Crítica

Fervura inconsequente: confira a crítica de Anora

Filme de Sean Baker, candidato ao Oscar, trata do complexo de Cinderela de uma prostitua metida a ingênua

Anora: excessos em cena
       -  (crédito: FilmNation Entertainment  )
Anora: excessos em cena - (crédito: FilmNation Entertainment )

Crítica // Anora ★★

Ainda que a festividade da Disney apareça como alvo do desejo dos protagonistas do mais novo filme de Sean Baker, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes, há uma ressaca, inevitável, em curso. Jovens de 21 e 23 anos, respectivamente, Ivan (Mark Eydelshteyn) e Ani (Mikey Madison) se refestelam na cama, numa realidade em que o sexo está à venda, e na qual descobre-se que o amor não pode nunca ser negociado. Sem ser grande novidade para Ani, sexualizada até a última raiz de cabelo, o desamor acusa o potencial de uma sociedade nada paternalista e muito patriarcal.

Num filme em que quarentões são dados como caso "geriátrico", o diretor tem como meta celebrar o novo e o opulento. Tudo reluz e grita, no cotidiano de uma prostituta mimada. Saída de um inferninho novaiorquino, Ani vive uma realidade paralela à dela. Anda com altos tipos bem esquisitões, e, aos poucos, se sentirá parte "da família" de Ivan, rendida a uma felicidade oca e ilusória, e alimentada por dólares.

Inflada e anárquica, a fita bebe dos filmes de John Cassavetes — mas apenas nos termos de ser gritada e exacerbada. Quando Ani conquista terreno na mansão de Ivan, ela diz gostar do cafofo, enquanto o casal segue agindo como crianças. Uma certidão de casamento (genuinamente gerada em Las Vegas) vai gerar a injeção de um humor enamorado ao de Borat.

Tapas, socos, fugas e pessoas amarradas geram a ponta de comicidade aos moldes de Almodóvar, quando da fase inicial, com o estilo Ata-me. Confusões e lubricidade atingem o clímax exaustivo, depois da entrada de Toros, um (fake) padre armênio interpretado por Karren Karagulian, ator dos filmes de Baker, desde Uma estranha amizade (2012). Algo inusitado no desfecho, de leve, o longa ainda trata, de leve, da geração "ética zero", criada no Insta. Anora é uma leve paulada.

 

Ricardo Daehn
postado em 24/01/2025 17:37 / atualizado em 24/01/2025 17:44
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