No início dos anos 2000 uma grande cena da música independente e alternativa ganhou força nos festivais pelo mundo. Os chamados indies se irradiaram pelo planeta. Atualmente, o indie é considerado até um gênero musical. Um dos grandes nomes desta geração é a banda britânica Kaiser Chiefs. O grupo chega ao oitavo trabalho de estúdio às vésperas da comemoração dos 20 anos de carreira com o disco Kaiser Chiefs’ Easy Eighth Album.
Criada em Leeds na Inglaterra, Kaiser Chiefs é formada por Ricky Wilson, Andrew White, Simon Rix, Nick Baines e Vijay Mistry. A banda estreou já com sucesso em 2005 com o disco Employment, que estourou os sucessos Oh My God, I predict a riot e Everyday I love you less and less. A estreia os rendeu três prêmios Brit, a maior honraria da música britânica. No disco seguinte, em 2007, emplacaram Ruby, maior sucesso da carreira, com mais de 300 milhões de reproduções se somadas às principais plataformas de streaming de música.
Em 2024, o grupo completa 19 anos e lança Kaiser Chiefs’ Easy Eighth Album. O disco é mais dançante e marca uma nova fase da carreira da banda em que a experiência é sinônimo de tranquilidade. “O álbum inteiro foi sobre se sentir bem, não se preocupar com o que os outros pensam. Se você gosta, então mergulhe nele. O disco tem a atmosfera de festa, quisemos escrever algo que as pessoas pudessem dançar”, conta Simon Rix, baixista do conjunto, em entrevista ao Correio.
O título Kaiser Chiefs’ Easy Eighth Album em tradução literal significa: “o oitavo álbum fácil Kaiser Chiefs” e a escolha de nome é fruto do tempo que estão na estrada. “Quando o primeiro álbum faz sucesso, o segundo é muito difícil porque tem que atender a expectativa, o terceiro também. Porém, quando você chega no oitavo álbum, tudo fica mais fácil”, reflete Rix.
Os músicos já não carregam o mesmo peso que antes. “Quando fazemos um álbum é estressante, trabalhamos duro, nos preocupamos com cada detalhe, ficamos na expectativa se as pessoas vão gostar. Ou seja, no processo você está sempre bravo e atarefado”, lembra o artista que agora pensa diferente. “Nos perguntamos: Por que não fazer um disco que gostamos e estamos felizes enquanto gravamos? Este trabalho foi feito com calma, devagar, quando tínhamos inspiração e sem forçar”, revela.
O peso ficou ainda mais leve quando uma figura histórica da música se associou ao projeto. Nile Rodgers tocou as guitarras e pensou os arranjos após dividir um evento com a banda britânica. “Assistir o Nile é sempre sobre ter um bom momento, assistir o Kaiser Chiefs é sobre se divertir”, analisa o baixista. O guitarrista deu um toque especial às novas faixas do grupo. “Esse álbum não é só a essência do Kaiser Chiefs. Tem um pouco de tudo, muitas coisas diferentes, vários estilos distintos, porque eu acho que é isso que você tem que ser feito na cena moderna”, classifica.
Para os integrantes, o disco tem a cara do lendário guitarrista fundador do grupo Chic. “Se você está trabalhando com o Nile Rodgers, então não tem sentido em fazer algo que não é especialidade dele”, acredita o músico. “Eu tenho certeza que ele poderia produzir uma música indie rock e seria bom, mas sentimos que deveríamos tentar encontrar algumas músicas que pudessem tirar o melhor dele para ele tirar o melhor de nós”, completa.
Dessa forma, o grupo fez um álbum que não necessariamente “a cara do Kaiser Chiefs”, mas aponta para o futuro. “Tentamos não nos preocupar muito com o passado, para lidar com o que está na nossa frente”, acredita Rix que analisa a trajetória que traçaram: “Quando começamos, o objetivo era vender CDs e tocar nas rádios, agora isso já é antiquado e precisamos estar nas playlists do streaming. Pensamos na novidade quando escrevemos música. Coisas como TikTok estão no nosso radar, mas não muito, só o suficiente para nos manter pensando no futuro”.
Portanto, uma banda que foi importante para o crescimento da cena indie não precisa mais se contentar com apenas um público. “Há um lado positivo na atualidade, todo mundo gosta de tudo e ouve de tudo. Quando começamos tinham bolhas como as pessoas que só ouviam metal, ou só indie, ou apenas pop. Hoje em dia, as pessoas podem ouvir Iron Maiden e Ariana Grande na mesma playlist”, reflete o artista, que enxerga o céu como o limite na nova realidade virtual da música. “Essa nova forma de consumir música nos permite sermos mais livres. Nós não precisamos mais nos adequar às caixas. Você pode seguir o flow”, diz.
Os integrantes agora se sentem leves para brilhar A chegada do oitavo álbum e dos 20 anos de carreira atesta uma maturidade para além da longevidade. A banda já não é mais tão ansiosa. “Não tem mais a tensão de agradar o público. Nós sabemos e não estamos preocupados, sabemos que tudo vai ficar bem, sabemos que vamos fazer um bom show, e sabemos que as pessoas vão conhecer as músicas e tudo mais. É uma sensação muito legal”, explica o baixista. “Nossa agenda não é mais abarrotada. Nós podemos passar três semanas na América do Sul e aproveitar, tomar um café, conhecer cidades e pessoas. Temos agora a tranquilidade de aproveitar o nosso show”, acrescenta.
Ao mesmo tempo, com a idade vêm junto novas percepções. Apesar da energia permanecer, a juventude que tinham no início dos anos 2000 já não é a realidade. “É engraçado, porque quando começamos, quando íamos para grandes festivais encontrávamos artistas como Bruce Springsteen ou Duran Duran, ou alguém mais velho que teve hits nos anos 1980. Agora, nós somos esses artistas que carregam esses sucessos ao longo dos anos”, brinca Simon Rix.
Brasil
Desde o início da carreira o Kaiser Chiefs visita o Brasil. A banda já tocou de forma solo, no gigante Lollapalooza e até de forma gratuita no Festival Cultura Inglesa. “É um dos nossos lugares favoritos do mundo para visitar”, conta o músico. No entanto, 2025 será o ano do grande reencontro com o amado público brasileiro. “Em 2025, faremos uma grande tour e, sem dúvida, o Brasil estará no roteiro”, crava.
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