amazônica, nascidos e formados na região. Isso faz diferença para um corpo de baile?

O elenco é, basicamente, formado por bailarinos mestiços, vários com ascendência indígena, todos amazonenses. É uma companhia muito poderosa e peculiar por uma característica física, de como dançar, como se mexer. Porque no Amazonas dança-se muito por causa da influência dos bois de Parintins, então as pessoas dançam naturalmente. São bailarinos muito consistentes, muito aterrados e são muito fortes, têm muita personalidade e são politizados nas questões que os envolvem. Vários têm uma ótima formação clássica, mas isso não é um item fundamental. A dança contemporânea é esse lugar onde é permitido trazer mesmo bailarinos que não têm formação clássica, mas têm uma formação cultural muito forte. Alguns vêm do hip-hop, outros da dança folclórica. O mais importante é como o bailarino se insere dentro dessa companhia. O que tentei trazer para a companhia é ela ter uma cara, uma característica e essa característica é muito poderosa. E são bailarinos mantidos pelo estado, com salário, fisioterapeuta e psicólogos. Daí a importância da companhia, ela tem que retornar para a sociedade essa manutenção. É quase impossível manter hoje uma companhia sem apoio do poder público.

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postado em 25/02/2024 00:01 / atualizado em 25/02/2024 11:15
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